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LUÍS NASSIF
O brilho de Bola Sete
No final dos anos 40 e a
partir dos anos 50 houve
enorme revoada de músicos brasileiros em direção aos Estados
Unidos. A música brasileira havia sido descoberta pela missão
Rockefeller, que abriria as portas para Carmen Miranda, Bando da Lua e Ary Barroso.
No início dos anos 50 foi a vez
dos violonistas, puxados por
Laurindo de Almeida e Luiz
Bonfá. Nos anos 50 e 60 seguiram viagem monstros da música instrumental como Moacir
Santos, o gênio precoce de Eumir
Deodato, o brilhante Sérgio
Mendes, o violão sofisticadíssimo de Oscar Castro Neves, o violão mais clássico de Barbosa Lima, o ritmo original de Airto
Moreira, as vozes de Astrud e
João Gilberto.
Em geral, com maior ou menor intensidade chegaram ao
Brasil os ecos do sucesso alcançado por esses pioneiros. Dois
(ou seriam três) deles, no entanto, mereceram pouco reconhecimento por aqui. Um, o duo Índios Tabajara, dois cearenses
violonistas que se apresentavam
vestidos de índios, mudaram-se
para o México, especializaram-se em gravar "standards", especialmente boleros, e gozaram de
sucesso mundial nos anos 60 e
70. Dia desses, consegui baixar
no meu KaZaA uma das valsas
venezuelanas de Antonio Lauro,
com uma interpretação portentosa da dupla.
O outro é Bola Sete, Djalma
Andrade, nascido a 12 de julho
de 1923 no Rio de Janeiro e falecido em 13 de fevereiro de 1987.
Quando o grande guitarrista
mexicano Santana recebeu o seu
Grammy e retornou ao centro
do sucesso mundial, passou despercebida uma declaração dele,
de que sua grande influência fora Bola Sete.
De minha parte, tinha ouvido
falar muito dele, como integrante do "cast" de violonistas da rádio Nacional, ao lado de Garoto,
Manuel da Conceição, o Mão de
Vaca, de José Menezes e de um
jovem aprendiz de nome Baden
Powell.
Nos anos 70 foi lançado um LP
histórico, uma jóia rara que
guardo em cofre-forte, com João
Pernambuco, o pai da escola de
violão brasileiro, solando e sendo acompanhado por Bola Sete,
fazendo uma "baixaria" inacreditável.
Quem me chamou a atenção
para ele, muitos anos depois, foi
meu amigo Patrick Ledoux, um
executivo do Banco Francês e
Brasileiro que se mudara para o
Brasil atraído exclusivamente
pela música brasileira. Patrick
tinha todos os discos de Bola Sete lançados nos Estados Unidos.
Aí, recebido o sinal de alerta, você apura o ouvido que nem índio apache deitado na bitola do
trem e fica esperando os sinais
da chegada do som. E como vieram sons de Bola Sete.
Ao lado de antecessores como
o argentino Oscar Aleman e de
sucessores como Paquito de Rivera, Bola Sete foi um dos criadores do jazz latino, a escola que
logrou casar a sofisticação harmônica do jazz com o balanço e
o estilo de improvisação do choro e dos ritmos do Caribe.
Bola Sete começou a tocar nas
rodas de músicos na praça Tiradentes. Aos 17 anos, passou uma
temporada em Marília (SP) com
o conjunto de Henricão, o extraordinário compositor de "Casinha da Marambaia". Sua carreira, de fato, começou em 1945,
quando venceu um concurso de
violão na rádio Transmissora
(futura Rádio Globo). Por três
anos apresentou-se no programa "Trem da Alegria", no Teatro João Caetano, com Lamartine Babo, Iara Sales e Héber de
Boscoli.
No final dos anos 40, adquiriu
vida própria. Montou o Bola Sete e seu Conjunto, que tinha como "crooner" Dolores Duran.
Apresentavam-se nas históricas
boates Drink e Vogue -esta, a
mais famosa casa noturna da
época, consumida mais tarde
por um incêndio.
Em 1954 formou uma orquestra que correu América Latina e
Espanha. Sua mudança para os
Estados Unidos foi em 1959. Até
1962 apresentou-se para a rede
de hotéis Sheraton. A partir de
1960, começou a despejar choro
nos gringos. Gravou o LP "Bola
Sete", com "Um a Zero" (Pixinguinha e Benedito Lacerda) e
"Império do Samba" (Zé da Zilda e Zilda do Zé).
A partir daí, ninguém mais segurou Bola Sete. Tocou no conjunto de Dizzie Gillespie, esteve
na noite da bossa nova, no Carnegie Hall, montou seu trio com
os impecáveis Tião Neto no baixo e Chico Batera na percussão.
Deixou dez LPs gravados nos Estados Unidos, o mais procurado
deles com Vince Guaraldi.
Morreu como um dos ícones
da música instrumental das
duas maiores potências musicais do século.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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