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DOMÍNIO
Mais companhias conquistam mercado no exterior, mas 200 maiores do país ampliam sua participação nas vendas
Grandes empresas concentram exportações
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ano a ano cresce o número de
companhias brasileiras que se arriscam no comércio exterior. Hoje, já somam 16.640. Apesar disso,
também aumenta a concentração
de exportações nas mãos de poucas empresas. Em 1998, 200 delas
eram responsáveis por 68% das
vendas externas. Em 2002, esse
percentual saltara para 70,59%.
Estudo dos economistas João
Alberto De Negri, diretor do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), e Jorge Arbache, da
Universidade de Brasília, mostra
que, no Brasil, exportação é um
negócio dominado por grandes
empresas.
"Os resultados revelam que, no
Brasil, para exportar, é fundamental ter escala no mercado. Por
isso, o surgimento de novas empresas exportadoras, geralmente
menores, não consegue inverter a
tendência de concentração nas
mãos de poucas", diz Negri.
Dados recém-atualizados por
Negri para sua tese de doutorado
revelam, por exemplo, que as empresas exportadoras, em média,
têm faturamento anual de R$ 64,8
milhões. O número é mais de dez
vezes superior aos R$ 4,5 milhões
faturados pelas firmas não-exportadoras. Apenas as empresas que
vendem commodities estão fora
dessa conta.
Além disso, essas grandes companhias exportadoras empregam
mais gente, investem mais em
treinamento e pagam melhor (leia
texto nesta página).
"O Brasil é diferente de vários
outros países em desenvolvimento. O mercado doméstico é muito
grande e abre espaço para que as
grandes empresas consigam ganhar escala, reduzir custos e, com
isso, tornar-se mais competitivas
no mercado externo. As pequenas
têm mais dificuldade", afirma o
diretor do Ipea, em Brasília.
Rotatividade
Além disso, segundo Negri, a
rotatividade entre pequenas e
grandes empresas brasileiras no
mercado externo é grande.
Muitas começam a exportar por
fatores conjunturais, como câmbio desvalorizado, mas, depois,
não conseguem se manter competitivas e acabam desistindo.
No caso das grandes, ocorre o
oposto. Análise feita pela Folha a
partir de estatísticas do Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior mostra também que há pouca mudança no
ranking das maiores empresas exportadoras do país.
Das 40 empresas que constavam do ranking das maiores exportadoras brasileiras entre janeiro e outubro de 2002, apenas sete
mudaram no mesmo período
deste ano. As demais 33 -entre
elas, gigantes como Petrobras,
Embraer, Volkswagen e Sadia-
se repetem no ranking.
Esse padrão de repetição -independentemente do setor, no caso da indústria- tem se mantido
nos últimos cinco anos.
"No Brasil, tirando os setores
que exportam commodities e,
portanto, têm o preço do seu produto dado, importa muito pouco
o setor industrial. São características individuais de cada empresa
que vão determinar sua competitividade", diz o economista Jorge
Saba Arbache, da Universidade
de Brasília.
Segundo Arbache, a teoria tradicional de comércio exterior
sempre preconizou que, por possuir mão-de-obra e recursos naturais abundantes, o Brasil deveria se especializar na exportação
de produtos pouco sofisticados.
"Mas não é isso o que tem ocorrido. A competição de outros países em desenvolvimento com o
mesmo perfil produtivo do Brasil
dificulta a situação de empresas
intensivas em mão-de-obra", afirma Arbache.
"Por outro lado, o grande mercado doméstico favorece grandes
empresas, de perfil mais sofisticado", diz o economista da Universidade de Brasília.
Prós e contras
O desenho do mercado exportador brasileiro tem prós e contras,
segundo especialistas.
As grandes empresas do país
são bastante competitivas lá fora.
Isso tem contribuído para o crescimento das exportações, para a
conquista de fatias maiores do
mercado externo pelo país e para
o fortalecimento do que os analistas chamam de "marca Brasil" no
mercado externo.
Já as principais desvantagens
são duas. Se são poucas as empresas competitivas, há um limite para o quanto conseguem alavancar
as exportações do país. Se a concentração estivesse se diluindo
nas mãos de mais companhias, o
potencial de crescimento das vendas externas do país seria maior.
Além disso, segundo Júlio Gomes de Almeida, diretor do Iedi
(Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial), para ser
competitiva lá fora, uma empresa
é forçada a investir na melhoria
da qualidade de seu produto, em
uma distribuição eficiente e a cortar custos.
"Tudo isso acaba transbordando para o mercado doméstico e,
portanto, beneficiando-o. Se poucas empresas dominam as exportações, esses ganhos relativos são
bem menores. É o caso do Brasil",
diz Almeida.
Política industrial
Almeida defende, por exemplo,
a manutenção de um câmbio
mais desvalorizado como incentivo para que mais empresas consigam exportar e aumentar sua fatia
nas vendas externas totais do país.
Arbache concorda que é importante aumentar o leque de empresas competitivas no exterior, mas
acha que um câmbio mais desvalorizado não é a melhor solução:
"É uma forma de criar competitividade de forma artificial, difícil
de manter quando a moeda volta
a se valorizar", diz.
Os especialistas, de forma geral,
defendem a necessidade de adotar uma política industrial que
fortaleça a competitividade de
mais empresas.
Embora, às vezes, discordem do
formato ideal dessa política, concordam também que o atual governo ainda está longe de dar um
passo significativo nessa direção.
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