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ECONOMIA INVISÍVEL
Para economista americana, expansão da atividade informal compromete o potencial de avanço do país
Informalidade reduz crescimento do PIB
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais do que reduzir o potencial
de arrecadação de tributos do Estado, a expansão da informalidade da economia brasileira compromete o crescimento do PIB
(Produto Interno Bruto).
"O processo de expansão do setor informal está dragando o potencial de crescimento do Brasil",
afirma Diana Farrell, economista
do McKinsey Global Institute,
braço de pesquisas da consultoria
americana McKinsey.
O instituto afirma que a economia brasileira poderia exibir taxas
de crescimento do PIB per capita
em torno de 7% ao ano. Mas, com
o atual nível de informalidade resultante, diz a economista, o Brasil dificilmente atingirá essa taxa.
Dados divulgados recentemente pela empresa mostram que o
mercado informal representa
quase 50% do PIB brasileiro. Entre os países em desenvolvimento,
esse mercado representa 40% do
produto nacional dessas economias. Já entre os países ricos, a taxa cai para 17% do PNB (Produto
Nacional Bruto), mas ainda é considerada alta pela economista
americana.
Para resolver o problema no
Brasil, avalia Farrell, não há solução de curto prazo. Mais auditores para as empresas, diminuição
da carga tributária e redução da
burocracia para a criação -e extinção- de empresas estão no rol
de sugestões.
A seguir, a entrevista concedida
à Folha por telefone.
Folha - Como a informalidade pode comprometer o crescimento do
PIB de um país?
Diana Farrell - A maioria das
pessoas pensa que a informalidade apenas limita o volume de arrecadação tributária do Estado,
mas ela causa outros problemas.
A expansão de empresas informais cria uma rede de fornecedores e consumidores que também
são informais. Isso perpetua a cadeia da informalidade. Essa situação cria o que chamo de "armadilha da baixa produtividade". As
pessoas e empresas que estão na
informalidade, e que, por isso, estão numa posição de menor produtividade, tendem a não conseguir sair dessa "área cinza" da
economia. As empresas que estão
legais também sofrem, pois têm
de enfrentar as informais, que
conseguem vender com preços
mais competitivos -e acabam levando vantagem. Isso desestimula ainda mais o mercado formal,
que não se sente motivado a investir e a buscar novas tecnologias. Com isso, o país perde competitividade também no mercado
externo. Enfim, o consumidor
perde, a economia perde. O processo de expansão do setor informal está dragando o potencial de
crescimento do Brasil.
Folha - Segundo seu relatório, a
tendência é o mercado informal
crescer no Brasil. Quais os entraves
para a legalização das empresas
que estão informais?
Farrell - O Brasil tem um nível de
tributos muito elevado. Se pensarmos no estágio de desenvolvimento que o Brasil apresenta hoje, essa carga não é compatível. O
coeficiente entre a carga tributária
e o PIB em países como México e
Estados Unidos fica em 7%, aproximadamente. No Brasil, supera
30%. Quando pegamos uma economia nesse nível de desenvolvimento e colocamos essa carga tributária sobre ela, isso certamente
a prejudicará. Outro ponto é que
há uma fiscalização ainda precária para controlar a atuação das
empresas. Não há, no Brasil, um
número adequado de funcionários, auditores e também não há
um grau adequado de conhecimento técnico. As punições para
as empresas que desrespeitam a
lei, que fraudam, são muito brandas. Outro ponto é que a informalidade é vista mais como uma
questão social. Muitos pensam
que a informalidade ajuda a tirar a
pressão dos índices de desemprego. Isso é uma falácia. Altos graus
de informalidade são prejudiciais
para todos. Lidar com todos esses
pontos é fundamental para diminuir a informalidade e fazer a economia crescer.
Folha - A expansão da informalidade é uma tendência global ou
uma peculiaridade brasileira?
Farrell - Não é uma característica exclusiva do Brasil. Países como Portugal e Turquia, em outros
em desenvolvimento e desenvolvidos, vemos níveis de informalidade que variam de 20% a 80%
-este último índice ocorre em
certos países da África. Mesmo na
Índia, o nível de informalidade
também é alto. Isso não é uma peculiaridade brasileira. Brasil, Tailândia e Turquia apresentam níveis similares de informalidade.
Folha - Qual seria um nível aceitável de informalidade no Brasil?
Farrell - Não vou dizer qual seria
o patamar adequado, pois não há
como calcular, mas esse [cerca de
50% do PIB], certamente, não é.
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