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ECONOMIA INTERNACIONAL
Desvalorização da moeda ajuda país a ajustar déficit, mas reduz o valor dos ativos americanos
Queda do dólar faz investidor evitar os EUA
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
A trajetória de queda da cotação
do dólar em relação ao euro parece indicar que a economia dos
EUA está numa armadilha.
A desvalorização da moeda ajuda a equilibrar o déficit em conta
corrente americano (algo em torno de US$ 500 bilhões ao ano). Essa mesma desvalorização, porém,
diminui a atração do país aos
olhos dos investimentos estrangeiros, o que enfraquece o dólar.
Ao longo deste ano, a cotação
do dólar caiu 15,3% em relação ao
euro. O prognóstico é que essa
queda se mantenha, já que o déficit comercial americano está longe de se estabilizar.
"A maior razão para a queda do
dólar é o seu grande e insustentável déficit em conta corrente.
Com a cotação mais baixa do dólar, os EUA conseguem tornar os
seus produtos mais competitivos
no mercado internacional e também diminuem o ritmo das importações. O dólar deve cair mais
5% em 2004 e deve continuar
caindo em 2005", disse Farid
Abolfathi, diretor de estudos globais da consultoria GlobalInsight.
Vincent Cohen, economista-chefe da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), concorda com a
avaliação, mas faz ressalvas.
"De fato o dólar perdeu consideravelmente o seu valor em relação ao euro nos últimos três anos,
mas é importante dizer que o euro
não está tão acima do dólar quando olhamos para cotação do lançamento da moeda européia, em
1999", disse.
Se a manutenção de um dólar
mais fraco pode ser uma saída para o desequilíbrio do déficit comercial norte-americano, ela pode ter impactos negativos para os
parceiros comerciais dos EUA.
"Um dólar fraco versus um euro
forte é especialmente ruim para
países que têm economias muito
abertas, como a União Européia",
afirmou Steven Lesley, da Economist Intelligence Unit. A agência
pertence ao grupo que edita a revista "The Economist".
No entanto esses efeitos negativos parecem ainda não ter tocado
a economia da Eurolândia. Os dados mais recentes do Departamento de Comércio dos EUA
mostram que as exportações do
bloco europeu cresceram 4% em
outubro deste ano ante o mesmo
período de 2002. Com isso, o volume exportado para os Estados
Unidos atingiu US$ 124,3 bilhões.
"Em resumo, podemos dizer
que o dólar mais fraco não é uma
grande notícia para a recuperação
da economia dos países do euro,
mas também não é o fim do mundo", disse Ian Gunner, economista-chefe do banco Mellon Financial, em Londres.
Essa pujança das exportações
européias é alimentada pelo ritmo da retomada da economia
americana. O PIB (Produto Interno Bruto) deste ano deve ter um
crescimento superior a 3% em relação ao ano passado.
Fuga de investidores
O outro fator que pode explicar
a queda do dólar é o fato de investidores parecerem menos dispostos a financiar o déficit.
Em outubro, pelo segundo mês
consecutivo, investidores estrangeiros venderam US$ 1,3 bilhão
de ações americanas. Nos primeiros dez meses do ano, US$ 50,8 bilhões saíram dos investimentos
em ações nos EUA.
"Em 2000, os investidores tinham um grande apetite e compraram uma quantidade enorme
de ações dos EUA [US$ 174,9 bilhões]. Esse volume foi caindo até
atingir os níveis negativos de hoje", afirmou Gunner.
Gunner também chama a atenção para o fato de que mesmo entre os investidores americanos
aumenta o interesse em ações estrangeiras. "Parece que os próprios investidores americanos estão se questionando sobre a importância de ter ativos em dólar.
Basta ver que eles têm aumentado
incrivelmente a compra de ações
estrangeiras", avaliou.
Dados do Tesouro dos EUA
mostram que, até outubro, os
americanos compraram o correspondente a US$ 66,2 bilhões em
ações de estrangeiros. Em 2002, a
cifra não superou US$ 1,5 bilhão.
Apesar de os olhares de investidores se lançarem para outros
mercados, economistas afirmam
que ainda é muito cedo para decretar a perda de relevância da
moeda americana. "Em 20 anos
veremos mais títulos da dívida
emitidos em euros e um portfólio
mais diferenciado nos bancos
centrais. Hoje, apesar do déficit
nos EUA, o dólar permanece como a moeda internacional", sentenciou Barry Eichengreen.
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