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Governo "deixou passar" resultados falsos
DA REPORTAGEM LOCAL
No trecho a seguir, Robert
Brenner comenta a segunda fase
do esvaziamento da bolha no
mercado de ações e o superfaturamento de lucros nos EUA.
Folha - A bolha do mercado de
ações realmente estourou?
Brenner - Na realidade, os preços das ações ainda estão sobrevalorizados, e devem cair ainda
mais. Em primeiro lugar, porque,
paradoxalmente, as relações entre
preços e lucros não estão, na verdade, tão abaixo do que estiveram
em 2000, no auge da bolha.
Os escândalos contábeis levam
as Bolsas ainda mais para baixo.
Esses escândalos estão ajudando a
mostrar o quão grande tem sido a
crise dos lucros corporativos e,
portanto, o quão artificial foi a bolha das ações nos anos 90. Os executivos das empresas estiveram, e
estão, sob forte pressão para superestimar, de forma fraudulenta,
os ganhos, porque os lucros que
poderiam justificar os preços sobrevalorizados de suas empresas
não existiam.
Durante o auge do boom, representantes do governo não tinham
nenhum interesse em expor as
duvidosas práticas contábeis das
empresas, porque eles haviam entendido muito bem que a alta das
Bolsas e seu "efeito riqueza" eram
a chave para o crescimento da
economia. Mas, com o crash e a
recessão, eles estão agora sob
pressão para restaurar a ordem.
Mas muitas companhias estão
sendo forçadas a admitir que seus
ganhos eram menores que os
anunciados, o que derruba ainda
mais os preços das ações.
Folha - Mas ninguém sabia do
"superfaturamento" dos lucros?
Brenner - De acordo com um estudo do site SmartStockInvestor.com, durante os três primeiros trimestres de 2001 as empresas listadas na Nasdaq 100 anunciaram lucros "pró-forma"-isto
é, lucros calculados de acordo
com seus frouxos métodos de
contabilidade- no valor de US$
19 bilhões. Mas, quando essas
mesmas 100 empresas tiveram de
informar seus lucros para o mesmo período à SEC, onde elas foram obrigadas a usar as rigorosas
regras do GAAP (Generally Accepted Accounting Practices),
elas tiveram de admitir perdas de
US$ 82 bilhões.
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