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FolhaInvest
Investidor desconhece regras de fundos
Com desinteresse e dificuldade para entender prospectos, aplicador muitas vezes não sabe onde investiu suas economias
CVM discute com a Anbid
forma de criar documento
mais amigável com as
informações básicas sobre
determinada aplicação
FABRICIO VIEIRA
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Investidores do varejo ficaram assustados na semana passada, quando a Polícia Federal
decidiu investigar uma lista de
84 pessoas físicas e jurídicas
que teriam enviado dinheiro de
forma ilegal por meio de fundos
de investimento do Banco Opportunity, de Daniel Dantas.
Há dúvidas se esses investidores sabiam exatamente no
que estavam colocando seu dinheiro. E, segundo analistas,
esse é um dos graves problemas
do investidor brasileiro: não saber ao certo onde aplicou suas
economias. Ou seja, a pessoa
entra em um fundo de investimento -ou fundo que investe
em outros fundos- sem conhecer as regras daquela aplicação,
como em que o capital é investido, quais taxas são cobradas
ou quem é o profissional responsável pelo seu dinheiro.
A CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) reconhece o problema, que passa pela falta de
transparência, pelo desinteresse e pela dificuldade do investidor em entender os prospectos
dos fundos, que se transformaram mais em peça de defesa das
instituições financeiras do que
de esclarecimento.
"As regras dos fundos estão
em constante evolução. Dizer
que a gente tem um sistema
perfeito é difícil, entendo que
isso pode melhorar. Um dos
pontos é a educação financeira,
em que já foram dados alguns
passos. É um programa que a
gente viu na Inglaterra, mas é
um projeto de médio e longo
prazos", diz Carlos Alberto Rebello Sobrinho, superintendente de relações com investidores institucionais da CVM.
Todo fundo tem, obrigatoriamente, um prospecto, que deveria ser lido com atenção por
cada candidato a novo investidor. O prospecto é o documento que apresenta as principais
características do fundo, seus
fatores de risco e suas condições de funcionamento e operacionalização.
"O investidor, que é o dono
do dinheiro, tem o dever e a responsabilidade de zelar pelo que
é seu. O problema é que ocorre
mais de a pessoa, na hora de
aplicar em um fundo, seguir o
conselho de um amigo ou do
gerente do banco do que pesquisar, ler o prospecto, ver a política de investimento, as taxas,
há quanto tempo o fundo está
no mercado...", diz a consultora
de investimentos Márcia Dessen, da Bankrisk.
Quanto à dificuldade de entender o prospecto, a CVM discute com a Anbid uma forma de
criar um documento mais amigável com as informações básicas sobre um determinado investimento.
"Há esforços para tornar essa
informação disponível mais palatável para leitura. [A idéia é]
Ter um prospecto simplificado,
em duas folhas, em que se busque dar as informações relevantes em linguagem gráfica e
simples", afirma o superintendente da CVM.
"A gente iniciou conversas
com a Anbid e com a Iosco [associação das CVMs], que está
discutindo a padronização desse prospecto simplificado. Seria uma primeira leitura para
tomar decisão de investimento
e remeter para informações
mais detalhadas no prospecto",
disse Rebello.
Os fundos de investimento
são formados com o capital de
vários aplicadores. Com esses
recursos, os gestores buscam
ativos (como ações e títulos públicos e privados que rendem
juros) para tentar dar aos investidores uma rentabilidade
atraente.
A Anbid (Associação Nacional de Bancos de Investimento)
cataloga os fundos em sete diferentes categorias, sendo as
mais conhecidas as de ações,
renda fixa, cambiais e multimercados. Cada categoria tem
suas regras e limitações que direcionam e controlam o trabalho dos gestores.
Uma das maiores apostas da
CVM está no trabalho dos distribuidores dos fundos de investimento, que deverão ser
certificados. "Aquela pessoa
que conhece o cliente também
é responsável. Tem que saber
qual é o apetite dele para o risco. Diante desse conhecimento, vai dizer se o produto A, B ou
C é adequado para cada um. Se,
mesmo assim, o cliente quiser,
aí é um direito dele", diz Rebello Sobrinho.
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