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ANO DO DRAGÃO
Disparada do dólar vai gerar impacto principalmente nas tarifas que são atreladas à moeda dos EUA
Indexação voltará a assombrar em 2003
LEONARDO SOUZA
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de oito anos de combate
à inflação e aos mecanismos de
correção monetária, ao longo do
governo Fernando Henrique Cardoso, a indexação da economia
voltará a assombrar o país em
2003, já no primeiro ano de mandato do próximo presidente.
De um lado, os preços e contratos que permanecem indexados
vão herdar o impacto da disparada do dólar neste ano -especialmente os que seguem a própria
moeda americana ou índices como o IGP-DI e o IGP-M, ambos
muito influenciados pelo câmbio.
De outro, a alta dos preços que
começou em 2001, continuou
neste ano e ameaça se repetir no
próximo já leva os setores mais
bem informados a buscar abrigo
na correção monetária. Como
exemplo disso, os títulos federais
corrigidos por índices de preços
estão tendo a maior procura dos
últimos anos.
No primeiro caso estão produtos e serviços com poder de afetar
todo o resto da economia: gasolina, gás de cozinha, aluguéis, tarifas de telefonia e energia elétrica.
Estas, aliás, ficaram atreladas aos
IGPs da Fundação Getúlio Vargas
após a privatização dos serviços
(leia quadro ao lado).
No segundo caso, a busca por
indexação tem levado os fundos
de investimento atrelados a índices de preços a bater sucessivos
recordes de captação nas últimas
semanas.
A expectativa de alta da inflação
-já se fala em taxas acima de 10%
em 2003- movimenta o Banco
Central, o mercado financeiro e o
mundo político. O BC passou de
4% para 5% o IPCA a ser perseguido no próximo ano e, mesmo
com um objetivo menos ambicioso, teve de elevar neste mês seus
juros de 18% para 21% anuais.
Ainda assim, o mercado duvida
do cumprimento da meta.
Guido Mantega, assessor econômico do candidato favorito à
Presidência, Luiz Inácio Lula da
Silva (PT), diz ser favorável à flexibilização da política de metas de
inflação -aliás, já iniciada pelo
BC. A razão é sabida por todos:
para manter o IPCA nos níveis
desejados poderá ser necessário
produzir uma recessão no primeiro ano de mandato.
Mesmo o acordo com o FMI
(Fundo Monetário Internacional)
abriu espaço para taxas mais altas
no próximo ano, que deverão ajudar a segurar a dívida pública nos
patamares desejados.
"Know-how" indexador
Se uma tolerância maior com a
inflação tem o poder de evitar
uma recessão profunda e beneficiar as contas do governo, a insegurança quanto ao poder aquisitivo pode despertar a vocação indexadora do país.
"Isso é muito perigoso. O Brasil
tem longa tradição inflacionária e
desenvolveu um sofisticado sistema de indexação, que não foi totalmente desmontado. Veja o
exemplo das tarifas de energia
elétrica e telefonia. Todo esse
"know-how" pode ser acionado de
novo. Na verdade, já está sendo
acionado pelos setores mais bem
informados da economia", diz o
economista Paulo Nogueira Batista Júnior, professor da FGV-SP.
Ele critica a indexação das tarifas públicas pelos IGPs, no que é
acompanhado pelos dois candidatos que disputam o segundo
turno: tanto Lula como José Serra
(PSDB) defendem uma revisão
negociada desses contratos.
As tarifas de telefonia, tanto do
serviço fixo quanto móvel, são
reajustadas pelo IGP-DI. As de
energia elétrica são corrigidas, entre outros fatores, pelo IGP-M.
Os dois índices, que diferem no
prazo de apuração dos preços,
têm a mesma composição: são
formados pelo IPA (Índice de
Preços por Atacado), pelo IPC
(Índice de Preços ao Consumidor) e pelo INCC (Índice Nacional do Custo da Construção). Os
pesos de cada um desses três índices são, respectivamente, de 60%,
30% e 10%.
Alta do dólar
O IPA reflete todo o aumento de
custo da indústria provocada pela
alta dólar. Como a indústria não
tem conseguido repassar para
seus preços todo seu aumento de
custo, os IGPs têm ficado, nos últimos anos, acima dos índices voltados para os consumidores.
Até setembro, o IGP-M já acumulava no ano 10,54% -os famosos dois dígitos. O "oficial"
IPCA, calculado pelo IBGE, mediu inflação de 5,6% no período.
O IGP-M também corrige contratos como os de aluguel. Segundo Sérgio Lembi, do Secovi (sindicato das construtoras e imobiliárias), quase todos os aluguéis comerciais e boa parte dos residenciais estão atrelados ao índice.
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