São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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Cinemas crescem com avanço de shoppings

Nos últimos dez anos, o número de salas praticamente dobrou, passando de 1.075, em 1997, para 2.120, no ano passado

Apesar do crescimento de locais de exibição, público recuou 24% desde 2004; por sua vez, preço do ingresso aumentou 66% desde 2000


PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Puxada pela expansão no setor de shoppings, a indústria cinematográfica completou em 2007 um ciclo de expansão de dez anos consecutivos. O número de salas de cinema quase dobrou, passando de 1.075 em 1997 para 2.120 no ano passado, de acordo com a Filme B, empresa especializada no mercado de cinemas. E a tendência é de crescimento continuado, ao menos em um horizonte de quatro anos.
Apenas na inauguração de dois centros de compra em São Paulo, o Bourbon Shopping Pompéia, em março, e o Cidade Jardim, em junho, a cidade ganhou 17 novas salas.
Os investimentos em shopping centers são a principal mola do crescimento do mercado cinematográfico, já que os exibidores se beneficiam de condições especiais para ali instalar salas de cinema. Cada nova unidade aberta comporta cinco ou mais salas multiplex. "Cinema hoje é âncora, atrai clientela. Por isso, todos os shoppings oferecem melhores condições aos exibidores", diz o diretor da Filme B, Paulo Sérgio Almeida.
Dados da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping) mostram que, no final do ano passado, o país contava com 644 shoppings, contra 622 em 2006. Nos próximos quatro anos, a previsão é que sejam inauguradas até 76 unidades, segundo o diretor de Relações Institucionais da Alshop, Luís Augusto Ildefonso da Silva.
"Observamos um crescimento consistente nos últimos anos. E isso vem alavancando os investimentos na indústria cinematográfica", afirma. Ele diz que os incentivos aos exibidores vão do abatimento nas taxas de condomínio até a isenção do aluguel.
Embora em constante expansão, a quantidade de salas de cinema no país ainda é reduzida, se comparada com os anos 70. Em 1975, havia 3.276 salas -20 anos depois, o setor chegou ao fundo do poço, e esse número caiu para 1.033. O mercado só voltou a se encorpar com a chegada de gigantes americanas, como a Cinemark e a UCI, no final da década de 1990.
Com o crescimento atrelado ao setor de shopping centers, a indústria cinematográfica vive um paradoxo: de um lado, registra um aumento em sua capacidade, porém, de outro, amarga uma redução no público espectador.
O número de ingressos vendidos caiu de 90,283 milhões em 2006 para 89,319 milhões no ano passado -decréscimo de 1,07%. Desde 2004 -ano que marcou o início da inflexão de público-, no entanto, a queda foi da ordem de 23,95%, de acordo com a Filme B.
A questão básica que se coloca diante desse do quadro é por que os exibidores continuam investindo em novas salas, uma vez que a receita gerada pelo público sofre um achatamento.

Longo prazo
Para o presidente da rede Cinemark no Brasil, Marcelo Bertini, o setor precisa acreditar em um cenário de médio e longo prazos e não pode deixar passar a "janela de oportunidades" aberta pelos shoppings.
O preço médio dos ingressos para cinemas só fez encarecer nos últimos oito anos. Em 2007, o valor médio ficou em R$ 7,98, contra R$ 7,70 em 2006 e R$ 4,82 em 2000 -em valores nominais-, conforme informações da Filme B.
"A discussão sobre a política de preços passará a ser mais intensa à medida que as exibidoras comecem a sentir uma pressão sobre seu faturamento", diz Fernando Veríssimo, editor-assistente da Filme B.
O encarecimento dos ingressos deve-se, em parte, à própria mudança de padrão nas salas de cinema. O investimento em uma sala multiplex, com poltronas reclináveis e ala vip, por exemplo, chega a R$ 1,5 milhão.
"Assim, o ingresso tem que ser de ouro", afirma o diretor de Relações Institucionais do Grupo Severiano Ribeiro, Luiz Gonzaga de Luca.
As meias-entradas também passaram a ser outro fator de encarecimento dos ingressos. Em 1997, as meias representavam 20% dos ingressos vendidos. Hoje, esse percentual passou para 60%.


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