São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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Lucros geram arrecadação recorde no ano

Apenas 80 grandes empresas pagaram R$ 5,2 bilhões em impostos sobre lucro só em julho, e Receita se diz "surpresa"

Arrecadação com impostos e tributos federais cresce 11% acima da inflação no ano, mesmo sem CPMF, e já chega a R$ 396,9 bilhões

JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Nos sete primeiros meses deste ano, a receita com impostos e tributos federais cresceu 11% acima da inflação, mesmo sem a CPMF (o chamado imposto do cheque), que deixou de ser cobrada em janeiro.
Turbinada pelo vigor da atividade econômica e pela alta carga tributária, a arrecadação atingiu o recorde histórico de R$ 396,9 bilhões de janeiro a julho.
A Receita Federal aponta o aumento na lucratividade das empresas como a principal responsável pelo desempenho da arrecadação federal.
Em julho, as companhias pagam o Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e a CSLL (Contribuição sobre o Lucro Líquido) do lucro obtido no primeiro semestre do ano.
No mês passado, a arrecadação somou R$ 61,9 bilhões, um crescimento de 15,6% real (acima da inflação) em comparação com o mesmo período do ano passado. A receita com IR, tanto de pessoas físicas quanto de empresas foi de R$ 17,6 bilhões, 29% maior que em julho do ano passado. A cobrança da CSLL foi 27% maior, de R$ 4,6 bilhões.
Especialistas em finanças públicas divergem sobre o efeito da taxa de juros mais alta no crescimento da economia e, conseqüentemente, na arrecadação tributária dos próximos meses.
Francisco Lopreato, professor de economia da Unicamp, aposta que a receita com impostos e tributos vai crescer em ritmo mais lento no segundo semestre, inferior a 10%, influenciada pelo ciclo de alta dos juros promovido pelo Banco Central, iniciado em abril.
"Os efeitos da política monetária ainda não apareceram, mas, assim que a economia começar a se desacelerar, isso vai se refletir na arrecadação", disse Lopreato.
Rogério Sobreira, da FGV (Fundação Getulio Vargas), aposta que a desaceleração econômica e da arrecadação federal ocorrerá apenas no próximo ano. Ele prevê um crescimento do PIB de 4,8% neste ano, com aumento de receitas em torno de 10%.
Carlos Alberto Barreto, secretário-adjunto da Receita, tem a mesma projeção de aumento da arrecadação no ano. "O crescimento vai ficar na casa dos 10%. O importante é que essa trajetória permaneça", afirmou.
O aumento recorde da arrecadação federal, mesmo sem o imposto do cheque, permitiu que o governo elevasse o superávit primário no primeiro semestre deste ano. De janeiro a julho, a economia do governo federal para pagar os juros da dívida pública foi de 4,41% do PIB. A meta de superávit primário do ano está próxima de ser atingida. Faltam apenas R$ 16 bilhões, já contando com a economia extra anunciada para criar o fundo soberano.

Surpresa
Barreto admitiu ontem que até a Receita Federal foi surpreendida com o resultado da arrecadação até julho. Ele disse que, no ano passado, quando o governo federal pediu a prorrogação da CPMF, não podia prever o aumento dos lucros das empresas.
"Ninguém consegue prever [o resultado das empresas]. Se fosse assim, todo mundo poderia comprar na Bolsa as ações das empresas que terão maior lucratividade", afirmou.
Pelos cálculos da Receita, 80 grandes empresas pagaram R$ 5,2 bilhões em impostos sobre o lucro no mês passado. Em julho de 2007, essas mesmas empresas desembolsaram R$ 1,5 bilhão para pagar IR e CSLL. Entre os setores que mais pagaram impostos, estão o de combustíveis, extração mineral, metalurgia e fabricação de veículos.
O IPI pago pela indústria automobilística somou R$ 3,4 bilhões nos sete primeiros meses deste ano, 20,2% a mais que no mesmo período do ano passado, já descontada a inflação. A arrecadação de IPI em todos os setores da economia foi de R$ 22,1 bilhões, 16,4% de aumento.
O Imposto sobre Importação também está entre os que tiveram maior crescimento neste ano. De janeiro a junho, o pagamento desse tributo levou aos cofres públicos R$ 9 bilhões, 28% a mais que nos sete primeiros meses de 2007.


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