São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Segurança de dados do pré-sal é questionada

Associação dos Engenheiros da Petrobras indaga Ministério Público sobre contrato de gerenciamento de informações do petróleo

Banco de dados que reúne informações sobre atividades de pesquisa e exploração é gerenciado por braço da Halliburton


ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO

A Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobras) acionou o Ministério Público Federal para questionar um contrato firmado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) com a empresa norte-americana Halliburton -que já foi presidida pelo vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, e é alvo mundial de protestos por conta de obras bilionárias no Iraque.
A Landmark Digital and Consulting Solutions, subsidiária da Halliburton no Brasil, é responsável pelo gerenciamento do Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP) da ANP desde 2001.
Em dezembro de 2005, a diretoria da agência aprovou a renovação do contrato, sem licitação. Em nota, a ANP informou que o sistema de gerenciamento de dados da Halliburton já era utilizado pela Petrobras quando foi transferido para a agência, em 2000.
O BDEP é o principal banco de dados sobre as atividades de pesquisa e exploração de petróleo no país. Reúne todas as informações coletadas pela Petrobras e por empresas privadas em bacias, campos e poços.
Esse acervo ficou ainda mais valioso depois da descoberta do campo de Tupi, anunciado em novembro do ano passado e que descortinou um imenso potencial de exploração na costa brasileira. Só para Tupi, são estimadas reservas de até 8 bilhões de barris.
No BDEP, ficam armazenados os dados de sísmica (que indicam o caminho para a perfuração e a localização dos reservatórios de petróleo) e as informações relativas aos métodos usados nas pesquisas.
As empresas são obrigadas a enviar esses dados à ANP. Muitas dessas informações são sigilosas -a divulgação só é permitida após determinado prazo, que pode chegar a cinco anos, dependendo da informação.
"Sempre questionamos esse contrato, mas agora, com a descoberta do pré-sal, o acesso aos levantamentos feitos pela Petrobras passa a ser uma questão crucial. É resultado de 30 anos de pesquisas. E não sei se essa informação está segura sendo administrada pela Halliburton", diz Fernando Siqueira, diretor da Aepet.

Quebra de monopólio
A guarda das informações sobre exploração de petróleo pela ANP foi determinada pela lei 9.748, de 1997, que quebrou o monopólio da Petrobras e abriu o mercado para atuação de empresas privadas.
Em 2000, a ANP criou o BDEP, que armazena dados "pesados", como os obtidos por levantamentos sísmicos. São informações que exigem grande capacidade de processamento e armazenamento. Por isso, o centro de processamento de dados do BDEP funciona ininterruptamente na sede do Serviço Geológico Brasileiro, no Rio de Janeiro.
O gerenciamento dos dados é feito por meio de um sistema chamado "petrobank", que foi desenvolvido pela IBM e depois comprado pela empresa PGS Data Management.
Originalmente, o contrato da ANP foi firmado com a PGS. Mas, em 2001, a empresa norueguesa foi comprada pela Halliburton -que herdou o banco de dados da ANP.
Técnicos familiarizados com o setor afirmam que só há dois fornecedores mundiais para esse tipo de gerenciamento: além da Halliburton, a francesa Schlumberger.
"Há um esforço interno para promover a migração de soluções tecnológicas de modo a permitir que haja, no futuro, uma licitação para esse serviço. Ainda que seja uma competição restrita", diz Douglas Pedra Pereira, presidente da Associação dos Servidores da ANP.
Segundo ele, a direção da ANP deveria "responder de forma mais direta" ao questionamento da associação dos engenheiros da Petrobras: "A crítica da Aepet está marcada pela questão ideológica. Eles são contra a abertura do mercado. E há um esforço da agência para remover os entraves que amarram o banco de dados à Halliburton".
Já o diretor da Aepet afirma que não se trata de uma questão "ideológica", mas sim de segurança de informações estratégicas: "O diretor da ANP hoje responsável pelo banco de dados é um ex-diretor da própria Halliburton [Nélson Narciso, nomeado em 2006]. Quem conhece a maneira como as empresas americanas de petróleo atuam no mundo tem direito à desconfiança", diz Siqueira.


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Grupo é alvo de investigação nos EUA
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.