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ARTIGO
Banco Central erra no aumento dos juros e nas metas de inflação
WALTER MOLANO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A decisão do Copom de elevar a taxa de juros foi um erro. Cheira a desespero e é um sinal
de fraqueza. Ainda que a recente
desvalorização do real tenha deflagrado um aumento em certos
preços ao consumidor, a alta pode
ser transitória. Ao mesmo tempo,
a elevação nas taxas de juros só
servirá para exacerbar o déficit
fiscal, reduzir o nível de atividade
econômica, tornar a possibilidade
de moratória mais séria e empurrar o eleitorado brasileiro para os
braços de Lula.
É hora de o Banco Central compreender que metas para a inflação são uma má idéia. E sempre
foram. De fato, pode-se alegar que
o Brasil caiu na confusão em que
agora se encontra devido à política de metas inflacionárias. A dívida doméstica brasileira disparou
durante o segundo mandato do
presidente Fernando Henrique
Cardoso dada a tentativa de manter uma meta para a inflação que
era interessante do ponto de vista
político, mas ilógica economicamente. Como um país que sofre
de falta de disciplina fiscal pode se
comprometer com uma taxa de
inflação na casa baixa do dígito
único logo depois de uma maxidesvalorização? Era suicídio. A
única maneira de realizá-lo era
um aumento imenso na dívida.
Consequentemente, a carga da
dívida aumentou incessantemente durante quatro anos. Não admira que os bancos amassem o
regime de metas inflacionárias.
São eles que ganham honorários
com colocação e transações de títulos. Além disso, o Brasil jamais
obteve o resultado pretendido de
seu regime de metas inflacionárias. O Banco Central fracassou
repetidas vezes em cumprir suas
metas de inflação. O nível de atividade econômica do Brasil estagnou, e parece que o PSDB perderá
as eleições. Assim, qual era a utilidade?
Talvez as metas inflacionárias
fizessem sentido em alguma obscura conferência de econometria,
mas, na verdade, representaram
um desastre para os 175 milhões
de brasileiros. Infelizmente, os diretores do BC brasileiro continuam obcecados com suas metas
para a inflação, ainda que a maior
parte deles deverá perder o cargo
em menos de cem dias e que o novo presidente do país deverá, provavelmente, tentar sair da crise
reinflacionando a economia.
Chegou a hora de o Brasil enfrentar seus temores inflacionários. Não existe um fantasma da
inflação. A experiência recente
demonstra que o medo da inflação vinha sendo exagerado. Indonésia, Tailândia, Rússia, Argentina e Colômbia passaram por
imensas desvalorizações sem ver
aumento correspondente em suas
taxas de inflação. A maxidesvalorização brasileira de 1999 também
resultou em resposta inflacionária
discreta. Portanto o que seria diferente desta vez?
Sempre surgem choques de
oferta depois de maxidesvalorizações, mas eles são transitórios, especialmente em economias moribundas. A produção industrial
brasileira está estagnada, e as importações estão despencando.
Tudo isso indica um baixo nível
de atividade econômica. A economia brasileira está sufocada pelo
regime monetário e político de
extremo arrocho. A confiança dos
investidores e dos consumidores
está em queda. Os produtores
brasileiros estão perdendo seu
poder de preço, graças à desaceleração da economia. Portanto de
onde virá a pressão inflacionária?
O Copom não deveria ter elevado as taxas de juros. Os bancos
centrais deveriam se concentrar
nas pressões inflacionárias na
ponta da demanda, e não nos
choques de ofertas.
Aumentar as taxas de juros em
três pontos percentuais só servirá
para exacerbar a crise econômica.
Os parafusos monetários serão
apertados, as contas fiscais estarão sob ameaça e o nível de atividade econômica terminará reduzido. Isso também suscitará novas
questões sobre a solvência, o que
aumentará os ágios.
Normalmente, o BC brasileiro
age de maneira fria. Mas elevar os
juros de 18% para 21% é um ato de
desespero. Isso pode ser uma boa
notícia, já que o desespero é a
quarta resposta emocional a uma
perda importante. O estágio seguinte é a aceitação.
Walter Molano, economista, é diretor
para América Latina da corretora norte-americana BCP Securities.
Tradução de Paulo Migliacci
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