São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 2008

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FolhaInvest

Investidor desconhece regras de fundos

Com desinteresse e dificuldade para entender prospectos, aplicador muitas vezes não sabe onde investiu suas economias

CVM discute com a Anbid forma de criar documento mais amigável com as informações básicas sobre determinada aplicação

FABRICIO VIEIRA
TONI SCIARRETTA

DA REPORTAGEM LOCAL

Investidores do varejo ficaram assustados na semana passada, quando a Polícia Federal decidiu investigar uma lista de 84 pessoas físicas e jurídicas que teriam enviado dinheiro de forma ilegal por meio de fundos de investimento do Banco Opportunity, de Daniel Dantas.
Há dúvidas se esses investidores sabiam exatamente no que estavam colocando seu dinheiro. E, segundo analistas, esse é um dos graves problemas do investidor brasileiro: não saber ao certo onde aplicou suas economias. Ou seja, a pessoa entra em um fundo de investimento -ou fundo que investe em outros fundos- sem conhecer as regras daquela aplicação, como em que o capital é investido, quais taxas são cobradas ou quem é o profissional responsável pelo seu dinheiro.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) reconhece o problema, que passa pela falta de transparência, pelo desinteresse e pela dificuldade do investidor em entender os prospectos dos fundos, que se transformaram mais em peça de defesa das instituições financeiras do que de esclarecimento.
"As regras dos fundos estão em constante evolução. Dizer que a gente tem um sistema perfeito é difícil, entendo que isso pode melhorar. Um dos pontos é a educação financeira, em que já foram dados alguns passos. É um programa que a gente viu na Inglaterra, mas é um projeto de médio e longo prazos", diz Carlos Alberto Rebello Sobrinho, superintendente de relações com investidores institucionais da CVM.
Todo fundo tem, obrigatoriamente, um prospecto, que deveria ser lido com atenção por cada candidato a novo investidor. O prospecto é o documento que apresenta as principais características do fundo, seus fatores de risco e suas condições de funcionamento e operacionalização.
"O investidor, que é o dono do dinheiro, tem o dever e a responsabilidade de zelar pelo que é seu. O problema é que ocorre mais de a pessoa, na hora de aplicar em um fundo, seguir o conselho de um amigo ou do gerente do banco do que pesquisar, ler o prospecto, ver a política de investimento, as taxas, há quanto tempo o fundo está no mercado...", diz a consultora de investimentos Márcia Dessen, da Bankrisk.
Quanto à dificuldade de entender o prospecto, a CVM discute com a Anbid uma forma de criar um documento mais amigável com as informações básicas sobre um determinado investimento.
"Há esforços para tornar essa informação disponível mais palatável para leitura. [A idéia é] Ter um prospecto simplificado, em duas folhas, em que se busque dar as informações relevantes em linguagem gráfica e simples", afirma o superintendente da CVM.
"A gente iniciou conversas com a Anbid e com a Iosco [associação das CVMs], que está discutindo a padronização desse prospecto simplificado. Seria uma primeira leitura para tomar decisão de investimento e remeter para informações mais detalhadas no prospecto", disse Rebello.
Os fundos de investimento são formados com o capital de vários aplicadores. Com esses recursos, os gestores buscam ativos (como ações e títulos públicos e privados que rendem juros) para tentar dar aos investidores uma rentabilidade atraente.
A Anbid (Associação Nacional de Bancos de Investimento) cataloga os fundos em sete diferentes categorias, sendo as mais conhecidas as de ações, renda fixa, cambiais e multimercados. Cada categoria tem suas regras e limitações que direcionam e controlam o trabalho dos gestores.
Uma das maiores apostas da CVM está no trabalho dos distribuidores dos fundos de investimento, que deverão ser certificados. "Aquela pessoa que conhece o cliente também é responsável. Tem que saber qual é o apetite dele para o risco. Diante desse conhecimento, vai dizer se o produto A, B ou C é adequado para cada um. Se, mesmo assim, o cliente quiser, aí é um direito dele", diz Rebello Sobrinho.


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