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CONTAS EXTERNAS
Vencimento de dívida e crescimento devem pressionar o dólar
Expansão de 3% em 2004 custará US$ 3 bi às reservas
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Voltar a crescer vai custar caro
ao país em 2004. Uma expansão
estimada de 3% do PIB (Produto
Interno Bruto) e a alta concentração de vencimentos de dívida pública e privada, cujo volume será
50% maior do que em 2003, pressionarão o dólar e deixarão um
buraco de US$ 3,1 bilhões nas
contas externas, que será coberto
por reservas internacionais.
A estimativa foi divulgada no
"Monitor Cambial", publicação
nova da Tendências. Segundo o
economista Nathan Blanche, sócio da consultoria, a concretização desse cenário dependerá da
confirmação de suas projeções.
Ele espera que todos os fluxos
de recursos para o país -como
aplicações em ações, empréstimos e investimentos diretos-
somem US$ 42,7 bilhões. Esse
montante não deverá ser suficiente para compensar a necessidade
de financiamento do país, que pode chegar a US$ 45,8 bilhões, se a
economia crescer 3%.
A diferença de US$ 3,1 bilhões,
necessária para que o balanço de
pagamentos feche, terá de sair das
reservas internacionais, hoje em
US$ 19 bilhões em termos líquidos (sem considerar os recursos
do FMI). Segundo Paulo Cintra,
analista da consultoria Global Invest, isso reforça a necessidade de
um novo acordo do país com o
Fundo Monetário Internacional.
Vencimentos
Parte do buraco nas contas brasileiras será cavado pela alta concentração de vencimentos de dívidas externas feitas por empresas
e, principalmente, por bancos.
As empresas terão um montante de US$ 35 bilhões de empréstimos vencendo em 2004, 59% a
mais que em 2003, segundo a Global Invest. Se esses empréstimos
fossem renovados, não haveria
pressão sobre as contas externas.
Mas esse não é o cenário mais
provável. Em 2004, a Tendências
Consultoria prevê que as rolagens
cheguem a 85% do total.
Isso porque boa parte das linhas
de curto prazo foram tomadas
por bancos no primeiro semestre
de 2003 enquanto era atrativo pegar recursos a taxas mais baixas lá
fora e lucrar alto aplicando no
chamado cupom cambial aqui.
O cupom cambial é uma projeção da taxa de juros interna em
dólar e se manteve elevado enquanto o risco-país esteve alto e a
moeda brasileira desvalorizada.
Já não é mais o caso. O cupom
de um ano que oscilava em torno
de 20% no início de 2003 caiu para
cerca de 2,5% agora.
Segundo José Guilherme Lembi, diretor-executivo do Bradesco,
se o cupom continuar tão baixo, a
tendência é que os bancos liquidem essas operações. "E isso poderá pressionar o mercado de
câmbio", disse ele.
Para Lembi, essa tendência deverá começar já em dezembro
deste ano, quando vencem US$
2,7 bilhões, dos quais US$ 2,3 bilhões foram captados por bancos.
Às dívidas maiores do setor privado, se somará um montante
também maior de vencimentos
do setor público: US$ 6,8 bilhões
de amortizações, em 2004, contra
US$ 5 bilhões neste ano.
Se, por um lado, a necessidade
de financiamento do país será significativamente maior no próximo ano, o saldo da balança comercial -pilar do atual superávit
nas contas do país com o exterior- deverá ser mais magro.
Segundo estimativa da Tendências, o resultado de exportações
menos importações deverá cair
19%, de US$ 22 bilhões, em 2003,
para US$ 17,8 bilhões, em 2004.
Essa redução será consequência
do impulso que a recuperação da
economia brasileira dará ao nível
de emprego, à renda e, consequentemente, às compras de bens
do exterior. Saldo menor é sinônimo de menos recursos para financiar as contas externas do país.
Segundo Blanche, isso mostra
que a alta dependência do país em
relação ao capital externo ainda é
um dos maiores limites ao crescimento econômico: "O Brasil não
tem poupança interna para sustentar um crescimento econômico alto. Se crescer acima de 3%, o
dólar é pressionado e o país terá
problemas para financiar sua
conta de transações correntes".
Colaborou Sandra Balbi,
da Reportagem Local
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