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Para BC, negociações salariais podem pressionar preços
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central inicia hoje
mais uma reunião do Copom
(Comitê de Política Monetária)
de olho no que considera um
teste de fogo para economia.
Neste segundo semestre, nada
menos do que cerca de 300 negociações salariais estarão em
curso, entre elas as de categorias fortes como metalúrgicos,
bancários, petroleiros, comerciários e químicos. O saldo das
conversas entre patrões e empregados terá impacto direto
na renda nacional, fonte de
preocupação para o BC.
O medo dos diretores que integram o Copom é que o ambiente de mais dinheiro no bolso incentive ainda mais o consumo. Num momento de crescimento econômico, isso faria
com que os trabalhadores aceitassem mais facilmente elevações de preços. Por outro lado,
as empresas não teriam dificuldades de repassar o aumento
do custo com a folha.
Essa é a pior combinação
possível para inflação, na avaliação do BC. O tema vem sendo sutilmente destacado nas
atas das últimas reuniões do
comitê, mas sua importância
cresceu no último encontro.
Reajustes salariais acima da
inflação podem prolongar a alta
dos preços e exigir juros maiores. Ao lado do crédito, o aumento na renda tem sustentado o crescimento da demanda.
Para a economista-chefe do
banco Real, Zeina Latif, o aumento real da massa de salários
pode disseminar a inflação no
país, que já sofre com a alta dos
alimentos e das commodities
minerais no mundo todo. "Isso
faria com que os impactos de
segunda ordem citados pelo BC
se propagassem na economia",
diz, referindo-se a reajustes em
setores não influenciados diretamente pela alta recente dos
preços no exterior.
No ano passado, 96% dos 715
acordos e convenções coletivas
firmados com diferentes categorias profissionais conseguiram, no mínimo, que os salários
fossem corrigidos integralmente pela inflação. E, em 88%
deles, ocorreram ganhos reais,
segundo levantamento feito
pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos).
Segundo José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador
técnico do Dieese, não se espera um percentual muito menor
neste ano. A diferença, para ele,
é que o recrudescimento da inflação pode levar a negociações
mais duras, e o tamanho do reajuste real deverá cair.
"Não existe o risco de não se
recompor a inflação. De abril
para cá, a alta da inflação contaminou o ambiente de negociações, mas as categorias estão
conseguindo recomposição dos
salários mais ganhos reais."
Segundo Silvestre, em 2007,
mais de 48% dos acordos resultaram em aumentos reais entre
1% e 3%. "Esse percentual deve
cair um pouco", diz.
Considerando a média dos
salários e a quantidade de trabalhadores envolvidos, as negociações do segundo semestre
têm um peso maior para a massa salarial total da economia.
"Ainda assim, o BC não pode
culpar os trabalhadores. Tivemos ganhos reais em 2005,
2006 e 2007 e não se falou nisso [de alimentar a inflação]."
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