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País não pode depender de exportações agrícolas, afirma Haberfeld
Para Amcham, perder bloco é perder mercado dos EUA
DO PAINEL S.A.
Na conclusão da entrevista, o
empresário Sérgio Haberfeld diz
quais são os setores que deverão
sofrer mais com a implantação da
Alca (Área de Livre Comércio das
Américas). O novo presidente da
Amcham (Câmara Americana de
Comércio) de São Paulo afirma
que o país precisa investir em tecnologia de ponta para não depender apenas do agronegócio.
Folha - A indústria brasileira está
preparada para a Alca?
Haberfeld - A indústria diz que
não vai aguentar, que, se vier a
concorrência americana, vai morrer. Eles produzem muito mais, o
custo deles é mais baixo. Não se
negocia dessa forma. Alguns setores da indústria brasileira têm
condições de enfrentar a Alca, outros não. O setor de papel e celulose, por exemplo, tem condições
de enfrentar a Alca, o de tecidos
também, assim como o de calçados e o agrícola, que está melhor
do que qualquer um. Já o setor de
mecânica pesada, não sei, não conheço o suficiente, mas tenho a
impressão de que teria condições
de enfrentar a Alca. O setor que
não está em condições, por exemplo, é o de eletroeletrônico. Nós
estamos defasados nessa área.
Nós precisamos de um apoio
muito grande nas áreas de pesquisa e desenvolvimento. Enfim,
criar mais mentes para pensar e
desenvolver a nossa tecnologia
para termos alguma coisa de ponta, que é o que mais valor tem. O
que não pode é virarmos só exportadores agrícolas. O preço dos
produtos agrícolas é o mais aviltado do mundo.
Folha - Sem a Alca, o que aconteceria com o Brasil?
Haberfeld - Não podemos perder um dos maiores mercados do
mundo, que são os EUA. Se o Brasil ficar fora da Alca, ficamos totalmente fora do mercado americano e talvez do canadense e do
mexicano. É isso que me preocupa. A grande exportação brasileira tem sido para os EUA.
Folha - O governo deu indicações
de que vai endurecer com os EUA?
Haberfeld - Vai negociar, como
já deveria ter negociado sempre.
Para mim, endurecer é sinônimo
de negociar. Não tem mais esse
troço de ser bonzinho, de ser gentleman, cavalheiro. Acabou a negociação, nós vamos na esquina
tomar um uísque, bater um papo,
sermos ultra-amigos, mas sentou
na mesa de negociação, eu defendo o meu e você defende o seu.
Folha - O sr. acha que o governo
Fernando Henrique Cardoso não
foi duro na negociação da Alca?
Haberfeld - O Celso Lafer (ex-ministro das Relações Exteriores)
foi um cara muito positivo, que
ajudou muito na negociação da
Alca, mas o problema é que governo Fernando Henrique promoveu uma política ideal para
um país desenvolvido, que não é o
nosso caso. Para uma França, o
governo FHC teria sido uma maravilha. Nós temos que ser muito
mais rústicos, muito mais duros.
Não necessitamos falar cinco línguas e nos apresentar nos
Champs Elysées. Temos que nos
apresentar na Argélia, falando argelino e com ar de necessitado.
Não podemos dar uma de rico
não sendo rico. O Brasil não precisa dessa figura de estadista do
Fernando Henrique, e sim de um
bom governo que resolva os problemas do país de forma rústica.
Folha - O presidente Lula é o
ideal, então?
Haberfeld - O Lula tem o perfil
ideal. É um homem simpático, sabe se posicionar e bate duro. Negociou a vida inteira pelo sindicato. Não existe melhor negociador
de que um sindicalista da CUT.
Quando começa a ficar bonzinho,
é trocado. Essa é a teoria da CUT.
Negociei durante muito tempo
com sindicalistas da CUT. Aprendi muito com eles. O PT é imbatível na negociação. Nós, empresários, associações empresariais,
precisamos começar a entrar na
negociação. A pior solução é a de
fazer um movimento contra a Alca. O melhor é ir para a negociação, até não chegar a um acordo.
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