São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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A COBRAR

Segundo moradores, havia linhas que, quando estavam em uso, impossibilitavam ligações em casas vizinhas

Em 2001, Guarulhos recebeu telefones mudos

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Telefônica fez um enorme esforço em setembro de 2001 para liquidar os pedidos de linhas de telefone fixas no Estado de São Paulo. A prioridade era zerar o saldo de solicitações não atendidas e antecipar as metas de universalização previstas para dezembro de 2003. O resultado dessa estratégia, no entanto, foi a instalação de telefones mudos ou com problemas intermitentes em linhas de algumas regiões periféricas da Grande São Paulo, segundo reclamações de moradores.
A Fundação Procon de Guarulhos e moradores da periferia daquele município da Grande São Paulo afirmam que dezenas de telefones foram instalados já mudos, sem linhas funcionando, em setembro de 2001.
Segundo moradores, muitos teriam funcionado de fato somente em outubro, depois de a Telefônica anunciar que estava atendendo os pedidos de novas linhas em no máximo 14 dias, conforme a meta de 2003 que teria sido antecipada.
As casas da população com menor poder aquisitivo da periferia de Guarulhos teriam sido as mais prejudicadas. Alexandre Zeitune, diretor da Fundação Procon de Guarulhos, afirma que a entidade tem pastas cheias de reclamações de linhas instaladas e mudas em 2001. "Temos caixas e caixas com reclamações de moradores."
O trabalho acelerado da Telefônica em setembro visou, por exemplo, eliminar os cerca de 220 mil pedidos pendentes de novas linhas em Guarulhos. Quase 260 mil foram de fato instaladas na cidade. Esse tipo de esforço resultou na conquista da autorização, dada pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), para que a empresa operasse em todo o país a partir de abril, até mesmo com ligações de longa distância.
No entanto, isso somente ocorreu no dia 26 de julho de 2002, devido a disputas judiciais com a Embratel. Para muitos dos moradores de Guarulhos, setembro e até mesmo outubro ficaram marcados como um período de muita frustração com a Telefônica.

Problemas na mesma rua
O aeroviário Cícero Dias da Silva, 30, que mora na rua da Restinga, no bairro Recreio de São Jorge, recebeu sua linha muda no dia 5 de setembro de 2001. "Ela não funcionava. Cerca de dez vizinhos meus tiveram o problema na mesma época", afirma Silva.
Ele fez várias reclamações para a Telefônica, que afirmava que havia problemas na rede de cabos. Depois de insistir sem sucesso com vários pedidos para que a linha fosse de fato instalada pela Telefônica, Silva procurou a Fundação Procon no dia 11 de setembro. "Somente depois da reclamação no Procon é que o pessoal da Telefônica passou em casa. Levou cerca de um mês para o conserto, realizado em outubro."
Também a dona-de-casa Adriana Mota Tarife, 32, da rua São José da Boa Vista, afirma que sua linha de telefone, entregue muda em agosto, voltou a operar apenas em outubro daquele ano.
Segundo a dona-de-casa Cleide Cardoso de Araújo Silva, 32, ela e vários moradores da rua 8, no bairro Parque Primavera, receberam em setembro do ano passado linhas completamente mudas. A instalação "fictícia" foi realizada no dia 31 de agosto de 2001. Ela ligava todo o dia para a Telefônica, em busca de uma solução. Quando encontrava um técnico da empresa na rua, cobrava a instalação.
"Um dia perguntei a um deles quando iam de fato instalar a linha e ele me mandou comprar um celular. Achei uma falta de respeito." Ela afirma que teve até de pagar uma conta de R$ 59,90 referente ao uso de um telefone que não funcionava, além da taxa de instalação cobrada quando sua linha nem havia chegado em casa.
Depois de reclamar na Fundação Procon, Cleide foi atendida. Ficou cerca de uma semana com um telefone completamente inútil em sua residência.
A desempregada H.A.N., que pediu para não ser identificada, também recebeu um telefone mudo no dia 4 de setembro, em sua casa na rua Adalberto Bellini, no bairro Jardim Bananal. Ela afirma que sua linha, que havia sido transferida de outro bairro, ficou muda no novo endereço durante 22 dias. Foi atendida somente depois de recorrer ao Procon. "Vários de meus vizinhos tinham o mesmo problema. A gente percebia que, quando eles ligavam um telefone, outras linhas deixavam de funcionar nas vizinhanças."


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