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DESEMPENHO
Modernização, investimento menor, produtividade maior e terceirização fazem setor deixar de contratar nos últimos anos
Construção civil gera menos empregos
Jorge Araújo/Folha Imagem
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Operário trabalha em obra na avenida Rebouças, em São Paulo; o PIB da construção civil teve redução de 8,6% no ano passado |
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A construção civil deixou de ser
um dos principais alicerces do
mercado de trabalho. Aumento
de produtividade da mão-de-obra, novas tecnologias, baixo investimento em infra-estrutura e
expansão da terceirização levaram o setor a perder posição no
ranking dos setores com potencial de criar empregos no país.
Se entre os anos 70 e 90 a construção civil estava entre os cinco
setores que mais contratavam no
país, hoje ocupa a 17ª posição, segundo estudo divulgado pelo
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em março deste ano.
O setor tem sofrido severamente os reflexos da conjuntura econômica do país, aponta estudo do
Instituto de Economia da UFRJ,
coordenado pelo professor João
Saboia, que acaba de ser concluído a pedido da OIT (Organização
Internacional do Trabalho).
"A combinação de juros altos,
renda em queda, desemprego elevado, demanda interna deprimida e restrição no crédito é fatal para o desempenho dessa atividade
industrial", menciona o estudo.
O PIB (Produto Interno Bruto)
da construção civil está em queda
há três anos. Em 2003, caiu 8,6%
na comparação com o ano anterior, a maior redução desde 1991.
O número de trabalhadores da
construção civil -que já chegou
a 4 milhões no país- é da ordem
de 1,2 milhão, segundo estimativa
de representantes do setor. Só a
modernização tecnológica eliminou 757 mil empregos de 1990 a
2001, de acordo com a UFRJ.
"O setor passa por uma lenta e
irreversível revolução no processo de produção, com conseqüência na estrutura e na geração de
emprego", informa Hildeberto
Bezerra Nobre Jr., em trabalho
feito para a Unicamp. "As grandes construtoras incorporaram
modelos produtivos que, além de
diminuir o tempo de conclusão
das obras, diminuíram consideravelmente a necessidade de trabalhadores nos canteiros de obras."
A construtora Camargo Corrêa
-que chegou a empregar 30 mil
pessoas durante os anos 80 e hoje
tem 13 mil em seu quadro de funcionários- informa que são necessários dois homens/hora para
produzir um metro quadrado de
concreto. Há 20 anos, eram dez.
"Os métodos de trabalho mudaram. Antes, o trabalhador pegava
madeira, cortava na carpintaria e
levava até a obra. Hoje, esse material é industrializado, chega pronto à obra", afirma José Penteado
Navarro, diretor da construtora.
Para construir um conjunto de
três prédios residenciais, com 20
andares cada, eram necessários
1.050 trabalhadores e 36 meses,
afirma Antonio Sousa Ramalho,
presidente do Sintracon (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São
Paulo). O mesmo empreendimento utiliza hoje 350 homens e
leva 18 meses para ser erguido.
Como conseqüência dessas mudanças, a taxa de desemprego do
setor disparou a partir de 1995. É a
mais elevada no conjunto da economia. Em 1995, atingia 6,2% da
PEA (população economicamente ativa). Em 2002, chegou a 8,5%,
revela o estudo da UFRJ, com base em dados do IBGE (que mede o
desemprego em seis regiões metropolitanas do país). Rio de Janeiro tem a menor taxa. Salvador
e Recife, as maiores.
O estudo mostra ainda que o
emprego com carteira assinada
aumentou 2,7% entre 1995 e 2002.
Já o sem carteira, 27%, e o trabalho por conta própria, 12,7%.
"A contratação da mão-de-obra
na construção civil sofreu intensas mudanças, com a utilização
mais acentuada de serviços terceirizados, que estão, em muitos casos, relacionados com o aumento
de informalidade e a disseminação da remuneração por tarefa ou
por dia [o chamado tarefeiro]",
informa Nobre Jr. As empresas de
médio e pequeno porte são as que
mais optam pela terceirização,
com o uso de empreiteiros (pessoas físicas) -os "gatos".
"Se eu empregasse com carteira
assinada e pagasse os impostos, já
teria fechado meu negócio", diz
José Silveira, que trabalha no setor
de gesso.
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