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Resort tenta conter expansão de cruzeiro
Número de passageiros registra aumento de 184% em 4 anos; indústria hoteleira pressiona governo para modificar lei
Legislação permite que apenas 25% das tripulações sejam contratadas pela CLT; associação de empresas marítimas rebate críticas
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Com um crescimento de
184% em apenas quatro anos
no número de passageiros, os
cruzeiros turísticos na costa
brasileira viraram alvo da indústria hoteleira, especialmente a de resorts, que reclama de
concorrência desigual e pressiona o governo a mudar a lei.
Ajudados pela valorização do
real, que barateou o aluguel ou
a compra de um navio, os cruzeiros transportam cada vez
mais passageiros no Brasil.
A mais recente temporada,
finalizada em abril, registrou
recorde de 396 mil passageiros.
É quase o triplo do verificado
há quatro anos (139 mil) e 11 vezes os 35 mil da estação entre
1999 e 2000.
Para a próxima temporada,
que começa em novembro, a
expectativa do setor é chegar a
meio milhão de passageiros.
Além de oferecerem pacotes
mais baratos em comparação
com os resorts, os cruzeiros
têm atrativos como a oportunidade de jogar em cassinos ou de
comprar em free shops, atividades proibidas em solo brasileiro, mas liberadas em águas
internacionais.
Para os empresários de cruzeiros, trata-se de um produto
que se tornou acessível para a
classe média e que, além de estimular o turismo interno, trará no futuro mais visitantes ao
país. Hoje apenas 12% dos passageiros são estrangeiros.
Mas, para a Associação Brasileira de Resorts, a concorrência
é injusta e a legislação precisa
mudar para equiparar os custos
dos dois setores.
"Quem decidirá se prefere
um resort ou navio é o consumidor, mas ao legislador cabe
equilibrar a concorrência. Eles
pagam menos encargos trabalhistas e ICMS e contribuem
menos para a geração de empregos no país. Isso cria uma
concorrência assimétrica", diz
Alexandre Zubaran, diretor-presidente da entidade.
Legislação
Um dos pontos que mais incomodam o setor hoteleiro na
disputa com os resorts é o fato
de a legislação permitir que
apenas 25% dos trabalhadores
sejam contratados de acordo
com a lei brasileira. Os demais
são, em sua maioria, estrangeiros com contratos que não são
regidos pela CLT.
"Dentro de um navio desses,
o cozinheiro é indiano, o garçom é malasiano e por aí vai.
Nesse sentido, a concorrência é
desleal com quem paga encargos trabalhistas de todos os
funcionários e tem ainda o
IPTU e outros tributos", diz Álvaro Brito Bezerra de Mello,
presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis.
Ele afirma que os cruzeiros
ainda têm contribuído pouco
para atrair estrangeiros ao país,
mas vê aspectos positivos: "Entre os passageiros, o único sotaque que a gente identifica é o do
interior paulista. O lado bom é
que é uma classe média que não
costumava viajar e começa a tomar gosto pelo turismo".
O presidente da Associação
Brasileira de Representantes
de Empresas Marítimas,
Eduardo Nascimento, rebate as
críticas da indústria hoteleira
afirmando que, na última temporada, o setor pagou mais de
US$ 40 milhões em impostos e
gerou 5.004 empregos diretos e
38 mil indiretos.
Para Nascimento, os resorts
precisam melhorar sua estratégia de marketing e diminuir
preços antes de culpar os cruzeiros: "Eles querem manter
suas tarifas altíssimas. O preço
de um navio é dez vezes maior
que o de construção de um resort, mas, mesmo assim, nossos
pacotes custam a metade".
Em sua avaliação, resorts podem se beneficiar do aumento
do turismo em cruzeiros.
"Essa discussão aconteceu
no Caribe nos anos 70. Também houve uma campanha
agressiva contra os navios, mas
os hotéis logo perceberam que
era uma oportunidade para
vender seus serviços ao vivo.
Quem passa oito horas numa
ilha e gosta volta depois e fica
mais tempo", diz.
Segundo Nascimento, os casinos e duty-frees também não
podem ser considerados concorrência desleal. "Somente
quando atingimos águas internacionais é que abrimos o cassino. Mesmo assim, o movimento financeiro é tributado
quando paramos no Brasil."
Ele diz que os navios geram
receitas, pois são abastecidos
nos portos brasileiros, movimentando a economia local.
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