|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA
Para o presidente da Amcham, industriais não levam bloco a sério
Não adianta ficar "bravinho"
pela Alca, afirma Haberfeld
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O recém-eleito presidente da
Amcham (Câmara Americana de
Comércio) de São Paulo, Sérgio
Haberfeld, 59, não considerou
uma ofensa a proposta feita pelos
EUA para a Alca (Área de Livre
Comércio das Américas).
Para Haberfeld, "em negociação, nada é ofensivo. Não precisa
ficar bravinho". O Brasil precisa,
diz, negociar de uma forma dura
com os EUA para que os dois países saiam ganhando. Haberfeld
pretende convocar os empresários para um mutirão de ajuda ao
governo na negociação da Alca.
Segundo o empresário, que preside o conselho de administração
da empresa de embalagens Dixie
Toga e é membro do Conselho de
Desenvolvimento Econômico e
Social, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva tem o perfil ideal para negociar a Alca com os EUA. "É
um homem simpático, sabe se
posicionar e bate duro", afirmou.
Haberfeld, que foi um dos primeiros empresários a manifestar
apoio à candidatura de Lula, não
deixou de fazer críticas ao governo FHC na negociação da Alca.
"O problema é que o governo Fernando Henrique promoveu uma
política ideal para um país desenvolvido, que não é o nosso caso."
Folha - O que o sr. achou da proposta americana para a Alca?
Sérgio Haberfeld - Quando os
americanos jogaram a oferta na
mesa, que fez com que todo mundo no Brasil ficasse nervosinho, o
que eles estão fazendo é apenas
iniciando a negociação. Na hora
que fazem uma proposta de negociação, a gente não precisa ficar
bravinho, nem ofendido. Nós temos é que contrapropor. Em negociação, nada é ofensivo. Temos
uma tendência a nos ofender e a
achar que uma proposta como
aquela é o fim do mundo. Numa
negociação, posso propor qualquer coisa. Você quer vender o
seu carro por R$ 10 mil e eu ofereço R$ 1. Você pode me mandar
para aquele lugar, mas aí você seria um idiota. Faça-me uma contraproposta. Na hora que o americano diz que o Brasil deveria negociar na Antártida, nós deveríamos mandar ele negociar no Iraque. O problema é que os americanos estão muito bem preparados para a negociação.
Folha - E o Brasil?
Haberfeld - O Itamaraty, para
mim, é um dos órgãos mais bem
preparados teórica e intelectualmente para a negociação da Alca.
O que está faltando? O que falta é
os empresários, principalmente
do setor industrial, abastecerem o
Itamaraty de informações. A agricultura já está preparada. Os empresários ligados à agricultura já
estão se preparando há mais tempo. Os industriais ainda estão longe de levar a sério a Alca e têm tomado uma posição que me irrita
muito, que é de simplesmente
achar que irão morrer com a Alca.
É aquela mesma teoria idiota de,
em vez de estudar, o estudante pede à professora para adiar a prova.
Folha - O que o sr. pretende fazer
na Câmara Americana?
Haberfeld - A Câmara Americana pode servir como um elo de ligação dos americanos com os
brasileiros. Nós podemos construir uma ponte para ligar os EUA
na questão da Alca. Hoje, os dois
lados estão ligados apenas por
uma corda. Com a construção
dessa ponte, é possível imaginar
que americanos e brasileiros
saiam ganhando. Essa ponte tem
que envolver também Argentina,
Paraguai e Uruguai, além de Canadá e México. A Câmara Americana pode facilitar isso.
Folha - Como?
Haberfeld - Em primeiro lugar,
por intermédio das empresas
americanas no Brasil e do acesso
que nós temos aos EUA. Podemos
conseguir apoio desse pessoal para a abertura do mercado americano. Ao mesmo tempo, temos
condição de fazer um trabalho no
governo brasileiro, para, em contrapartida, liberar alguns setores
brasileiros para a importação.
Texto Anterior: O papel dos EUA Próximo Texto: Para Amcham, perder bloco é perder mercado dos EUA Índice
|