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Lula decide criar nova estatal para pré-sal
Embora formato da exploração ainda esteja indefinido, presidente diz que é preciso uma empresa "que só cuide disso'
Governo mostra ainda preocupação com impacto na inflação da receita obtida com os megacampos
de petróleo da região
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em reunião à tarde com presidentes e
líderes de partidos aliados, que
criará uma nova estatal para
cuidar apenas das reservas de
petróleo da camada do pré-sal
que ainda não foram leiloadas.
Lula disse que já decidiu que
"é preciso uma empresa que só
cuide disso", segundo relatos
obtidos pela Folha.
O presidente afirmou que vai
usar os recursos da extração futura do petróleo do pré-sal para "eliminar a miséria", "aplicar em educação" e "beneficiar
o povo", sempre de acordo com
relatos dos que estiveram na
reunião. Não foi discutido como isso seria feito.
De manhã, numa reunião só
de ministros no Planalto, sem
Lula, o principal ponto debatido foi como aplicar internamente os recursos futuros do
pré-sal sem gerar inflação.
A reunião dos ministros do
grupo de estudo do pré-sal discutiu os chamados fundos soberanos criados por países com
grandes reservas de petróleo.
Um desses ministros disse à
Folha que não é simples injetar
internamente os recursos do
pré-sal, pois haveria risco de
"gerar confusão na economia".
Ou seja, aquecer demais alguns
setores e gerar inflação.
Daí, disse esse ministro, o governo debater um modelo que
preveja a manutenção de boa
parte dos recursos do pré-sal
em reservas no exterior. O ingresso desse capital no país para as "reparações históricas"
que Lula diz pretender fazer seria feito de forma a impedir desequilíbrios macroeconômicos.
Resumo da ópera: enquanto
Lula já decidiu politicamente
criar a estatal e usar o grosso
dos recursos na área social,
seus auxiliares debatem a forma de viabilizar administrativa
e legalmente esse projeto.
Na reunião com os aliados do
conselho político, composto
por presidentes e dirigentes
dos partidos que apóiam Lula
no Congresso, o presidente disse que irá no dia 2 de setembro
ao Espírito Santo para a primeira extração experimental
de petróleo na no campo de Jubarte. O petista disse ainda que
a imprensa tem feito críticas
infundadas à sua decisão de
propor um novo marco regulatório do petróleo. "Vamos fazer
com responsabilidade, mas vamos fazer para o povo", disse o
presidente, segundo anotação
de um líder partidário.
Na reunião com o Conselho
Político, Lula também disse
que deve fazer um pronunciamento em cadeia nacional de
televisão no dia 7 de setembro
para explicar os motivos que levaram o governo a mudar a Lei
do Petróleo. O objetivo é associar politicamente sua imagem
às mudanças.
Além disso, Lula pretende
organizar em março ou abril do
próximo ano um evento internacional no campo de Tupi, na
bacia de Santos, quando deverá
ser feita a primeira extração experimental de petróleo na camada pré-sal.
Segundo relato de participantes da reunião do conselho,
Lula afirmou que decidiu adotar, na exploração de petróleo
na camada pré-sal, regras inspiradas no modelo adotado na
Noruega porque parte do controle da Petrobras está nas
mãos do setor privado.
A Folha apurou que Lula
usou a reunião do conselho político para tentar desarmar
eventuais resistências à proposta de novo marco regulatório e angariar apoio para a criação de uma nova estatal. Ele
tem dito em conversas reservadas que não recuará por causa
de críticas da oposição, do mercado financeiro e de acionistas
minoritários da Petrobras.
Lula usará o pré-sal para fortalecer sua liderança política e
tentar eleger o sucessor ou sucessora em 2010. Ele quer fixar
no seu governo um novo marco
regulatório, embora a exploração em larga escala do pré-sal
só deva ocorrer em quatro ou
cinco anos.
Do ponto de vista eleitoral,
Lula tem procurado destacar o
papel da ministra da Casa Civil,
Dilma Rousseff, na discussão
das novas regras. Dilma é hoje a
preferida do presidente para a
sua sucessão.
A intenção é viabilizar sua
ministra, que, até agora, está
longe dos políticos que lideram
as pesquisas sobre a sucessão
presidencial, como o governador de São Paulo, o tucano José
Serra, e o deputado federal Ciro Gomes (PSB), um aliado que
sofre rejeição de setores do PT
e de partidos hoje aliados, como o PMDB.
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