São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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Brecados nos EUA, "jipões" ganham mercado no Brasil

Venda de utilitários esportivos teve expansão de 55,2% no 1º semestre deste ano em relação a igual período de 2007

Alargamento nos prazos de financiamento e o litro da gasolina alheio à escalada do preço do barril de petróleo ajudam a explicar esse salto


TATIANA RESENDE
DA REDAÇÃO

Os utilitários esportivos, que até a recente alta do petróleo eram uma febre entre as famílias norte-americanas de classe média, começam a ganhar as ruas das cidades brasileiras. Os 66.909 SUVs (Sport Utility Vehicles) vendidos no primeiro semestre representam expansão de 55,2% em relação ao mesmo período de 2007, segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores).
O alargamento nos prazos de financiamento e o litro da gasolina praticamente alheio à escalada do preço do petróleo no exterior ajudam a explicar esse salto. "Há uma forte tendência de que esse crescimento continue", prevê Sérgio Reze, presidente da Fenabrave, lembrando que os utilitários começaram a chegar ao mercado brasileiro timidamente na década de 1990, com a abertura das importações. A desvalorização do dólar ante o real também vem alavancando as vendas. "Os importados já não custam a fábula que custavam", afirma.
Nos Estados Unidos, a crise econômica -que elevou o endividamento da população-, a disparada do preço da gasolina e o enfraquecimento da moeda estão levando os americanos a repensar as despesas inerentes a um veículo desse porte e as montadoras a frear a produção.
De acordo com a AIAM, associação internacional que reúne 14 fabricantes, a participação dos utilitários esportivos caiu de 13,1%, em 2006, para 11,9%, no ano passado, do total de veículos leves vendidos nos EUA. No mês passado, apenas 95.335 unidades foram comercializadas, contra 156.040 em junho de 2007. A participação passou de 10,8% para 8%.
No Brasil, a liderança é do Ecosport, da Ford, com 34,1% dos utilitários emplacados no primeiro semestre e preços a partir de R$ 48,2 mil. "Conseguimos "roubar" clientes de todos os segmentos: carros pequenos, médios, grandes, picapes", afirma Antonio Baltar, gerente-geral de marketing da montadora. Nesse período, 82% dos veículos vendidos eram 1.6 flex e o restante, da versão 2.0, movida a gasolina. "O grande fenômeno do mercado brasileiro é o modelo flex."
Segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), 87,6% dos automóveis e comerciais leves vendidos no primeiro semestre eram desse tipo.

Consumo
"A novidade nos Estados Unidos são os utilitários esportivos híbridos, a gasolina e com motor elétrico, o que possibilita menor consumo de combustível. Um SUV que faz 10 km [em um percurso urbano] com um litro de gasolina pode chegar a 15 km se tiver um motor elétrico", diz Marcelo Alves, professor de engenharia mecânica da USP (Universidade de São Paulo), que já considerou nessa conta o gasto de gasolina para carregar a bateria do motor. "Um automóvel faz por volta de 12 km."
Alves lembra que há ainda os utilitários a diesel, "combustível mais usado em caminhonetes", e os que usam o E85, álcool de milho com mistura de 15% de gasolina. "É o percentual necessário para permitir a partida mesmo em épocas de frio."
Para demonstrar como o Ecosport é eficiente, o executivo da Ford contabiliza que é possível rodar 11,4 km com um litro de gasolina em via urbana, contra 12,1 km com um Fiesta.
Após cinco automóveis, a fotógrafa Ronny Giarelli, 42 anos, comprou em 2004 o primeiro utilitário esportivo, um Ecosport 1.6. "É muito prazeroso dirigir um carro mais alto", diz.
Em abril deste ano, comprou a versão 2.0. Ela conta que se sente mais segura em um SUV - "parece que estou numa "fortalezazinha'"- e considera que o modelo que escolheu é econômico e passa uma imagem de jovialidade. "O carro tem que encaixar comigo."
Para Annuar Ali, vice-presidente do grupo Caoa, que comercializa a Hyundai no Brasil, a paixão dos brasileiros por utilitários "não é modismo". O Tucson, da montadora, movido a gasolina, foi o segundo modelo mais vendido no semestre. "Nossa garantia é de cinco anos", destaca como um dos diferenciais. Neste ano, o utilitário começa a ser produzido no país e os primeiros carros "made in Brazil" chegam ao mercado em 2009. Ainda assim, afirma, "flexfuel não consta de nosso plano atual".
Na terceira colocação no ranking de mais vendidos está o Pajero, da Mitsubishi, que ocupava a segunda posição no acumulado de 2007. Cerca de 25% são veículos importados.
Para Paulo Ferraz, presidente da montadora no Brasil, com um utilitário esportivo "a percepção de dirigir muda como um todo", o que inclui a forma de superar obstáculos urbanos corriqueiros como lombadas, entradas de garagem, buracos e ruas mal pavimentadas ou alagadas.


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