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Lula avalia novas medidas contra inflação
Governo convoca reunião extraordinária para discutir propostas; aperto fiscal pode ser elevado para até 4,8% do PIB
Para evitar que o IPCA deste ano ultrapasse o teto de 6,5% da meta, Planalto volta a discutir restrições
à expansão do crédito
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende discutir
com a equipe econômica e conselheiros informais medidas de
controle do gasto público e de
restrição à expansão do crédito
para tentar evitar que a inflação
deste ano ultrapasse o teto da
meta oficial do governo.
Foi convocada para hoje uma
reunião extraordinária sobre o
tema. O ministro José Múcio
(Relações Institucionais) chegou a cancelar reunião hoje do
conselho político para a realização desse encontro de Lula
com a equipe econômica e conselheiros informais.
Lula quer ouvir sugestões do
que pode ser feito, além do aumento de juros, para conter a
inflação. Para Lula, é importante, do ponto de vista político e
econômico, respeitar a meta de
inflação. Do contrário, ele sinalizaria interna e externamente
a chance de um cenário de descontrole de preços a dois anos
do final de seu mandato.
No atual modelo, a meta de
inflação é de 4,5%, mas há uma
margem de dois pontos percentuais para cima ou para baixo a
fim de acomodar imprevistos.
No ritmo atual de inflação, há o
risco de a inflação superar o teto da meta, de 6,5% neste ano, o
que Lula quer evitar.
Nas palavras de um ministro,
"caiu a ficha" do presidente de
que a inflação poderá ser seu
pior inimigo no final de governo. Daí Lula ter se convencido
de que precisa adotar medidas
duras e cumprir a meta no olho
mecânico. Em reuniões com
economistas, Lula tem dito que
não vai medir esforços para evitar o descontrole inflacionário.
Lula já elevou a meta de superávit primário de 3,8% para
4,3%. Ele já autorizou a equipe
econômica a perseguir superávit acima de 4,5% do PIB. No
governo, há defensores de elevação ainda maior do superávit
-economia do setor público
para pagar os juros da dívida.
A idéia é o governo promover
um aperto fiscal maior para fazer com que o consumo cresça
no mesmo ritmo da atividade
econômica. Enquanto o PIB
cresce a uma velocidade de 5%,
o consumo está na faixa de 6%.
Para equilibrar essa conta, o governo cogita a possibilidade de
elevar em um ponto percentual
do PIB o superávit primário
-de 3,8% para 4,8%.
Elevar o superávit significa
maior esforço fiscal, o que ajudaria o Banco Central a não pesar tanto a mão na política monetária. Ou seja, a elevar menos
os juros. Menos juros significa
menor custo fiscal para rolar a
dívida pública e menos efeito
sobre a atividade privada.
Daí Lula admitir agora frear
os gastos públicos, que cresceram no segundo mandato na
comparação com seu primeiro
período presidencial. Se for necessário, um interlocutor freqüente de Lula diz que ele aceita até discutir a possibilidade
de promover algum adiamento
de obras do PAC.
Lula, por exemplo, havia decidido dar 10% de reajuste para
o programa Bolsa Família, mas
o ministro da Fazenda, Guido
Mantega, insiste numa correção menor sob o argumento de
não contribuir para acelerar a
dinâmica da inflação. De acordo com auxiliares, a tendência
de Lula ainda é a de conceder
um reajuste maior, mas a pressão para combater a inflação teria "balançado" o presidente.
Outra grande preocupação
do governo diz respeito ao crescimento do crédito, que continua se expandindo a um ritmo
muito elevado, acima de 20%
ao ano. O Banco Central estuda
algumas medidas para tentar
baixar essa euforia no crédito.
Lula pretende discutir as medidas com os ministros Mantega, Dilma Rousseff (Casa Civil)
e Paulo Bernardo (Planejamento). Os presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles, e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, também são chamados.
Na qualidade de conselheiros
informais, participam os economistas Luiz Gonzaga Belluzzo e Delfim Netto e o senador
Aloizio Mercadante (PT-SP).
Em viagem ao exterior, Meirelles poderá não participar.
Em entrevista à Folha, publicada na última segunda-feira, Belluzzo defendeu freio nos
gastos públicos e restrição à expansão do crédito. Dois meses
atrás, Mantega propôs restrições ao crédito que foram rechaçadas pelo presidente Lula
na ocasião. Agora, há clima para que voltem a ser cogitadas,
avalia um ministro.
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