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Desregulamentação incentivou fraude
DA REPORTAGEM LOCAL
A desregulamentação financeira e a falsificação de resultados
-com a "ocultação" de despesas
como o pagamentos milionários a
executivos- contribuíram para a
maquiagem sistemática dos balanços das empresas, avalia Robert Brenner no trecho seguinte
de sua entrevista à Folha.
Folha - O senhor acha que a desregulamentação financeira das últimas duas décadas, contribuiu para a atual crise?
Brenner - Sem dúvida, o modelo
regulatório fez as coisas piorarem,
especialmente ao legitimar óbvios
conflitos de interesse.
A legislação de 1994, por exemplo, explicitamente desobriga as
empresas a contabilizarem como
gastos as opções de ações que dão
a seus empregados. Isso tem permitido que as empresas inflem
seus ganhos - as companhias do
S&P 500 exageraram seus lucros
em 13%, em média, ao deixar de
fora as opções de ações. Sozinha a
Microsoft conseguiu, com isso,
um lucro 23% maior, a Cisco, 67%
e a Motorola, 500%. Como consequência disso, os principais executivos das empresas, que eram
os principais donos dessas opções, puderam focar seus esforços
no aumento dos preços das ações,
por meio de práticas contábeis
duvidosas.
Folha - Qual o papel dos analistas
de ações?
Brenner - Os avanços regulatórios dos anos 90 permitiram que
empresas de contabilidade oferecessem serviços de consultoria
para as mesmas companhias que
auditavam. Isso abriu o caminho
para abusos extraordinários, como o Enron/Andersen.
Sob essas regras, bancos de investimento, corretores e analistas
de ações puderam trabalhar sob o
mesmo teto. Os analistas tiveram
todo incentivo para dar estimativas otimistas para os papéis das
empresas. Dessa forma, não prejudicavam as chances de os bancos de investimento com os quais
eram associados a garantir a subscrição dessas mesmas empresas.
A resistência dos analistas em
recomendar a venda de ações à
beira da desvalorização foi um
dos mais sérios escândalos recentes e fizeram com a que a Merrill
Lynch recebesse (uma ainda pequena) multa de US$ 900 milhões.
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