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REFORMA
FMI conclui troca radical de cargos e põe técnicos linha-dura como responsáveis pelas economias latino-americanas
"Durões" vão negociar com Brasil e Argentina
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
O FMI (Fundo Monetário Internacional) concluiu na semana
passada uma reforma radical em
seu departamento responsável
pelas economias da América Latina. O indiano Anoop Singh, diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo, trouxe
alguns dos técnicos mais rígidos
da instituição para negociar com
os governos do Brasil e da Argentina e acompanhar de perto as
evoluções das economias desses
dois países.
O novo encarregado da economia brasileira é o argentino Jorge
Marquez-Ruarte, economista
com fama de "durão" que participou de missões do Fundo na Coréia do Sul e na Rússia. Ruarte conhece Singh há cerca de 20 anos,
tendo trabalhado com ele na divisão de Ásia e Pacífico do FMI, antes de transferir-se para um dos
departamentos de Europa do
Fundo.
Com a indicação de Ruarte, a
economia brasileira deixará de ser
seguida de perto por Lorenzo Perez, atual diretor-assistente do
Departamento do Hemisfério
Ocidental do FMI. Perez vai continuar no cargo, mas perderá sua
interlocução direta com o governo brasileiro.
Como resultado, é de se esperar
que a próxima equipe econômica
brasileira seja obrigada a negociar
com uma equipe do FMI ainda
mais severa que a atual em termos
de ajuste fiscal, política monetária
e controle inflacionário.
Para monitorar a Argentina,
Singh colocou outra pessoa de sua
confiança: o inglês John Dodsworth, que, com o indiano, participou das difíceis negociações do
FMI com o governo da Indonésia,
em 1998 e em 1999.
Reforma profunda
Essas nomeações representam
um aprofundamento da reforma
que vem sendo implementada
por Singh desde que chegou ao
cargo, em fevereiro deste ano. Ex-subdiretor do Fundo para as regiões da Ásia e Pacífico, Singh foi
"promovido" por determinação
de Horst Kohler, diretor-gerente
do FMI.
Kohler estava insatisfeito com a
atuação de Loser e com a de seu
vice, Thomas Reichmann, os
quais considerava "pouco rígidos" e "ineficientes" em seus esforços para convencer o governo
argentino a realizar cortes de gastos e reformar leis.
Em fevereiro, Loser foi retirado
do comando das negociações
com a Argentina. Em junho, perdeu para o indiano não só a responsabilidade sobre a economia
do país, mas sobre todo o departamento.
"Soldados asiáticos"
As mudanças mais recentes incluem não só a indicação de Ruarte e de Dodsworth, mas também
de outros técnicos ligados pessoalmente a Singh. Entre eles, o
canadense Guy Meredith e o austríaco Markus Rodlauer - este
também originário do Departamento Ásia Pacifico. Singh já havia trazido para o Departamento
Charles Collyns, outro soldado de
seu "exército asiático".
Ruarte, o novo homem do FMI
para o Brasil, escreveu, em 1985,
um trabalho sobre a economia da
Coréia do Sul que transformou-se
em referência acadêmica sobre
ajustes econômicos de sucesso
("A Case of Successful Adjustment: Korea's Experience During
1980-84" - "Um Caso de Ajuste
Bem Sucedido: a Experiência Coreana entre 1980-84").
Durante a crise russa iniciada
em 1998, encarregou-se de ressuscitar o pacote do FMI depois de
um rumoroso caso de corrupção
envolvendo o uso indevido de recursos enviados pelo Fundo ao
Banco Central do país.
Internamente, Ruarte comunicou à direção do FMI que o sucesso da economia russa dependia
da renovação política no país.
Embora não lidasse oficialmente
com economias de países latino-americanos, Ruarte opinou, durante várias conversas desde 1997,
que o regime de conversibilidade
entre o dólar e o peso na Argentina era inviável e conduziria o país
à crise.
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