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ANÁLISE
País deve ser o 2º nas Américas
ÉRICA FRAGA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Dada a magnitude do aperto
monetário que ainda parece vir
pela frente, dificilmente o PIB
(Produto Interno Bruto) brasileiro terá uma expansão acima
de 4% no próximo ano. Ainda
assim, em 2009 o Brasil quase
certamente crescerá pelo terceiro ano consecutivo acima da
média da economia mundial, o
que não ocorria desde o triênio
1993-95. Tudo indica que esse
cenário se sustentará entre
2010 e 2012, quando o PIB brasileiro deverá crescer a uma
média anual superior a 4%,
contra pouco mais de 3% da
economia global (medida a taxas de câmbio de mercado).
Segundo projeções da EIU
(Economist Intelligence Unit),
no fim deste ano, a economia
do Brasil, hoje a décima maior
do mundo em termos nominais
e em dólares, já será maior que
a do Canadá, atual nona colocada no ranking. Mas o Brasil não
está correndo sozinho na disputa por lugares mais altos no
ranking de grandes potências.
Se deve superar o Canadá, se
tornando a segunda maior economia das Américas, será ultrapassado pela Rússia, se não
neste ano, quase certamente no
ano que vem.
Mesmo assumindo que a
atual taxa de expansão real do
PIB brasileiro se desacelere
bastante, para algo em torno de
3,5% nos anos subseqüentes a
2012, em dez anos contados a
partir de agora, a economia do
país já será maior que a italiana,
a atual sétima colocada no ranking. E, em 2029, deverá ultrapassar a francesa, chegando em
2030 como a oitava maior potência do mundo, tendo sido ultrapassada por Rússia e Índia,
mas à frente de três países do
G7 (grupo que reúne as sete nações mais avançadas do mundo) e da Espanha.
Projeções de longo prazo estão sujeitas a grandes riscos.
Quando o banco Goldman
Sachs criou a sigla Bric (em referência ao grupo formado por
Brasil, Rússia, Índia e China),
em 2003, tudo indicava que o
PIB brasileiro ultrapassaria o
italiano somente por volta de
2025 e o francês depois de
2030. Condições externas altamente favoráveis para os países
emergentes, e para o Brasil, em
particular, que ajudaram a impulsionar uma forte recuperação da demanda doméstica, foram o principal fator por trás
dessa mudança de cenário.
Mas a história futura do crescimento brasileiro também poderá se revelar pior ou melhor
do que a esperada hoje. Isso vai
depender em parte de fatores
difíceis de se prever, mas principalmente do rumo de políticas econômicas domésticas.
Uma coisa é certa: quanto mais
o crescimento for impulsionado por um aumento do investimento produtivo, melhor.
Embora a forte expansão da
taxa de investimento na economia brasileira tenha sido fonte
de boas notícias nos últimos
tempos, aquela velha análise de
que neste quesito o Brasil deixa
muito a desejar continua sendo
atual. Basta colocar o Brasil em
um ranking com dezenas de outros países para concluir isso.
Em uma lista de 145 países ordenada por ordem decrescente
de taxa de investimento, o Brasil ocupava a módica 122ª posição no ano passado.
Acima do Brasil no ranking
aparecem todos os grandes países emergentes, como China,
Índia, Rússia, Chile e México.
Abaixo, tirando os Estados
Unidos, que são um caso a parte
(o setor de serviços representa
uma enorme fatia do PIB americano), todos os demais países
têm mercados consumidores
relativamente pequenos. Uma
análise caso a caso revelará outras causas para as baixas taxas
de investimento nesses países
(como instabilidade política na
Bolívia em anos recentes).
Isso leva a uma inevitável
pergunta: como o Brasil foi parar aí? Outro ranking comparativo traz parcialmente a resposta. Quando comparado com as
mesmas 145 nações no quesito
participação dos gastos do governo no PIB, o Brasil aparecia
no 34º lugar no ano passado.
O fato de que o Brasil está no
grupo dos 20% de países com
menores taxas de investimento
da economia e também figura
entre os 25% com setores públicos mais inchados não é
coincidência. Existe aí uma relação de causalidade predatória
em que o setor público sufoca e
limita a expansão da área privada.
Na competição com o setor
privado por recursos para financiar seus gastos, o governo
acaba pressionando o custo do
dinheiro. Isso explica, em grande medida, por que o Brasil ainda ostenta taxas de juros tão altas que desestimulam o investimento privado.
É verdade que recentemente
os investimentos (medidos pela chamada formação bruta de
capital fixo) vêm crescendo a
um ritmo vigoroso. No primeiro trimestre deste ano, a taxa de
investimento atingiu 18,3% do
PIB. Mas esse patamar ainda
parece baixo para sustentar um
ritmo de crescimento na casa
dos 5% ao ano, que poderia levar a economia brasileira, por
exemplo, a ultrapassar a italiana até antes de 2018. Sem uma
taxa de investimento bem
maior, a tendência é que qualquer expansão mais forte do
consumo bata na capacidade de
produção das empresas, gerando pressões inflacionárias.
Altos preços de commodities, forte demanda doméstica
e redução na volatilidade do
crescimento do PIB são fatores
que ajudam a explicar a forte
recuperação recente no crescimento dos investimentos. Mas
no longo prazo será preciso
mais do que isso. Um aumento
continuado da taxa de investimento vai depender de um encolhimento do setor público.
Receita conhecida, mas politicamente dolorosa.
ÉRICA FRAGA é editora de
América Latina da consultoria britânica
Economist Intelligence Unit
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