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Calçados e vestuário caem no varejo
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O varejo de calçados e vestuário
é o maior perdedor em desempenho de vendas neste ano. A melhora nos indicadores do comércio em 2004 não se refletiu no desempenho desses dois segmentos,
que movimentam, juntos, R$ 4 bilhões em negócios por mês.
A deflação na categoria -os
preços dos sapatos, por exemplo,
caem desde o início de março- e
as ofertas-relâmpago deram um
certo fôlego, mas ainda insuficiente.
Enquanto as companhias de
móveis e eletrônicos registraram
expansão de 23,78% no volume
comercializado de janeiro a março, em relação a igual período de
2003, calçadistas e lojas da área de
vestuário cresceram apenas 1%.
Esses dados foram publicados
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) na semana
passada, como parte da Pesquisa
Mensal de Comércio.
Os resultados mostram que o
aumento nas vendas de todos os
segmentos (combustíveis, supermercados, calçados, vestuário,
entre outros) acontece em relação
a uma base fraca. Ou seja, em cima de um desempenho negativo
registrado em 2003.
Mesmo assim, há setores com
uma velocidade de expansão menor neste ano em relação a outros
segmentos. Exemplo: se as lojas
de roupas e calçados expandiram
as vendas em 1% no primeiro trimestre, as concessionárias registraram alta de 12,65%.
O desempenho sem expressão
da área de bens semiduráveis
acontece, afirmam as entidades
representativas da área, por conta
das próprias características do setor. Em primeiro lugar, esse comércio não depende de crédito
bancário para crescer.
O varejo eletrônico, com mercadorias de alto valor agregado, depende bem mais. Como houve
um aumento na disponibilidade
desses recursos nos últimos tempos, com os bancos públicos
abrindo linhas de crédito a juro
menor, o comércio de eletrônicos
foi beneficiado. Já as lojas de roupas e calçados, não.
Concorrência
Ao mesmo tempo, o varejo de
bens semiduráveis disputa o bolso do consumidor com outros setores, como alimentos e remédios, que são itens de primeira necessidade. Com a renda minguada, é natural que itens como calçados e roupas deixem de ser
prioridade.
"Continua tudo travado. Acerta-se em um ou outro negócio,
mas o que está gerando mesmo
emprego e aumento na receita é a
exportação, que não está nesses
números que refletem o mercado
interno", diz Elcio Jacometti, dono da Jacometti Indústria de Calçados e presidente da Abicalçados, entidade que representa as
companhias do setor.
Dados da POF (Pesquisa de Orçamento Familiar) do IBGE mostram que a família brasileira gasta
em média R$ 62,28 por mês com
mercadorias da área de vestuário.
Já com calçados, o valor é de R$
20,93 ao mês. No total, ao levar
em conta o volume de brasileiros
que compram atualmente (48,5
milhões de famílias), pode-se afirmar que a receita mensal do comércio de vestuário no país chega
a até R$ 3 bilhões.
No caso dos calçados, o volume
atinge R$ 1 bilhão por mês.
Segundo a Pesquisa Mensal de
Comércio do IBGE, no acumulado dos últimos 12 meses (de abril
de 2003 a março de 2004), a venda
nos dois setores acumula queda
de 2,79%, "o que mantém o segmento como o destaque negativo
do varejo", informa.
De acordo com dados da Abravest (Associação Brasileira de
Vestuário), houve uma queda de
18% no faturamento da indústria
de vestuário de janeiro a março,
em relação a 2003.
Inadimplência
"A única forma de tentar melhorar os resultados é criar formas
de reduzir a inadimplência do
consumidor. É preciso chamar o
cliente para conversar e renegociar as dívidas, ou vamos acabar
no final do ano com vendas de
Natal ruins novamente", afirma
Roberto Chadad, presidente da
Abravest. Uma eventual disparada nos preços tende a afastar os
consumidores das lojas. No caso
do varejo de roupas e calçados, o
que há, no entanto, é a deflação.
Números da Fipe (Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas) mostram que, desde o início
de março (de 8 de março a 15 de
maio), há quedas consecutivas no
valor dos calçados. No caso das
roupas masculinas, o reajuste
promovido pelo varejo em abril
ficou abaixo da inflação do mês,
que atingiu 0,29%.
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