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PORTA GIRATÓRIA
Economistas e banqueiros saem do setor público para assumir cargos de destaque no mercado financeiro
Passagem pelo governo alavanca carreiras
FERNANDO RODRIGUES
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Economistas e banqueiros que
passaram por cargos estratégicos
no governo nos últimos dez anos
estão hoje em posições de destaque no mercado financeiro ou em
atividades correlatas. Quando no
setor público, todos desempenharam funções que exigiam contato
com a iniciativa privada, sobretudo na área financeira.
Levantamento da Folha no
Banco Central, no Banco do Brasil
e no BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) apurou, no período dos últimos dez anos, o que faziam 32
economistas, engenheiros, banqueiros e advogados antes de entrarem para o governo e o que
passaram a fazer depois. Dos 32,
25 estão hoje em bancos, corretoras, empresas de investimentos
ou consultorias econômicas e financeiras. Antes do serviço público, só 15 estavam no mercado.
Ao entrar para o governo, há
um preço a pagar. Primeiro, a alta
exposição pública, que muitas vezes resulta em processos administrativos e judiciais -levantamento da Folha mostra que 36 ex-dirigentes do BC enfrentam hoje
ações na Justiça. Além disso, ao
assumir o cargo público, o profissional quase sempre se sujeita a
receber um salário menor do que
receberia na iniciativa privada.
Um diretor do Banco Central,
por exemplo, recebe R$ 8.362,80
mensais (o equivalente a R$
108.716,40 anuais). O único benefício é um auxílio-moradia de R$
1.800 mensais para quem não tem
imóvel em Brasília.
Quando saem do governo, integrantes da diretoria do BC encontram salários maiores no mercado financeiro. Segundo a consultoria Catho, a remuneração total
de altos executivos de grandes
instituições financeiras gira em
torno de R$ 700 mil por ano. Segundo profissionais do mercado
ouvidos pela Folha, não é difícil
encontrar quem ganhe mais de
R$ 1 milhão por ano.
A atração é grande. Somadas as
equipes e os membros dos conselhos de Itaú e Unibanco, por
exemplo, seria possível montar
uma diretoria colegiada inteira do
Banco Central somente com ex-dirigentes da instituição.
Estão hoje no Itaú: Pérsio Arida,
Gustavo Loyola, Fernão Bracher
(ex-presidentes) e Tereza Grossi
(ex-diretora de Fiscalização), todos em conselhos do banco. Trabalha ainda para o Itaú o ex-diretor de Política Econômica do BC
Sérgio Werlang, como diretor-executivo. Fora os ex-BC, trabalham também para o Itaú Alcides
Tápias (ex-ministro do Desenvolvimento) e Roberto Teixeira da
Costa, ex-presidente da CVM.
No Unibanco, o Conselho de
Administração é presidido pelo
ex-ministro da Fazenda Pedro
Malan, que antes comandou o
BC. No mesmo conselho está o
também ex-presidente do BC Armínio Fraga. No quadro executivo do banco estão Demósthenes
Madureira de Pinho Neto (ex-diretor de Assuntos Internacionais
do BC), vice-presidente da área de
gestão de patrimônio, e Daniel
Gleizer (ocupou no BC o mesmo
cargo que Demósthenes), diretor-executivo da área de riscos.
A diretoria colegiada do BC hoje, que forma o Copom (Comitê
de Política Monetária) e decide os
juros básicos, é composta por nove membros -o presidente e oito
diretores. Itaú e Unibanco têm
hoje nove ex-BC.
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