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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
AL volta a ser pólo de frustrações econômicas
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
Até poucas semanas
atrás falava-se na capacidade brasileira de escapar ao
"contágio" da crise argentina.
Agora está claro que o Brasil não
escapa, diante dos investidores
internacionais, de uma ampla
frustração com toda a região. A
falta de resultados na cúpula entre União Européia e América
Latina, que terminou ontem em
Madri, é um dos principais sintomas desse novo ciclo de pessimismo.
Não se trata apenas da velha
desconfiança diante dos sistemas políticos latino-americanos. O fato é que a natureza dos
riscos econômicos é a mesma
em toda a região, onde houve a
adoção generalizada de modelos econômicos dependentes
demais da liquidez nos mercados financeiros internacionais.
O contraste entre América Latina e Ásia volta a ser radical.
Um dos exemplos mais contundentes é o setor de telecomunicações. Na semana passada, foi
anunciado o cancelamento do
evento Telecom Americas 2003,
que aconteceria na Argentina,
em fevereiro de 2003, promovido pela UIT (União Internacional de Telecomunicações).
A entidade procura um país
que se candidate a hospedar o
evento em 2004 ou 2005. Mas já
em 2003 acontecerá uma cúpula
mundial sobre sociedade da informação, promovida também
pela UIT. A América Latina corre o risco de se preparar mal para mais uma instância decisiva
de negociação global.
O problema não é apenas político ou macroeconômico. Parte
significativa da privatização do
setor de telecomunicações na
América Latina teve como protagonistas empresas de Portugal
e principalmente da Espanha.
Os prejuízos dessas empresas
têm sido significativos.
A Telefónica anunciou na semana passada uma queda de
72% nos lucros no primeiro trimestre de 2002. Só a desvalorização cambial argentina gerou
perda de US$ 1 bilhão para a empresa, cujas ações já perderam
18% do seu valor neste ano. Resultado prático para a América
Latina: corte de 64% nos investimentos da Telefónica na região.
Na Ásia, o evento regional da
UIT está confirmado e acontece
em dezembro deste ano, em
Hong Kong (China), com previsão de 50 mil participantes.
A agricultura é outro setor em
que as perspectivas tornaram-se
sombrias. Há três semanas os
EUA declararam uma autêntica
guerra econômica ao resto do
mundo, adotando uma nova lei
de subsídios agrícolas. O cenário
nesse setor crucial para o desempenho das exportações brasileiras está piorando rapidamente.
O protecionismo norte-americano tende a estimular mais
protecionismo europeu. Na prática, países como o Brasil, que
dependem fortemente das suas
exportações agrícolas, tendem a
ficar numa sinuca, com excesso
de oferta de mercadorias. O resultado inevitável é a queda nos
preços desses produtos.
Telecom e agricultura desenham um garrote econômico.
De um lado, a alta tecnologia, de
outro, produtos tradicionais. Na
alta tecnologia, as perspectivas
de substituição de importações
dependem de mais investimentos estrangeiros, que estão sendo cortados. Na pauta exportadora tradicional, os preços tendem a cair, dificultando a geração de divisas e pressionando a
taxa de câmbio e a inflação.
Nesse contexto de asfixia econômica estrutural, ter escapado
ao "contágio" argentino não parece muito reconfortante. As
opções para o próximo presidente brasileiro são bastante limitadas. Aliás, a continuar esse
jogo bruto na cena mundial, pode afinal fazer pouca diferença o
resultado da atual campanha
eleitoral.
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