São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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Empresas mantêm investimentos em alta

Estudo da Serasa com 800 balanços mostra que taxa de 7,4% ultrapassa a registrada nos começos de 2007 e de 2006

Setores de serviços de energia elétrica e telefonia, além da indústria de papel e celulose, foram os que mais investiram, mostra pesquisa


FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Com base em balanços financeiros de 800 empresas de setores da indústria, do comércio e de serviços, a Serasa constatou que os empresários expandiram os investimentos no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período de 2007.
Inflação e juros em alta passaram a preocupar mais as empresas no segundo trimestre, mas não a ponto de levá-las a interromper projetos para expandir a produção ou substituir máquinas e equipamentos, como constatou a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getulio Vargas de junho.
No primeiro trimestre, a taxa de investimento de 800 empresas que divulgaram balanços foi de 7,4%, maior do que a de igual período de 2007 (7,2%) e de 2006 (6,3%). Para chegar a esse indicador, a Serasa considerou o valor do crescimento do ativo imobilizado das empresas de um ano para o outro sobre o faturamento líquido no período.
"Com a economia crescendo desde 2004, todos os setores passaram a investir mais", diz Márcio Torres, gerente de análise de crédito da Serasa e coordenador do estudo.
O setor de serviços, que abrange os serviços de energia elétrica e de telefonia, foi o que apresentou maior taxa de investimento no primeiro trimestre, de 9,7%. O setor industrial registrou taxa de 7,8%, e o de comércio, de 1,3%. Nos serviços, a maior taxa é do setor de energia elétrica, de 14,3%; e, na indústria, nos setores de papel e celulose (11,5%), siderúrgico (9,5%) e químico (9,2%).
No primeiro trimestre deste ano, o governo ainda não havia tomado medidas para conter o consumo, situação que mudou no segundo trimestre, porém, segundo alguns indicadores, ainda sem impactos significativos nas empresas.
Sondagem com empresas feita pela FGV em junho mostra que o nível de utilização da capacidade das fábricas estava em 86,4%, maior do que a de maio (85,6%) e a de junho do ano passado (84,7%) -61% das empresas tinham expectativa de melhora nos negócios nos seis meses seguintes.
"Os dados mostram que o pique de investimentos provavelmente esteve mantido também no segundo trimestre", diz Aloisio Campelo Jr., coordenador de sondagens conjunturais da FGV. Consulta feita a 845 empresas em abril e maio mostrou que apenas 5% delas não tinham planos de investimentos -o menor percentual já identificado pela sondagem. Das que tinham planos para investir, 56% citaram expansão da capacidade de produção; 28%, aumento da eficiência e 11%, substituição de equipamentos. Para 73% das empresas, não há chance de não conseguir atender encomendas em razão de eventual esgotamento da capacidade produtiva.

Maior desde 2000
A taxa de investimento das empresas no ano passado como um todo foi de 9,2%, a maior desde 2000. Para Torres, a expectativa da Serasa é que esse percentual se repita ou seja ainda maior neste ano.
A alta da inflação e dos juros, na avaliação de Campelo Jr., pode ter algum efeito nas empresas neste segundo semestre, mas não significativo. "As empresas tendem a pensar no ajuste da política monetária como um ajuste de rota e que não haveria mudança tão abrupta no cenário interno nos próximos 12 meses", afirma.
"Os investimentos se aceleram. Os juros subiram em abril. Mas, para os empresários, mais importante do que isso é a perspectiva de venda de seus produtos. O consumo continua firme", afirma André Rebelo, gerente do departamento de economia da Fiesp.
Sinal de que os investimentos estão em alta, na sua avaliação, é o ritmo do consumo aparente (produção menos exportação mais importação) de máquinas e equipamentos no país -nos primeiros quatro meses subiu 25% na comparação com igual período do ano passado.
"Também fizemos uma pesquisa em abril sobre a intenção de investimento e constatamos que ela continua forte. A interrogação fica para 2009."
Julio Gomes de Almeida, assessor econômico do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), que reúne 50 grupos industriais, diz que inflação e juros em alta estão levando empresários a pensar se devem ou não conter os planos de investimentos. "Hoje existe, sim, essa indagação dentro da cúpula das empresas. Os empresários têm dúvidas sobre o que fazer", afirma.
A decisão sobre os investimentos, segundo ele, deve ser dada até o final deste ano, quando estará mais clara a política de juros do governo. "A projeção é que a taxa Selic fique em 14,25% ao ano no final de 2008, mas será menor ou maior do que isso? A crise internacional também dá sinais de que é mais grave do que se imaginava, com a explosão dos preços das commodities e a crise do setor imobiliário nos EUA."
Para Caio Megale, economista da Mauá Investimentos, o consumo e os investimentos devem se desacelerar um pouco a partir deste semestre, "mas será de forma suave". Ele prevê que o PIB brasileiro cresça 3,5% no ano que vem.


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