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Brasil não é da Petrobras, afirma Lula
Em público, presidente diz que criação de nova estatal não está decidida, embora a tenha confirmado a interlocutores
"Todo mundo que é muito grande e importante, às vezes, esnoba um pouco", afirma o presidente falando sobre a Petrobras
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM
SÃO GONÇALO DO AMARANTE (CE)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, durante
visita ao porto de Pecém (CE),
que ainda não há decisão tomada sobre a criação de uma nova
estatal para cuidar das reservas
de petróleo ainda não leiloadas
da camada do pré-sal.
"Não existe nova estatal",
afirmou. "O que existe, na verdade, é uma discussão, por um
conselho interministerial [sobre] o que nós vamos fazer a
partir do pré-sal", declarou.
Apesar da negativa pública, o
presidente vem dizendo nos
bastidores, como revelou a Folha ontem, que já se decidiu pela criação da nova estatal. A negativa pública, segundo a Folha
apurou, tem o objetivo de evitar especulações no mercado
financeiro. Reservadamente, o
próprio Lula admite que falou
demais sobre o assunto com
aliados políticos anteontem.
Nessas conversas, o presidente chegou a dar detalhes de
estimativas preliminares da
ANP (Agência Nacional do Petróleo) sobre a extensão dos
campos. Para criar a nova estatal, insiste sempre no argumento de que só cerca de 38%
do capital da Petrobras está nas
mãos do governo federal.
No discurso de ontem, Lula
mostrou preocupação com o
tamanho e a importância crescente da Petrobras no governo,
o que o teria levado a discutir a
criação da nova estatal.
"A Petrobras, aos poucos, vai
se transformando mais do que
numa empresa de petróleo",
afirmou. "E todo mundo que é
muito grande e importante, às
vezes, esnoba um pouco."
A Petrobras, prosseguiu o
presidente, "não gostava muito
de gás, o negócio dela era petróleo". "Ela não gostava de álcool, não gostava de biodiesel.
Aos poucos, e com muito cuidado, nós vamos discutindo
políticas com os companheiros
e vamos mostrando que não é o
Brasil que é da Petrobras, a Petrobras é que é do Brasil", disse.
Mais tarde, em entrevista ao
lado do presidente da estatal,
José Sergio Gabrielli, Lula voltou ao tema. "A Petrobras é tão
grande, tem tanto dinheiro,
que de vez em quando eu digo
ao José Sergio Gabrielli que a
gente vai eleger o presidente da
Petrobras e ele indica o presidente da República, ao invés de
eu indicar o presidente da Petrobras." Gabrielli riu.
Sobre as propostas da comissão interministerial, Lula disse
que deverão ser apresentadas
em 19 de setembro. A partir
daí, o governo abrirá debate
"para saber que destino a gente
vai dar a essa extraordinária
performance do petróleo".
"O que virá dessas propostas
eu não sei", disse ele. "Quando
vierem, eu pretendo fazer com
que a sociedade tome conhecimento e debata, porque, afinal
de contas, eu tenho dois anos e
quatro meses de mandato, e a
Petrobras e o petróleo, se Deus
quiser, têm muitos e muitos
anos de existência", declarou.
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