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ANO DO DRAGÃO
Alta de alimentos deixa refeição 9% mais salgada; "inflação do café" atinge 15%, com pãozinho mais caro
"Inflação do almoço" bate índices oficiais
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O brasileiro passou a conviver
com uma taxa inflacionária que
extrapola a divulgada pelos institutos de pesquisa. Sãos as chamadas "inflação do almoço" -composta por itens como arroz, feijão,
carne e legumes-, que ultrapassou 9% em um mês, e a "inflação
do café da manhã", com produtos
básicos como o pãozinho, que
chega a 15%.
Se a opção for por uma refeição
diferenciada, com produtos elaborados, a conta fica ainda mais
cara. No mesmo período, a renda
do brasileiro, porém, não subiu.
A disparada no preço dos produtos consumidos nas refeições
do dia acabou produzindo uma
taxa que diverge de forma gritante
do índice oficial -1,28% em outubro (IPC/Fipe). Nas prateleiras
dos supermercados, o preço do
arroz deu um salto de 9,88% num
único mês, de acordo com a Fipe.
O frango seguiu a mesma tendência: alta de 7,73% em outubro. Isso após outro aumento, de 8% em
setembro.
O resultado é que, em outubro,
numa compra de produtos para
um prato simples -com arroz,
feijão, carne e legumes-, o consumidor passou a pagar, no total,
quase 9,1% a mais.
Esse é o prato com as opções
mais baratas hoje. Se, durante a
compra mensal, ele quiser variar e
trocar a carne pelo frango, e os legumes pelas verduras, o valor dispara. O consumidor desembolsará 16,2% a mais.
No café da manhã, um leite com
achocolatado em pó, biscoitos e
pães passou a custar 15,9% além
do valor pago em setembro.
As contas foram realizadas pela
Folha, com base no preço dos
produtos analisados pela Fipe.
Nem mesmo os condimentos e
óleos usados na preparação das
refeições, como óleo de soja, sal e
temperos, deram trégua. Pelo levantamento da Fipe é possível
afirmar que grande parte dos
componentes de um prato tiveram reajustes. A exceção é o feijão, no caso dos alimentos consumidos no almoço, e do leite, no
café da manhã. Ambos tiveram
pequenas quedas.
Dessa forma, tanto o cliente que
vai à loja, quanto aquele que precisa se alimentar fora de casa, sofre o susto na hora de pagar a conta. Os restaurantes remarcaram
os cardápios em São Paulo. Segundo o sindicato que representa
esse setor, o reajuste médio foi de
15%, com picos de 25%, entre outubro e novembro.
País dolarizado
A remarcação também deve ser
feita pelos restaurantes que servem café da manhã por preços fixos. Segundo informaram dois
restaurantes, com clientela basicamente formada por executivos,
o reajuste em novembro será de
10%. Hoje, o café da manhã está
em R$ 4,90 nos dois locais.
Os produtos que compõem a
mesa do brasileiro podem até ser
fabricados aqui. Mas a cotação de
seus insumos é feita lá fora.
Por exemplo: o arroz é vendido
nas Bolsas dos EUA, e os vendedores brasileiros seguem as variações desse mercado. Como o real
passou a valer menos, foi preciso
dispensar mais reais para comprar uma saca de arroz, cotado
em dólares no país. Esse custo foi
repassado ao consumidor, que
come arroz nacional, mas paga
segundo a cotação no exterior.
O consumidor deve ficar atento
porque nem todo aumento tem
justificativa. Edmundo Klotz, presidente da Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação), levanta a questão. "O frango, por exemplo, não pode subir
tanto. A ração tem soja, que é cotada em dólar, mas o aumento
não pode ser abusivo", diz ele.
Quebra na safra
Reajustes em alguns itens também podem não ter relação com o
dólar. São a quebra de safra ou a
falta de produto no mercado interno que podem fazer o preço do
produto se elevar.
Algumas saídas para fugir das
remarcações estão descartadas.
Uma delas é a possibilidade de
substituir produtos mais caros
pelos mais baratos. O macarrão,
por exemplo, também subiu
(6,95%) em outubro. Isso porque
a farinha de trigo tem insumo (trigo) cotado em moeda estrangeira.
Um aumento na renda poderia
compensar a forte disparada nos
valores dos produtos. Mas isso
não ocorreu.
Em setembro, houve recuo de
2,2% na renda do brasileiro em
relação ao mesmo mês do ano
passado. No confronto com agosto, a retração foi de 0,4% e, no
acumulado do ano, de 3,8%. Em
valores, a renda média ficou em
R$ 800,29, informa o IBGE, que
estuda o assunto. Para o instituto,
a renda não só deixou de acompanhar a escalada da inflação como
é corroída por ela.
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