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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Nova crise asiática vai contagiar o Ocidente
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
O fim do maior ciclo de euforia financeira do século
20 começou em maio de 1997,
com a "crise asiática" que irrompeu na Tailândia. Veio para
primeiro plano o debate sobre o
"risco sistêmico" e a dinâmica
de "contágio" entre mercados
globalizados. Seis anos depois, o
sistema global está em pedaços,
a atividade econômica perde fôlego em todos os países industrializados e a Ásia volta a preocupar. Desta vez, teme-se um
contágio no sentido literal: a dispersão do vírus da Sars (sigla em
inglês para a Síndrome Respiratória Aguda Grave), conhecida
como "pneumonia asiática".
Está aberta a temporada de
cálculos dos custos econômicos
do vírus. A revista "Far Eastern
Economic Review" acaba de publicar uma sondagem. Por baixo
e de modo grosseiro, o impacto
já seria da ordem de US$ 10,6 bilhões.
Outros especialistas antecipam até US$ 50 bilhões de prejuízo na região e US$ 150 bilhões
em escala global. A Organização
Mundial da Saúde calcula em
US$ 30 bilhões o custo até agora.
A profundidade dessa destruição de riqueza e renda, no entanto, é mais difícil de estimar.
Uma coisa é a queda na taxa de
ocupação de hotéis, restaurantes ou companhias aéreas em
2003. Bem pior é a quebra de
empresas, que torna a recuperação mais difícil e gera impactos
maiores em bancos e outras instituições financeiras.
A doença afeta a demanda e a
oferta, ao mesmo tempo provoca quedas vertiginosas no turismo asiático e leva a uma redução no consumo, mas também
pode afetar as linhas de produção industrial. Os impactos sobre as contas públicas também
crescem rapidamente. Em vários países afetados os governos
já anunciaram pacotes de gastos
para proteger micro e pequenos
empresários em setores como
turismo, alimentação e comércio. Os custos no sistema de saúde também aumentam.
O contágio econômico da Sars
tende a ser muito mais virulento
que o custo em vidas da doença
propriamente dita (obviamente
o valor de uma vida é incalculável). O problema mais grave, no
entanto, é que até agora ninguém sabe até que ponto irá a
contagem de mortos: a gripe de
1918 matou 40 milhões de pessoas em todo o mundo.
O contágio global da Sars não
é apenas de natureza econômica. Há problemas no modelo de
saúde e pesquisa em medicina
em todo o mundo. Assim como
há um complexo industrial-militar, houve uma expansão global do complexo médico-industrial, pautado principalmente
pelo combate a males como o
câncer e as doenças cardíacas.
A negligência, combinada à
piora nas condições econômicas
globais, tornou as doenças infecciosas mais ameaçadoras,
tanto as novas como as antigas,
que ampliaram o seu impacto.
Cerca de 30 novas infecções foram identificadas nos últimos
20 anos enquanto se expandiram pragas que se imaginava
derrotadas, como cólera, difteria, febre amarela, dengue e tuberculose.
Os impactos financeiros também já chegaram aos mercados
cambiais. Há uma nova desconfiança no regime de câmbio fixo
de Hong Kong que eleva o risco
de crédito de empresas e governos da região, um dos enclaves
capitalistas asiáticos mais afetados pela Sars. Economistas avaliam em 20% a desvalorização
necessária para acomodar a piora nas expectativas.
No cenário mais catastrófico,
teria início um novo ciclo de
desvalorizações cambiais na
Ásia, tornando ainda mais precárias as perspectivas de reativação econômica nas economias
industrializadas ocidentais
(EUA e União Européia).
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