São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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Nova tele terá forte presença do governo

Se concretizado o negócio, acordo de acionistas prevê poderes para fundos de pensão de estatais e BNDES nas decisões da empresa

Disputa em torno de preço e da composição acionária gerou racha entre o banco e fundos de pensão durante a negociação do acordo


DA SUCURSAL DO RIO

O empréstimo de R$ 4,3 bilhões concedido pelo Banco do Brasil à Oi, a ser usado na compra da Brasil Telecom (estimada em R$ 13 bilhões), reforçou uma preocupação que hoje toma conta das outras operadoras: o papel que o governo exercerá na nova tele nacional.
Caso a venda da BrT para a Oi seja efetivada, o controle será constituído pela Andrade Gutierrez Telecom (do empresário Sérgio Andrade), pelo grupo La Fonte (do empresário Carlos Jereissati) e pelo fundo de pensão dos funcionários da Oi.
Juntos, terão 50,1%, contra 49,9% dos fundos de pensão de estatais e do BNDES.
Mas o acordo de acionistas prevê que muitas decisões da nova empresa terão que ser aprovadas por 66%, 70% e até 84% do capital votante. Ou seja, será necessário ter um apoio permanente do setor público.
Essa engenharia, amarrada no acordo de acionistas, foi uma das inúmeras batalhas travadas em torno da empresa -uma negociação em ritmo frenético até 25 de abril, quando o acordo foi assinado na sede carioca da AG Telecom.
Embora as discussões se arrastem há anos, somente no final do ano passado as conversas avançaram. O economista Luciano Coutinho, presidente do BNDES, teve papel fundamental: articular interesses conflitantes. Apesar de estar subordinado ao Ministério do Desenvolvimento e tratar de um tema relativo ao das Comunicações, Coutinho se reportou apenas à ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil.
O técnico recrutado para "desenhar" a operação foi um jovem considerado dos mais talentosos do BNDES: Luciano Siani Pires (que, dias antes do anúncio da compra da BrT pela Oi, assumiu uma cadeira na diretoria da Vale).
A estratégia adotada foi a de eliminar obstáculos em uma escala de dificuldade crescente. Pela ordem: o preço a ser pago pela Brasil Telecom, a composição acionária da nova empresa e a remoção do emaranhado de processos movidos por -e contra- Daniel Dantas.
Formaram-se diversas mesas de negociação no início de janeiro. A principal delas reunia Coutinho, Otávio Azevedo, presidente da AG Telecom, Jereissati e os presidentes dos fundos de pensão.
A primeira proposta apresentada por Luciano Coutinho foi mal recebida. Os fundos a consideraram muito favorável para AG Telecom e La Fonte. O maior problema: o preço. Demorou-se a superar a barreira dos R$ 5 bilhões (fechou-se a R$ 5,8 bilhões).
A desenvoltura inicial de Azevedo na coordenação dos trabalhos também causou desconforto. Além disso, havia a composição acionária. O BNDES teve que ceder aos fundos: tinha 25% da Oi; terá 16,8% da nova empresa de telefonia.
Essas duas primeiras etapas ocorreram entre janeiro e março. As reuniões eram diárias, principalmente em três dos principais escritórios de advocacia do Rio: Leoni Siqueira; Bocater, Camargo e Costa e Silva; e Sérgio Esquenazi.
Pelo lado do Opportunity, estavam Arthur Joaquim de Carvalho, Danielle Silbergleid e Verônica Dantas (os três foram presos na Operação Satiagraha da Polícia Federal).
Apesar de central, Daniel Dantas foi um protagonista oculto. Não participou das reuniões. Raras vezes esteve frente a frente com os adversários. Em uma delas, ainda em meados do ano passado, pediu um encontro com o presidente da Previ, Sérgio Rosa.
A dinâmica também variou de acordo com o grupo em questão. A GP Investimentos, minoritária na Oi, negociou à parte, diretamente com Azevedo e Jereissati. O carioca Fersen Lambranho, um dos comandantes da GP, pouco foi ao Rio. Enviou advogados.
Nas duas semanas que antecederam o acordo, as reuniões -sempre marcadas por tensão e desconfiança- vararam madrugadas. Alguns advogados chegaram a ficar 72 horas sem dormir.
(ROBERTO MACHADO)



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