|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REVOADA
Responsáveis por grandes fundos se mostram otimistas com emergentes e dizem que vão aplicar mais em papéis brasileiros
Para megainvestidor, país ainda é atraente
DA REPORTAGEM LOCAL
DE NOVA YORK
Os maiores investidores nos
mercados emergentes afirmam
que, apesar de turbulências na
América Latina, a região e o Brasil
continuam a ser atraentes.
De acordo com Mohamed El-Erian, da corretora Pimco (Pacific
Investment Management Company), a fuga de investidores dos
mercados latinos não é um retrato
de problemas nos fundamentos
econômicos desses países. Ela é,
na verdade, um ajuste ao novo desenho da política monetária americana. "O mercado está se ajustando a um novo ciclo", diz.
Mas o investidor se mostra otimista com relação ao Brasil.
"Num primeiro momento, nossa
reação inicial foi recomendar a
saída de "hedge funds" [fundos
que aplicam em qualquer tipo de
ativo] na região. A próxima fase,
que começa agora, é investir mais
em papéis brasileiros, pois estão
extremamente atraentes."
El-Erian é conhecido por investir em emergentes em momentos
em que alguns investidores pouco
acostumados com a extrema volatilidade desses mercados diminuem suas posições. Em meio à
crise que antecedeu a eleição presidencial em 2002, o investidor
não apenas manteve os seus papéis brasileiros como também
aproveitou para comprar mais. A
Pimco detém mais de US$ 390 bilhões em títulos da dívida de países emergentes e ricos.
Outro que se mostra confiante é
Jerome Booth, economista da
corretora Ashmore -que gerencia US$ 471 bilhões em ativos. Ele
afirma que não há crise nos mercados emergentes e que o nervosismo atual não deve afetar o ano
como um todo. Para ele, 2004 deve ser "melhor do que a média".
Segundo Booth, países como o
Brasil têm sido favorecidos por
um cenário positivo de investimentos nos últimos 18 meses. Esse resultado vem mais de fatores
internos às economias dos países
desenvolvidos do que de características específicas das economias
emergentes, como melhorias nos
fundamentos ou altas taxas de juros. Para Booth, esse quadro nos
emergentes deve perdurar.
Ele aponta outra razão: os fundos de pensão americanos precisariam recuperar perdas que tiveram nos últimos anos. Ele diz
acreditar que esses fundos necessitem atualmente de taxas de retorno superiores a 8% ao ano
-segundo cálculos que não esclareceu. O melhor investimento
para eles, que tendem a aplicar no
longo prazo, afirma o economista, continuará a ser os títulos das
dívidas dos países em desenvolvimento -dos poucos a darem retornos substanciais.
Não há mais um cenário de predominância de investimentos de
curto prazo, e os grandes fundos,
que são os que importam, estariam dispostos a continuar alocando recursos para América Latina e, em especial, para o Brasil.
Booth afirma não saber quanto
tempo deve demorar a atual instabilidade nos mercados financeiros emergentes, mas disse que
desde já a recomendação de sua
corretora é por investimentos de
longo prazo no país.
Leste Europeu em alta
Para James Barrineau, vice-presidente para mercados emergentes da corretora Alliance Capital, a
atual crise de liquidez em países
como o Brasil deve durar "pelo
menos até a próxima reunião do
Fed [o banco central americano]", em junho. "E eu diria até depois disso, porque as pessoas ficarão preocupadas se o Fed vai continuar a aumentar os juros até o
ano que vem", emenda.
De acordo com projeções do
Barclay's Capital, o Fed deve elevar a taxa em 0,25 ponto percentual em agosto. Em setembro, a
instituição deve promover um aumento de 0,50 ponto e mais outro
de 0,50 em novembro.
O dinheiro retirado recentemente de certos mercados emergentes, afirma Barrineau, "não
deve voltar em um futuro próximo" -ao menos não como vinha
fazendo nos últimos meses.
Barrineau também diz não haver muitas diferenças entre os
grandes e pequenos investidores
na aversão ao risco e na retirada
de dinheiro dos mercados emergentes neste momento. "Existe
uma sensação generalizada de
aversão ao risco. Após três bons
anos nos mercados emergentes,
era claro para todo mundo que
este ano seria mais difícil."
Para Barrineau, para piorar o
cenário, um agravante momentâneo para a América Latina pode
ser a atratividade dos mercados
emergentes da Europa do leste
-vistos como menos arriscados.
El-Erian também afirma que esses mercados têm atraído grande
volume de investimentos, mas
avalia que não é possível falar em
migração da América Latina para
os emergentes europeus.
(CÍNTIA CARDOSO E RAFAEL CARIELLO)
Texto Anterior: Revoada: América Latina enfrenta queda de liquidez Próximo Texto: Entenda a pesquisa: Índice considera indicadores dos bancos centrais Índice
|