|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SP está mais cara que NY para classe média
Real forte, menor competição, carga tributária e juros tornam preços na capital paulista mais altos que em cidade americana
Especialistas dizem que, com o avanço da globalização, as diferenças no custo de vida tendem a diminuir, pois as economias ficam parecidas
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
A dentista Samara Santana,
27, não está grávida, mas já sabe
onde comprará todo o enxoval
do primeiro bebê, que planeja
para breve. "Vou voltar para
Nova York e levar tudo daqui.
Mesmo com os custos da viagem, compensa bastante", diz
ela, ao lado de mãe, irmã e amiga, todas cercadas de sacolas
em uma loja de calçados a alguns metros do Central Park.
Para a família, a viagem a passeio a Manhattan se tornou a
oportunidade de renovar o
guarda-roupa. "Só ontem gastamos mais de US$ 1.000 cada
uma. Mas economizamos uma
quantia muito maior", conta a
irmã, Samantha, 30, administradora de empresas.
A percepção delas é correta:
de maneira geral, os produtos
que estão à disposição da classe
média americana (exceto alimentos) são bem mais baratos
do que aqueles que a classe média brasileira tem ao seu alcance. Segundo economistas, a diferença se deve à elevada carga
tributária existente no Brasil,
ao relativamente pequeno grau
de abertura da sua economia, à
reduzida competição entre as
empresas, à alta taxa de juros e
à sobrevalorização do real.
Em uma pesquisa informal, a
reportagem da Folha visitou,
na última semana, estabelecimentos comerciais em São
Paulo e em Nova York em busca dos bens que a classe média
costuma (ou deseja) comprar e
detectou que a diferença de valores é grande, especialmente
em vestuário, eletroeletrônicos
e automóveis. Basta comparar
uma calça jeans Levi's feminina (R$ 54 na loja nova-iorquina, considerando o câmbio de
R$ 1,589 de sexta-feira, e R$ 99
na brasileira), um notebook
Sony Vaio (R$ 1.468,61 contra
R$ 2.999), e um carro Honda
Civic LXS (R$ 30.459 contra
R$ 65.460).
"Tanto as taxas internas
quanto as incidentes sobre importação são inferiores nos
EUA", diz Ricardo Araújo, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas). A carga tributária
americana está atualmente em
29% do PIB (Produto Interno
Bruto) e a brasileira chegou a
38,9% no primeiro trimestre
do ano. "O custo de produção
das empresas no Brasil é alto
também por causa dos encargos trabalhistas e dos juros. Como a demanda cresceu nos últimos anos, elas conseguem repassar tudo isso. O consumidor
americano, no entanto, não
aceita muitos aumentos."
"Os impostos nos EUA não
são tão determinantes sobre o
preço dos produtos manufaturados aqui porque o foco é a taxação do lucro, não da produção", afirma Thomas Davidoff,
especialista em impostos da
Universidade da Califórnia em
Berkeley. "Em alguns Estados,
como New Hampshire, os produtos são até mais baratos porque a taxa no ato da compra é
zero." Em Nova York, é de
8,735%.
Evolução
"O abismo entre os valores já
foi maior. No começo da década
de 90, quando o presidente
Collor liberalizou as tarifas de
importação, tinha gente que
trazia de fora até geladeira",
lembra Heron do Carmo, professor da USP (Universidade de
São Paulo). "A tendência é de
que os preços no mundo inteiro
convirjam, porque, com a globalização, aumenta a competição entre as companhias. Além
disso, os sistemas econômicos
das nações passam a se organizar de maneira parecida, com o
câmbio flutuante, com o mesmo tipo de política monetária,
de atuação do Banco Central e
de agências reguladoras."
O processo de crescimento
da renda do brasileiro também
deve ter importantes conseqüências políticas, na opinião
dos especialistas. Em todas as
faixas de renda, segundo eles,
as pessoas que passaram a viver
uma situação um pouco mais
confortável devem se mobilizar
para defender as recentes conquistas, caso sintam que o país
possa se desviar do caminho
positivo em que entrou a partir
da estabilização da moeda.
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Brasileiros gastam o triplo em roupa; moradia "pesa" nos EUA Índice
|