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FUGA DO RISCO
Para economista, recuperação é só ajuste de expectativa sobre novo governo e Brasil ainda vai sofrer com guerra
Otimismo é queima de gordura, diz analista
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Após quatro anos de queda de
investimentos externos, fatores
como a diminuição do risco-país
e maior procura de investidores
estrangeiros têm animado o mercado em 2003, mesmo com o
atual cenário de guerra.
Apesar disso, o comportamento
do mercado do início do ano para
cá é encarado pelo doutor em economia Rogério Sobreira, professor da Ebape (Escola Brasileira de
Administração Pública e Empresas) da Fundação Getúlio Vargas,
como uma "leve recuperação"
após o temor exagerado do mercado com o governo Lula.
Para Sobreira, os investidores
estrangeiros devem retrair seus
investimentos no país durante a
guerra e manter uma posição
conservadora. "Essa retração pode durar até um ou dois meses
após o fim da guerra", diz. Leia
entrevista concedida à Folha.
Folha - Como o Brasil será afetado pela guerra?
Rogério Sobreira - O modelo
econômico brasileiro ainda depende decisivamente de fluxo de
capitais para fechar o balanço de
pagamentos. Nosso regime de
câmbio é a grande variável que
absorve choques externos. Como
não temos independência de fluxos de investimentos, quando há
movimentos súbitos, como a
guerra, ou escassez de investimentos externos, o câmbio tende
a se desvalorizar. Há repasse para
os preços. Como vamos ter efeito
sobre fluxo de capitais, não vamos
estar imunes à guerra.
Folha - Mas a recuperação de investimentos não vem ocorrendo?
Sobreira - O que está acontecendo é um ajuste de expectativas,
uma perda de gordura. O risco-país foi superestimado no final do
ano passado por causa da preocupação com a polícia econômica
do novo governo. Nos dois primeiros meses deste ano houve leve aumento nos investimentos
externos, mas apenas se compararmos com os últimos meses de
2003. Em relação ao início de
2002, há o mesmo nível de investimentos ou até menos. Se não houvesse esse cenário de guerra, o risco estaria ainda menor em relação
ao ano passado.
Folha - O medo do governo Lula
afetou mais o mercado do que a
guerra?
Rogério Sobreira - Com certeza.
A guerra foi anunciada, e a expectativa é que o conflito seja curto e
quase "indolor" para o mundo
ocidental. No entanto, se a guerra
durar muito, os agentes podem
inverter suas expectativas. Nesse
caso vamos ter impactos maiores.
Folha - Qual a perspectiva de investimentos externos no país durante a guerra?
Rogério Sobreira - Com esse cenário de incertezas maiores, é natural que gestores de fundos tendam a manter posições mais conservadoras. Nos próximos meses,
os investimentos externos devem
sofrer leve retração se comparados a essa fase de suave recuperação dos últimos meses. Essa retração deve durar até um ou dois
meses após o fim da guerra.
Folha - Como deve se comportar o
dólar nas próximas semanas?
Rogério Sobreira - A taxa de
câmbio vai ficar muito mais volátil nas próximas semanas, e acredito que a tendência é a desvalorização do real. De quanto exatamente não dá para saber. As negociações vão cair em razão da fuga do mercado de capitais, portanto o câmbio vai ser parcialmente comandado por um volume não tão substantivo e por isso
com capacidade de produzir
maior volatilidade.
Folha - Depois do ataque ao Iraque, alguma coisa pode mudar nas
negociações do Brasil com os Estados Unidos na Alca?
Rogério Sobreira - Os Estados
Unidos devem sair fortalecidos
dessa guerra, e acredito que vá haver uma ação do estilo rolo compressor na Alca. Com maior poder político, os americanos vão se
sentir bem mais à vontade para
impor o seu modelo.
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