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ANÁLISE/ECONOMIA AMERICANA
Bush, o irresponsável fiscal
DO "FINANCIAL TIMES"
Durante o governo Clinton, Alan Greenspan ganhou o apelido de "Republicano
Rubin", devido ao papel crucial
que exerceu no sentido de devolver o equilíbrio às finanças públicas, enquanto Robert Rubin foi secretário do Tesouro. Na semana
passada, o presidente do Federal
Reserve fez uma observação bem-vinda, pedindo cautela no uso de
reduções de curto prazo nos impostos para ajudar a administrar a
economia. Seu aviso foi parcial,
feito com atraso e se baseou numa
justificativa curiosa. Mas, se marcar um retorno à retidão fiscal, será altamente bem-vindo.
O argumento estranhamente
restrito que Greenspan apresentou para justificar a recomendação de cautela nos cortes de impostos (dizendo que os Estados
Unidos não possuem um sistema
adequado de planejamento orçamentário) não convenceu. A impressão que deu é que a intenção era justificar o infeliz apoio que
Greenspan expressou no ano passado ao corte tributário de US$
1,35 bilhões.
Greenspan diluiu sua mensagem, continuando a concordar
com a administração Bush em
que o corte (previsto para caducar
em 2010) deve ser instaurado como permanente. Teria sido muito
melhor se o presidente do Fed tivesse expresso uma objeção consistente e justificada ao uso de impostos e gastos para controlar a
economia e se tivesse argumentado que a política fiscal deve ser
voltada a assegurar a sustentabilidade de longo prazo.
Alvo errado
O corte nos impostos efetuado
no ano passado, apresentado como estímulo econômico, não foi
nada disso. Boa parte dele entrou
em vigor tarde demais e beneficiou os setores errados da população -ou seja, as camadas mais ricas, que tendem a poupar em lugar de gastar. O corte não vai ajudar muito a economia americana
a passar pelo que Greenspan descreve como seu "momento delicado" atual.
A redução nos impostos que está sob discussão provavelmente
teria os mesmos problemas. No
mínimo, em vista da confusão envolvendo o processo de aprovação do orçamento pelo Congresso, é provável que a primavera teria chegado antes que qualquer
redução já fosse suficientemente
certa para levar os consumidores
a reagir a ela. Até lá, poderia acabar por superaquecer a recuperação e, possivelmente, forçar uma
alta nos juros de longo prazo, na
medida em que levantaria temores quanto à solvência fiscal futura, em lugar de ajudar a combater
um desaquecimento.
Superávit vira déficit
Com o orçamento já entrando
no déficit de maneira preocupante, as receitas diminuíram muito
mais rapidamente do que a desaceleração da economia justificaria, em tempos normais. Logo, esta não é uma boa hora para começar a colocar em risco a posição
fiscal de longo prazo dos EUA.
Permitir a operação de estabilizadores automáticos (como deveriam fazer os EUA e, na realidade,
também a Europa) é algo inteiramente diferente: uma parte pouco
notada do sistema americano é
formado pelas regras de equilíbrio orçamentário aplicadas aos
Estados. Nessa área o governo federal poderia ajudar, de maneira
apropriada e responsável, mas
provavelmente não o fará, aumentando temporariamente os
fundos correspondentes que repassa aos Estados para gastar com
saúde, educação etc.
A gestão macroeconômica, exceto sob circunstâncias evidentemente deflacionárias, é uma questão que deve ser feita pelos banqueiros centrais e as taxas de juros, não por políticos e cortes nos
impostos. Embora o estado da
economia americana seja motivo
de preocupação séria, há poucos
indícios de que a política monetária tenha deixado de funcionar.
Não há nada que justifique jogar
fora os ganhos arduamente conquistados em retidão fiscal em
troca de um incentivo aos gastos
dos consumidores, mesmo porque este pode não ser o momento
apropriado para dar esse incentivo. O governo deveria dar ouvidos ao aviso atrasado de Alan
Greenspan.
Tradução de Clara Allain
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