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Lucros geram arrecadação recorde no ano
Apenas 80 grandes empresas pagaram R$ 5,2 bilhões em impostos sobre lucro só em julho, e Receita se diz "surpresa"
Arrecadação com impostos e tributos federais cresce 11% acima da inflação no ano, mesmo sem CPMF, e já chega a R$ 396,9 bilhões
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nos sete primeiros meses
deste ano, a receita com impostos e tributos federais cresceu
11% acima da inflação, mesmo
sem a CPMF (o chamado imposto do cheque), que deixou
de ser cobrada em janeiro.
Turbinada pelo vigor da atividade econômica e pela alta
carga tributária, a arrecadação
atingiu o recorde histórico de
R$ 396,9 bilhões de janeiro a
julho.
A Receita Federal aponta o
aumento na lucratividade das
empresas como a principal responsável pelo desempenho da
arrecadação federal.
Em julho, as companhias pagam o Imposto de Renda de
Pessoa Jurídica e a CSLL (Contribuição sobre o Lucro Líquido) do lucro obtido no primeiro
semestre do ano.
No mês passado, a arrecadação somou R$ 61,9 bilhões, um
crescimento de 15,6% real (acima da inflação) em comparação com o mesmo período do
ano passado. A receita com IR,
tanto de pessoas físicas quanto
de empresas foi de R$ 17,6 bilhões, 29% maior que em julho
do ano passado. A cobrança da
CSLL foi 27% maior, de R$ 4,6
bilhões.
Especialistas em finanças
públicas divergem sobre o efeito da taxa de juros mais alta no
crescimento da economia e,
conseqüentemente, na arrecadação tributária dos próximos
meses.
Francisco Lopreato, professor de economia da Unicamp,
aposta que a receita com impostos e tributos vai crescer em
ritmo mais lento no segundo
semestre, inferior a 10%, influenciada pelo ciclo de alta dos
juros promovido pelo Banco
Central, iniciado em abril.
"Os efeitos da política monetária ainda não apareceram,
mas, assim que a economia começar a se desacelerar, isso vai
se refletir na arrecadação", disse Lopreato.
Rogério Sobreira, da FGV
(Fundação Getulio Vargas),
aposta que a desaceleração econômica e da arrecadação federal ocorrerá apenas no próximo
ano. Ele prevê um crescimento
do PIB de 4,8% neste ano, com
aumento de receitas em torno
de 10%.
Carlos Alberto Barreto, secretário-adjunto da Receita,
tem a mesma projeção de aumento da arrecadação no ano.
"O crescimento vai ficar na casa
dos 10%. O importante é que
essa trajetória permaneça",
afirmou.
O aumento recorde da arrecadação federal, mesmo sem o
imposto do cheque, permitiu
que o governo elevasse o superávit primário no primeiro semestre deste ano. De janeiro a
julho, a economia do governo
federal para pagar os juros da
dívida pública foi de 4,41% do
PIB. A meta de superávit primário do ano está próxima de
ser atingida. Faltam apenas R$
16 bilhões, já contando com a
economia extra anunciada para
criar o fundo soberano.
Surpresa
Barreto admitiu ontem que
até a Receita Federal foi surpreendida com o resultado da
arrecadação até julho. Ele disse
que, no ano passado, quando o
governo federal pediu a prorrogação da CPMF, não podia prever o aumento dos lucros das
empresas.
"Ninguém consegue prever
[o resultado das empresas]. Se
fosse assim, todo mundo poderia comprar na Bolsa as ações
das empresas que terão maior
lucratividade", afirmou.
Pelos cálculos da Receita, 80
grandes empresas pagaram R$
5,2 bilhões em impostos sobre
o lucro no mês passado. Em julho de 2007, essas mesmas empresas desembolsaram R$ 1,5
bilhão para pagar IR e CSLL.
Entre os setores que mais pagaram impostos, estão o de combustíveis, extração mineral,
metalurgia e fabricação de veículos.
O IPI pago pela indústria automobilística somou R$ 3,4 bilhões nos sete primeiros meses
deste ano, 20,2% a mais que no
mesmo período do ano passado, já descontada a inflação. A
arrecadação de IPI em todos os
setores da economia foi de R$
22,1 bilhões, 16,4% de aumento.
O Imposto sobre Importação
também está entre os que tiveram maior crescimento neste
ano. De janeiro a junho, o pagamento desse tributo levou aos
cofres públicos R$ 9 bilhões,
28% a mais que nos sete primeiros meses de 2007.
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