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A COBRAR
Segundo moradores, havia linhas que, quando estavam em uso, impossibilitavam ligações em casas vizinhas
Em 2001, Guarulhos recebeu telefones mudos
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Telefônica fez um enorme esforço em setembro de 2001 para
liquidar os pedidos de linhas de
telefone fixas no Estado de São
Paulo. A prioridade era zerar o
saldo de solicitações não atendidas e antecipar as metas de universalização previstas para dezembro de 2003. O resultado dessa estratégia, no entanto, foi a instalação de telefones mudos ou
com problemas intermitentes em
linhas de algumas regiões periféricas da Grande São Paulo, segundo reclamações de moradores.
A Fundação Procon de Guarulhos e moradores da periferia daquele município da Grande São
Paulo afirmam que dezenas de telefones foram instalados já mudos, sem linhas funcionando, em
setembro de 2001.
Segundo moradores, muitos teriam funcionado de fato somente
em outubro, depois de a Telefônica anunciar que estava atendendo
os pedidos de novas linhas em no
máximo 14 dias, conforme a meta
de 2003 que teria sido antecipada.
As casas da população com menor poder aquisitivo da periferia
de Guarulhos teriam sido as mais
prejudicadas. Alexandre Zeitune,
diretor da Fundação Procon de
Guarulhos, afirma que a entidade
tem pastas cheias de reclamações
de linhas instaladas e mudas em
2001. "Temos caixas e caixas com
reclamações de moradores."
O trabalho acelerado da Telefônica em setembro visou, por
exemplo, eliminar os cerca de 220
mil pedidos pendentes de novas
linhas em Guarulhos. Quase 260
mil foram de fato instaladas na cidade. Esse tipo de esforço resultou na conquista da autorização,
dada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), para
que a empresa operasse em todo o
país a partir de abril, até mesmo
com ligações de longa distância.
No entanto, isso somente ocorreu no dia 26 de julho de 2002, devido a disputas judiciais com a
Embratel. Para muitos dos moradores de Guarulhos, setembro e
até mesmo outubro ficaram marcados como um período de muita
frustração com a Telefônica.
Problemas na mesma rua
O aeroviário Cícero Dias da Silva, 30, que mora na rua da Restinga, no bairro Recreio de São Jorge,
recebeu sua linha muda no dia 5
de setembro de 2001. "Ela não
funcionava. Cerca de dez vizinhos
meus tiveram o problema na
mesma época", afirma Silva.
Ele fez várias reclamações para a
Telefônica, que afirmava que havia problemas na rede de cabos.
Depois de insistir sem sucesso
com vários pedidos para que a linha fosse de fato instalada pela
Telefônica, Silva procurou a Fundação Procon no dia 11 de setembro. "Somente depois da reclamação no Procon é que o pessoal da
Telefônica passou em casa. Levou
cerca de um mês para o conserto,
realizado em outubro."
Também a dona-de-casa Adriana Mota Tarife, 32, da rua São José
da Boa Vista, afirma que sua linha
de telefone, entregue muda em
agosto, voltou a operar apenas em
outubro daquele ano.
Segundo a dona-de-casa Cleide
Cardoso de Araújo Silva, 32, ela e
vários moradores da rua 8, no
bairro Parque Primavera, receberam em setembro do ano passado
linhas completamente mudas. A
instalação "fictícia" foi realizada
no dia 31 de agosto de 2001. Ela ligava todo o dia para a Telefônica,
em busca de uma solução. Quando encontrava um técnico da empresa na rua, cobrava a instalação.
"Um dia perguntei a um deles
quando iam de fato instalar a linha e ele me mandou comprar
um celular. Achei uma falta de
respeito." Ela afirma que teve até
de pagar uma conta de R$ 59,90
referente ao uso de um telefone
que não funcionava, além da taxa
de instalação cobrada quando sua
linha nem havia chegado em casa.
Depois de reclamar na Fundação Procon, Cleide foi atendida.
Ficou cerca de uma semana com
um telefone completamente inútil
em sua residência.
A desempregada H.A.N., que
pediu para não ser identificada,
também recebeu um telefone mudo no dia 4 de setembro, em sua
casa na rua Adalberto Bellini, no
bairro Jardim Bananal. Ela afirma
que sua linha, que havia sido
transferida de outro bairro, ficou
muda no novo endereço durante
22 dias. Foi atendida somente depois de recorrer ao Procon. "Vários de meus vizinhos tinham o
mesmo problema. A gente percebia que, quando eles ligavam um
telefone, outras linhas deixavam
de funcionar nas vizinhanças."
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