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Petrobras pode ter 10% do PIB em 2020
Peso da estatal na riqueza do país hoje é inferior a 5%; estimativa não leva em conta todo o potencial dos novos campos do pré-sal
Pesquisa de professor da UFRJ traça três cenários
para o futuro da estatal; no mais otimista, participação chegaria a 11,52% do PIB
ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO
O peso da Petrobras na economia brasileira pode dobrar
na próxima década, chegando a
cerca de 10% do PIB (Produto
Interno Bruto, soma de bens e
serviços produzidos no país)
em 2020- isso sem levar em
conta o grosso da produção dos
campos de petróleo do chamado pré-sal.
O levantamento, realizado
pelo professor Adilson de Oliveira, do Instituto de Economia
da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), prevê
três cenários: com o barril de
petróleo custando US$ 80, US$
100 e US$ 120 no mercado internacional.
Nos três cenários, a pesquisa
parte de uma mesma estimativa: a de que a produção diária
da Petrobras alcançará 2,3 milhões de barris em 2010, saltará
para 3,5 milhões em 2015 e
atingirá 5 milhões de barris em
2020.
"Isso marcará uma etapa
fundamental: o país passará a
ser exportador. Na estimativa,
consideramos a produção dos
chamados campos do pré-sal
numa perspectiva inicial. Ou
seja, são projeções bastante
conservadoras em termos de
produção", diz Oliveira, que
coordena o grupo de energia da
UFRJ e é considerado um dos
maiores especialistas do país
no tema.
No primeiro cenário, o peso
da Petrobras no PIB brasileiro
subiria dos atuais 4,7% para
7,19% em 2020. Oliveira diz
que esse é o cenário "pessimista" para a estatal -já que, diante da volatilidade dos últimos
meses, não é possível estimar
precisamente em que patamar
os preços do petróleo se estabilizarão no futuro.
No cenário "otimista" para os
cofres da estatal, o preço médio
do petróleo se manteria na faixa em que está hoje: próximo a
US$ 120 por barril.
Nesse caso, a Petrobras representaria, sozinha, 11,52% do
PIB, adicionando à economia
brasileira cerca de R$ 450 bilhões a cada ano.
O cenário intermediário prevê o barril a US$ 100, em média,
com valor agregado da Petrobras de R$ 371,6 bilhões. A estatal passaria a responder por
9,6% do PIB em 2020.
Peso individual
A metodologia utilizada pelo
grupo de energia da UFRJ
-que mensura o chamado "valor agregado"- não leva em
conta o que a Petrobras "compra" de outros fornecedores,
mas apenas o que a própria estatal acrescenta à economia do
país.
Ou seja, ficam de fora os bilhões de reais em encomendas
de equipamentos e serviços que
a Petrobras contrata de centenas de empresas. Também não
está computado o próprio faturamento da estatal.
"Se levarmos em conta o valor que a Petrobras adiciona indiretamente, por meio de encomendas e compras, esse número será certamente maior. Mas
a pesquisa procura medir o peso individual da companhia",
afirma Oliveira.
Nos últimos meses, após o
anúncio da descoberta do campo de Tupi -para o qual se estima reservas de até 8 bilhões de
barris- e com os primeiros
prognósticos para toda a extensão do pré-sal -as estimativas
variam entre 70 bilhões e 300
bilhões de barris de reservas-,
diversos analistas e centros de
pesquisa passaram a estimar o
impacto disso para a estrutura
produtiva brasileira.
O temor é o aparecimento de
um fenômeno conhecido nos
meios acadêmicos como
"doença holandesa". Reflete a
dependência de toda a economia de um país à exportação de
uma única commodity -quando os preços sobem no mercado internacional, provocam valorização excessiva da moeda
nacional, enfraquecendo os outros setores produtivos e resultando em desindustrialização.
Setor privado
Para outro especialista no setor de petróleo, o geólogo Giuseppe Bacoccoli, da UFRJ, se
computadas as contribuições
das outras companhias petrolíferas que atuam no país, a participação do setor de petróleo no
PIB nacional deve aumentar
ainda mais.
"A abertura do mercado tem
apenas dez anos. Hoje, a Petrobras representa mais de 90% de
todo o setor. Mas a tendência é
de redução nesse percentual
com o incremento da participação de empresas privadas. Acho
que daqui a alguns anos chegará a cerca de 70%. Isso se não
houver mudanças nas regras do
jogo, evidentemente", diz Bacoccoli. "Nas áreas do pré-sal, a
presença de sócios privados ao
lado da Petrobras é minoritária, mas não desprezível", afirma o geólogo.
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