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OMC mantém impasse mesmo com novo formato
Reunião muda e diretor-geral inicia conversas reservadas com sete ministros
Estratégia é considerada
mau prenúncio por não
haver avanço com relação às
principais divergências que
travam a Rodada Doha
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Eram quase 23h30 em Genebra quando o chanceler brasileiro, Celso Amorim, deixou
ontem a sede da OMC (Organização Mundial do Comércio)
sem fazer comentários, após
mais de oito horas de discussões para tentar romper o impasse nas negociações da Rodada Doha.
Era apenas uma pausa: o terceiro dia de reuniões em Genebra foi de duras negociações e
progressos modestos, e os ministros decidiram entrar pela
madrugada para salvar a Rodada. No dia anterior, diante da
dificuldade em obter avanços
num fórum com representantes de mais de 30 países, o diretor-geral da OMC, Pascal
Lamy, havia mudado o formato
da reunião, reduzindo as discussões a sete ministros.
Mas depois de horas trancados ontem, Brasil, Índia, Estados Unidos, União Européia,
China, Austrália e Japão ainda
não haviam avançado o suficiente, forçando Lamy a interromper a reunião. Teve início
então o que é conhecido como
"confessionário", no jargão da
OMC, com conversas reservadas do diretor-geral com cada
um dos ministros.
A iniciativa de Lamy de implantar o confessionário foi interpretada como um mau prenúncio. "Nas divergências
principais não houve avanço",
disse à Folha um negociador.
"Cada um está mantendo
suas posições e está difícil ir
adiante". Por outro lado, a disposição de todos os sete ministros de continuar negociando
foi considerada um bom sinal.
"Todos acham que um acordo é
possível", disse o negociador.
Ao longo do dia, os sinais haviam sido difusos quanto às
chances de aproximar as posições. Ausente dos dois primeiros dias da reunião para acompanhar a votação no Parlamento que quase derrubou seu governo, o ministro indiano do
Comércio, Kamal Nath, voltou
ontem a Genebra jogando a
responsabilidade pelo sucesso
da Rodada nos países ricos.
"Não estou aqui para distribuir amostras grátis sem receber algo em troca", disse Nath,
que disse ter voltado com motivação renovada após a vitória
do partido de seu governo no
Parlamento indiano. Mas alertou de que um acordo em Genebra dependia de uma concessão maior dos países ricos.
"Esta é uma Rodada em que
os países desenvolvidos devem
colocar algo sobre a mesa, não
procurar nos bolsos dos países
em desenvolvimento."
Os principais temas em discussão continuam sem apresentar progressos. Um deles é o
nível de subsídios agrícolas
concedidos pelos EUA. A proposta de reduzir para US$ 15
bilhões anuais feita pela representante do Comércio dos
EUA, Susan Schwab, continua
sendo considerada insuficiente
por Brasil e Índia. No encontro
de ontem Schwab continuou
resistindo a melhorar a oferta.
Brasil e Índia, por sua vez,
continuam a resistir à pressão
de Estados Unidos e União Européia em reduzir suas tarifas
industriais. Um interlocutor do
ministro Celso Amorim disse à
Folha que os europeus haviam
acenado com concessões no
acesso a seus mercados agrícolas, o que foi considerado um sinal de que as discussões podem
seguir adiante.
Horas antes, num encontro
bilateral, Amorim e Nath, também demonstraram ter divergências. O chanceler brasileiro
pediu ao indiano que moderasse sua exigência por salvaguardas para limitar a importação
agrícola. Nath quis saber também como está a discussão sobre o álcool. O chanceler brasileiro disse que o Brasil não abre
mão de um acordo que lhe permita ganhar mercado para o
combustível, com a queda de
barreiras nos EUA e na UE.
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