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Risco é afugentar investidores, afirma Gros
DA SUCURSAL DO RIO
A trajetória profissional do
economista carioca Francisco
Gros é marcada por importantes cargos públicos, em governos e conjunturas políticas
muito distintos. No fim do anos
70, ainda sob o general Ernesto
Geisel, Gros foi diretor da Comissão de Valores Mobiliários.
Depois, diretor e presidente do
BNDES e, por duas vezes, presidente do Banco Central. Seu
último cargo público foi a presidência da Petrobras, que deixou em dezembro de 2002. Hoje, Gros é presidente do Conselho de Administração da OGX,
criada por Eike Batista para investir na exploração e na produção de petróleo. Apesar do
tombo no valor das ações desde
o maior IPO (oferta pública inicial de ações) da história da Bovespa, há três meses, Gros afirma que os planos de expansão
da OGX estão firmes. E incluem, no futuro, as áreas do
pré-sal. Mas faz uma advertência: o perigo da euforia é esquecer que extrair petróleo a 7.000
metros de profundidade exigirá
muito dinheiro -e investimentos privados.
(ROBERTO MACHADO)
FOLHA - Como o senhor vê a discussão sobre mudanças no marco
regulatório do petróleo?
FRANCISCO GROS - Existem três
grandes discussões. A primeira
é a confirmação de que o país
quer, efetivamente, desenvolver suas reservas de petróleo o
mais rapidamente possível,
criando riqueza no menor prazo possível. A segunda é saber
como vamos desenvolver essas
reservas, e aí entra a proposta
de criar uma nova estatal, o papel que a Petrobras terá, o modelo que será adotado. A terceira discussão é: como o governo
vai viabilizar a sua taxação, qual
será a sua participação nessa riqueza e como vai distribuí-la.
FOLHA - Ainda não há respostas
oficiais para essas questões....
GROS - No primeiro tema, não
há discussão: vamos desenvolver as reservas. No terceiro, é
uma decisão política, cabe apenas ao governo decidir o que fará com a riqueza. Para nós, investidores, a questão está centrada no segundo ponto: como
desenvolver as reservas. Há algo fundamental sendo esquecido: como e quem vai financiar.
O desenvolvimento das reservas do pré-sal exigirá dezenas
de bilhões de dólares.
FOLHA - Como vê a proposta de
criar nova estatal do pré-sal?
GROS - Não consigo me emocionar com essa discussão. Essa
estatal não será operadora. Não
vamos criar uma nova Petrobras. Discute-se o instrumento
de gestão da riqueza petrolífera. Nesse caso, pode-se tanto
criar uma estatal, como fez a
Noruega, como simplesmente
abrir conta corrente no Tesouro. É uma providência contábil.
FOLHA - Há implicação política...
GROS - No Brasil, a gente adora
uma estatalzinha. Mas o que interessa são as definições: produzir o petróleo, quanto vai para o Estado, como transformar
isso em dinheiro e onde colocá-lo. O fundamental é atrair investimentos.
FOLHA - Há cenário ameaçador para a continuidade do investimento?
GROS - O que me preocupa é
esse clima de euforia em que
estamos. Dizem: "São 100 bilhões de barris, vamos entrar
para a Opep, somos a nova Arábia Saudita!". Estamos esquecendo que o custo de extração
na Arábia Saudita é de menos
de US$ 1 por barril. Aqui, estamos falando em reservatórios a
mais de 200 quilômetros da
costa e a 7.000 metros de profundidade. É muito caro e complexo produzir esse petróleo e
trazê-lo para terra firme. Não
dá pra confundir com a Arábia
Saudita. O risco é aumentar a
taxação a um ponto em que não
haverá investimento.
FOLHA - Uma mudança do modelo
para exploração pode atrapalhar?
GROS - O modelo atual é extremamente flexível: prevê sistema de leilão aberto em que todos participam e pode sofrer
ajustes mediante decreto presidencial. É mais do que razoável
que o governo queira aumentar
sua participação especial, mas
isso é compatível com o modelo
atual.
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