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Saída é "não fazer nada", diz Arida
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Ponha a culpa [pela crise] no
Fernando Henrique." De forma
anedótica, seria esse o conselho
que Pérsio Arida daria ao presidente a ser eleito em outubro.
Avesso a entrevistas, o economista expôs uma análise do quadro brasileiro em encontro com
pesquisadores e estudantes no
Cebrap (Centro Brasileiro de
Análise e Planejamento), sexta.
Entre os fundadores da instituição, em 1969, estava o presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Ex-presidente do Banco Central
e do BNDES, para muitos o verdadeiro pai do real, Arida argumenta que o "melhor a fazer nessa crise é não fazer nada". O "não fazer
nada" significa, em suas próprias
palavras, não elevar as taxas de juros ou no mínimo mantê-las em
harmonia com as metas de inflação, não promover alterações no
regime de câmbio (e rechaçar
qualquer tentativa de bloqueio a
saídas de dólares) e dar continuidade à política de superávits primários elevados -todos elementos presentes na atual gestão.
"Minha dúvida é se terá ele [o
presidente eleito] lucidez para fugir da tradição brasileira de promover mudanças, grandes choques", disse Arida.
Durante a palestra, atribuiu a
repulsa do mercado externo ao
país a um "movimento de expectativas". "É uma bolha especulativa que temos condições de desarmar", disse. "Mas uma definição
clara virá só a partir de outubro."
De acordo ele, foram duas as situações que o país teve de enfrentar nos últimos meses: primeiro a
percepção de que a derrocada da
Argentina teve consequências
muito mais graves do que se avaliava. "A Argentina pôs fim às referências. Quem tinha qualquer
comprometimento perdeu cinco,
seis vezes mais do que esperava.
Depois disso e dos escândalos
contábeis nos EUA, todos cortaram crédito, os bancos comerciais, seguindo o conselho dos
bancos centrais de seus países."
Outro ponto importante foi o
aparente fracasso da estratégia do
mercado de "satanizar" Lula.
"Como o Serra não decolou, essa
estratégia, em vez de melhorar o
cenário, fez com que piorasse."
Em situação de crise de crédito,
o governo teve de recorrer ao chamado "emprestador de última
instância", o FMI. O problema,
avaliou o economista, é que o
Fundo ainda atua nos mesmos
moldes em que foi concebido, nos
anos 40. "Imagine se um banco
estivesse em dificuldades e recorresse ao BC. Em vez de socorrer o
banco em sigilo, para não provocar uma corrida, se o BC desse um
pouco de dinheiro e informasse
publicamente que daria o resto
depois, a depender de seu critério,
a corrida ao banco só aumentaria.
É o que FMI faz", comparou.
Na avaliação do ex-presidente
do BC, não teria serventia o governo promover um aumento da
taxa de juros neste momento. "A
subida do dólar nada tem a ver
com os juros. Essa receita só funciona em regime de câmbio fixo.".
Tampouco implantar controle de
câmbio. "Se bloquear a saída, não
vai ter entrada. Ninguém colocará
dinheiro em país que fizer isso."
Arida considera que, mantida a
premissa do regime de câmbio
flutuante, o sistema vai se "auto-equilibrar". "Com a restrição de
crédito, algumas empresas podem saldar compromissos, outras
não. Mas não se pode dizer que o
Brasil, de forma genérica, esteja
insolvente", argumentou Arida.
O economista relativizou o problema da dívida pública (interna e
externa), que representava, em
junho, 58,6% do PIB. No caso da
dívida interna, avaliou que a situação só seria insustentável se o
tamanho da dívida exigisse um
superávit fiscal de tal magnitude
que se tornasse impossível de ser
implantado, tamanho o repúdio
que encontraria na população.
"A pergunta é: quando isso
aconteceu? Só nas situações de reparação da Primeira Guerra. O
único caso, exceto esse, é a Argentina, mas porque o câmbio fixo
criou a situação. Não consigo
imaginar que haja um problema
de dívida interna nem no Brasil
nem no México. É um fato que
tem sido exagerado", disse.
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