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AgroFolha
Arroba do boi caminha para R$ 100 em SP
Frigoríficos já pagam até R$ 96; no mercado futuro, negócios para outubro já são realizados por valores acima de R$ 100
Reflexo desses aumentos é sentido pelo consumidor, que nos últimos 12 meses pagou mais 27% para ter
o produto na mesa de casa
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O período de churrasco barato está terminando. Alguns frigoríficos chegaram a pagar R$
96 pela arroba de boi. No mercado futuro, o valor já superou
R$ 100 neste mês. Ontem fechou abaixo desse patamar. Isso significa alta de 63% em relação aos valores de há um ano.
A alta começa a se refletir no
bolso dos consumidores que,
nos últimos 12 meses, pagaram
mais 27% pela carne bovina em
São Paulo. A inflação no período foi de 5,4%, segundo a Fipe.
A alta fez os frigoríficos exportadores também mudarem
de estratégia. Os contratos agora são fechados para apenas
uma quinzena. Afinal, os riscos
para os frigoríficos podem vir
de duas pontas: queda do dólar
e alta da arroba.
Duas perguntas ecoam pelo
setor: quanto tempo dura esse
período de alta e até onde vão
esses preços? Ninguém se arrisca em respostas concretas,
principalmente porque novos
componentes de pressão nos
preços se acumulam a cada dia.
Os motivos iniciais dessa escalada dos preços do boi no pasto já eram previstos. A pecuária
amargou preços baixos por vários anos, perdeu competitividade e começou a abater fêmeas. Com isso, houve diminuição na oferta de bezerros e,
conseqüentemente, redução de
bois prontos para o abate.
Oferta menor de gado, somada à liderança nacional nas exportações mundiais de carnes e
ao consumo interno crescente,
devido ao aumento de renda,
fez com que os preços internos
mudassem de patamar.
Esse aumento eleva a margem de ganho dos pecuaristas,
que aumentam os investimentos. Seguindo esse ciclo normal,
a oferta de bois poderia voltar
ao normal a partir de 2010.
Novos fatores, no entanto,
começam a interferir nesse ciclo de alta, que poderá ser mais
longo do que o previsto, na avaliação de José Vicente Ferraz,
diretor-técnico da AgraFNP.
Um deles é o aumento de
custos. "Essa alta ainda é uma
recuperação das perdas dos últimos cinco anos, mas os insumos sobem acima da evolução
da arroba de boi", diz o zootecnista e pecuarista Luis Antonio
Setubal. Ou seja, os preços da
carne vão continuar em alta.
"Mas é difícil prever até quando", diz Setubal.
"Me diga até onde vão os preços do petróleo que eu digo até
onde vai a arroba de boi", diz
ele. Isso porque o custo do fertilizante, em grande parte, depende do petróleo e está entre
os principais componentes de
pressão aos pecuaristas. O petróleo influencia, ainda, transportes e outros insumos.
Efeito EUA
Os preços da arroba subiram,
mas com a alta dos custos fica
difícil saber o quanto realmente os pecuaristas estão obtendo
de rentabilidade, diz Ferraz.
Além dessas pressões internas, os preços do boi devem
sentir ainda as recentes mudanças no quadro de oferta e
demanda de grãos no mercado
internacional. As enchentes
nos Estados Unidos vão adiar a
reposição de estoques de milho, o que vai tornar ainda mais
cara a produção de carnes para
os norte-americanos e para os
europeus, segundo Ferraz.
Mesmo com a queda de oferta de boi por aqui, o Brasil deve
continuar sendo um dos principais fornecedores de carne bovina no mundo. A incidência de
secas em algumas regiões da
Austrália dificulta o desenvolvimento da pecuária por lá; o
Uruguai chegou ao limite de
área e agora depende de elevação da produtividade; a Argentina impõe cotas às exportações; e os EUA e a Europa, que
dependem do milho na pecuária, têm custos mais elevados, o
que deve inibir a produção.
Esses fatores podem manter
a arroba da carne bovina em R$
95 neste ano e em R$ 105 no
próximo, segundo o diretor-técnico da AgraFNP.
Alguns analistas mais pessimistas acreditam que os confinamentos devem diminuir no
segundo semestre nos EUA, devido aos custos elevados dos
grãos, abrindo ainda mais espaço para a carne brasileira que,
no mercado interno, poderia
bater em R$ 110 por arroba.
Fábio Rodas, também pecuarista, diz que "a coisa não poderia ficar como estava. O pecuarista não tinha lucro e o Brasil
cheirava a churrasco". Hoje,
mesmo com a arroba a R$ 95,
ainda há pouco lucro devido ao
aumento de custos, diz ele.
Na avaliação de Rodas, o consumidor vai sentir no bolso o
aumento, que não foi todo incorporado ainda. A alta das últimas semanas no açougue ainda reflete a arroba a R$ 85.
Em breve, os consumidores
vão começar a pagar o correspondente à arroba de R$ 90.
Esse aumento escalonado vai
tirar parte dos consumidores
da carne bovina. O pior é que as
carnes suína e de frango também sobem, avalia ele.
Paulo Castro Marques, da
Casa Branca Agropastoril, com
fazendas em Minas Gerais e em
Mato Grosso, diz que o ciclo de
baixa teve um ponto positivo:
os pecuaristas depuraram o rebanho, o que deveriam fazer
com rotina.
Agora, há uma preocupação
na recomposição do rebanho,
diz Marques. "O pecuarista
quer mais qualidade." Com isso, os preços dos reprodutores
com garantia também sobem.
Há um ano e meio, o pecuarista vendia seus touros pelo
valor médio de R$ 3.000 a R$
3.500. Neste ano, valem de
R$ 5.000 a R$ 8.000.
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