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Nova tele terá forte presença do governo
Se concretizado o negócio, acordo de acionistas prevê poderes para fundos de pensão de estatais e BNDES nas decisões da empresa
Disputa em torno de preço e da composição acionária gerou racha entre o banco
e fundos de pensão durante a negociação do acordo
DA SUCURSAL DO RIO
O empréstimo de R$ 4,3 bilhões concedido pelo Banco do
Brasil à Oi, a ser usado na compra da Brasil Telecom (estimada em R$ 13 bilhões), reforçou
uma preocupação que hoje toma conta das outras operadoras: o papel que o governo exercerá na nova tele nacional.
Caso a venda da BrT para a Oi
seja efetivada, o controle será
constituído pela Andrade Gutierrez Telecom (do empresário Sérgio Andrade), pelo grupo
La Fonte (do empresário Carlos Jereissati) e pelo fundo de
pensão dos funcionários da Oi.
Juntos, terão 50,1%, contra
49,9% dos fundos de pensão de
estatais e do BNDES.
Mas o acordo de acionistas
prevê que muitas decisões da
nova empresa terão que ser
aprovadas por 66%, 70% e até
84% do capital votante. Ou seja,
será necessário ter um apoio
permanente do setor público.
Essa engenharia, amarrada
no acordo de acionistas, foi
uma das inúmeras batalhas travadas em torno da empresa
-uma negociação em ritmo
frenético até 25 de abril, quando o acordo foi assinado na sede
carioca da AG Telecom.
Embora as discussões se arrastem há anos, somente no final do ano passado as conversas avançaram. O economista
Luciano Coutinho, presidente
do BNDES, teve papel fundamental: articular interesses
conflitantes. Apesar de estar
subordinado ao Ministério do
Desenvolvimento e tratar de
um tema relativo ao das Comunicações, Coutinho se reportou
apenas à ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil.
O técnico recrutado para
"desenhar" a operação foi um
jovem considerado dos mais talentosos do BNDES: Luciano
Siani Pires (que, dias antes do
anúncio da compra da BrT pela
Oi, assumiu uma cadeira na diretoria da Vale).
A estratégia adotada foi a de
eliminar obstáculos em uma
escala de dificuldade crescente.
Pela ordem: o preço a ser pago
pela Brasil Telecom, a composição acionária da nova empresa e a remoção do emaranhado
de processos movidos por -e
contra- Daniel Dantas.
Formaram-se diversas mesas de negociação no início de
janeiro. A principal delas reunia Coutinho, Otávio Azevedo,
presidente da AG Telecom, Jereissati e os presidentes dos
fundos de pensão.
A primeira proposta apresentada por Luciano Coutinho
foi mal recebida. Os fundos a
consideraram muito favorável
para AG Telecom e La Fonte. O
maior problema: o preço. Demorou-se a superar a barreira
dos R$ 5 bilhões (fechou-se a
R$ 5,8 bilhões).
A desenvoltura inicial de
Azevedo na coordenação dos
trabalhos também causou desconforto. Além disso, havia a
composição acionária. O
BNDES teve que ceder aos fundos: tinha 25% da Oi; terá 16,8%
da nova empresa de telefonia.
Essas duas primeiras etapas
ocorreram entre janeiro e março. As reuniões eram diárias,
principalmente em três dos
principais escritórios de advocacia do Rio: Leoni Siqueira;
Bocater, Camargo e Costa e Silva; e Sérgio Esquenazi.
Pelo lado do Opportunity, estavam Arthur Joaquim de Carvalho, Danielle Silbergleid e
Verônica Dantas (os três foram
presos na Operação Satiagraha
da Polícia Federal).
Apesar de central, Daniel
Dantas foi um protagonista
oculto. Não participou das reuniões. Raras vezes esteve frente
a frente com os adversários.
Em uma delas, ainda em meados do ano passado, pediu um
encontro com o presidente da
Previ, Sérgio Rosa.
A dinâmica também variou
de acordo com o grupo em
questão. A GP Investimentos,
minoritária na Oi, negociou à
parte, diretamente com Azevedo e Jereissati. O carioca Fersen Lambranho, um dos comandantes da GP, pouco foi ao
Rio. Enviou advogados.
Nas duas semanas que antecederam o acordo, as reuniões
-sempre marcadas por tensão
e desconfiança- vararam madrugadas. Alguns advogados
chegaram a ficar 72 horas sem
dormir.
(ROBERTO MACHADO)
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