São Paulo, domingo, 24 de novembro de 2002

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ANO DO DRAGÃO

Alta de alimentos deixa refeição 9% mais salgada; "inflação do café" atinge 15%, com pãozinho mais caro

"Inflação do almoço" bate índices oficiais

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O brasileiro passou a conviver com uma taxa inflacionária que extrapola a divulgada pelos institutos de pesquisa. Sãos as chamadas "inflação do almoço" -composta por itens como arroz, feijão, carne e legumes-, que ultrapassou 9% em um mês, e a "inflação do café da manhã", com produtos básicos como o pãozinho, que chega a 15%.
Se a opção for por uma refeição diferenciada, com produtos elaborados, a conta fica ainda mais cara. No mesmo período, a renda do brasileiro, porém, não subiu.
A disparada no preço dos produtos consumidos nas refeições do dia acabou produzindo uma taxa que diverge de forma gritante do índice oficial -1,28% em outubro (IPC/Fipe). Nas prateleiras dos supermercados, o preço do arroz deu um salto de 9,88% num único mês, de acordo com a Fipe. O frango seguiu a mesma tendência: alta de 7,73% em outubro. Isso após outro aumento, de 8% em setembro.
O resultado é que, em outubro, numa compra de produtos para um prato simples -com arroz, feijão, carne e legumes-, o consumidor passou a pagar, no total, quase 9,1% a mais.
Esse é o prato com as opções mais baratas hoje. Se, durante a compra mensal, ele quiser variar e trocar a carne pelo frango, e os legumes pelas verduras, o valor dispara. O consumidor desembolsará 16,2% a mais.
No café da manhã, um leite com achocolatado em pó, biscoitos e pães passou a custar 15,9% além do valor pago em setembro.
As contas foram realizadas pela Folha, com base no preço dos produtos analisados pela Fipe. Nem mesmo os condimentos e óleos usados na preparação das refeições, como óleo de soja, sal e temperos, deram trégua. Pelo levantamento da Fipe é possível afirmar que grande parte dos componentes de um prato tiveram reajustes. A exceção é o feijão, no caso dos alimentos consumidos no almoço, e do leite, no café da manhã. Ambos tiveram pequenas quedas.
Dessa forma, tanto o cliente que vai à loja, quanto aquele que precisa se alimentar fora de casa, sofre o susto na hora de pagar a conta. Os restaurantes remarcaram os cardápios em São Paulo. Segundo o sindicato que representa esse setor, o reajuste médio foi de 15%, com picos de 25%, entre outubro e novembro.

País dolarizado
A remarcação também deve ser feita pelos restaurantes que servem café da manhã por preços fixos. Segundo informaram dois restaurantes, com clientela basicamente formada por executivos, o reajuste em novembro será de 10%. Hoje, o café da manhã está em R$ 4,90 nos dois locais.
Os produtos que compõem a mesa do brasileiro podem até ser fabricados aqui. Mas a cotação de seus insumos é feita lá fora.
Por exemplo: o arroz é vendido nas Bolsas dos EUA, e os vendedores brasileiros seguem as variações desse mercado. Como o real passou a valer menos, foi preciso dispensar mais reais para comprar uma saca de arroz, cotado em dólares no país. Esse custo foi repassado ao consumidor, que come arroz nacional, mas paga segundo a cotação no exterior.
O consumidor deve ficar atento porque nem todo aumento tem justificativa. Edmundo Klotz, presidente da Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação), levanta a questão. "O frango, por exemplo, não pode subir tanto. A ração tem soja, que é cotada em dólar, mas o aumento não pode ser abusivo", diz ele.

Quebra na safra
Reajustes em alguns itens também podem não ter relação com o dólar. São a quebra de safra ou a falta de produto no mercado interno que podem fazer o preço do produto se elevar.
Algumas saídas para fugir das remarcações estão descartadas. Uma delas é a possibilidade de substituir produtos mais caros pelos mais baratos. O macarrão, por exemplo, também subiu (6,95%) em outubro. Isso porque a farinha de trigo tem insumo (trigo) cotado em moeda estrangeira.
Um aumento na renda poderia compensar a forte disparada nos valores dos produtos. Mas isso não ocorreu.
Em setembro, houve recuo de 2,2% na renda do brasileiro em relação ao mesmo mês do ano passado. No confronto com agosto, a retração foi de 0,4% e, no acumulado do ano, de 3,8%. Em valores, a renda média ficou em R$ 800,29, informa o IBGE, que estuda o assunto. Para o instituto, a renda não só deixou de acompanhar a escalada da inflação como é corroída por ela.


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