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ÁLCOOL E GASOLINA
Perspectiva de alta crescente do preço do petróleo traz de volta debate sobre o uso de etanol em automóveis
Alta do óleo anima planos de carro "misto"
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A instabilidade do preço do barril de petróleo, causada pelos problemas políticos no Oriente Médio, e as perspectivas de que as reservas mundiais do óleo acabem
por volta de 2050 estão provocando no Brasil uma discussão sobre
a retomada de um programa amplo de produção de álcool.
Desta vez, em vez de tabelamento de preços do álcool, como
ocorreu no finado Proálcool, governo federal, montadoras e usineiros estão negociando a possibilidade de o país iniciar a montagem de automóveis com motores
flexíveis -aqueles que funcionam com gasolina e álcool, misturados ou não e em quaisquer proporções.
As indústrias Bosch e Magneti
Marelli (do grupo Fiat), especializadas no desenvolvimento de novas tecnologias, já têm protótipos
desses carros em seus centros de
estudos.
No início de maio, a Ford também apresentou sua versão do
novo Fiesta com motor flexível
(ou flex fuel), com tecnologia própria. No entanto, a montadora
afirma que o protótipo é apenas
uma demonstração de sua capacidade de fazer no Brasil veículos de
alta tecnologia que utilizam combustíveis renováveis.
A General Motors, a Volkswagen e a Fiat são outras montadoras aptas a fabricar os carros flexíveis por aqui.
Está em jogo nessa história toda, no entanto, o lobby das montadoras de tentar conseguir do governo alguns incentivos fiscais
para o carro flexível e garantias de
seu abastecimento.
O Palácio do Planalto, por sua
vez, tem interesses no veículo para controlar a inflação e não deixar a economia ficar tão vulnerável às oscilações do petróleo.
IPI mais baixo
Encontros para discutir a viabilidade do automóvel flexível têm
sido realizados por representantes dos ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de Minas e Energia, a ANP (Agência
Nacional do Petróleo) e o BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) nos
últimos meses. Uma nova reunião irá ocorrer nesta semana.
A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores) tem sido sondada
pelo governo sobre o assunto,
mas vem fazendo duas reivindicações básicas para que as montadoras dêem início à produção do
automóvel.
A principal é um IPI (Imposto
sobre Produtos Industrializados)
mais baixo para os carros flexíveis. "Se o governo garantir que a
alíquota será igual à do automóvel
a álcool, ou seja, de 20%, contra os
25% cobrados para o carro a gasolina, estaremos bastante satisfeitos", afirma Henri Joseph, presidente da comissão de energia e
meio ambiente da Anfavea.
Outra reivindicação das montadoras é a garantia de que o preço
do álcool será sempre mais baixo
que o da gasolina.
Isso para que o consumidor seja
atraído a comprar um automóvel
flexível e não dê preferência ao
motor a gasolina, como ocorre
atualmente.
Representantes do governo não
vêem com simpatia incentivos fiscais, ainda mais num momento
em que o Palácio do Planalto determinou corte de despesas e procura elevar a arrecadação de impostos a fim de enfrentar a alta da
inflação.
O IPI mais baixo poderia gerar
uma corrida dos tradicionais
compradores de automóveis a gasolina para os veículos flexíveis.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
Sergio Amaral, afirma, no entanto, ser bastante favorável a um
instrumento que garanta que o álcool seja sempre bem mais barato
que a gasolina.
O instrumento seria o imposto
sobre combustíveis -a Cide
(Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico)-,
que incide apenas sobre a gasolina. O álcool hidratado, vendido
hoje nos postos, não é tributado.
Com a entrada do veículo flexível, toda vez que o preço do álcool
se aproximasse do valor da gasolina, o governo elevaria a Cide, que
atualmente é de R$ 29,20 por m3, a
fim de encarecer o combustível
proveniente do petróleo.
Se o álcool ficasse muito barato,
o valor da Cide poderia ser diminuído para estimular o consumo
de gasolina e evitar o desabastecimento do mercado.
Usineiros
Os usineiros acompanham as
negociações sobre o automóvel
flexível com a maior atenção. Afinal, o Brasil produz hoje 11,5 bilhões de litros de álcool por ano,
quando sua capacidade é de 16,5
bilhões de litros.
"Temos um parque industrial
ocioso que poderia produzir mais
5 bilhões de litros", afirma Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo).
Para Carvalho, o Brasil tem a
vantagem de ser o maior produtor de combustível renovável do
mundo. Deve retomar o programa de produção de álcool por razões até mesmo estratégicas.
"Os Estados Unidos já têm o automóvel flexível e se mobilizam
para consumir mais álcool e evitar problemas com a queda das
reservas de petróleo", diz o representante dos usineiros paulistas.
Atualmente, 6 bilhões de litros
anuais de álcool de milho são consumidos por automóveis nos
EUA, pouco mais de 1% dos 500
bilhões de litros de gasolina.
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