|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SEM-TERRA
Com escassez de áreas cultiváveis e consumo crescente, asiáticos querem produzir sua soja em território brasileiro
China planeja compra de fazendas no Brasil
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
Com demanda crescente por
soja e carência de terras agricultáveis, a China pretende estender
sua produção ao Brasil, com a
compra de terras para a plantação
da commodity. Pelo menos uma
grande estatal chinesa, a CGOG
(China Grains & Oils Group), está
em busca de um parceiro brasileiro disposto a desenvolver um
projeto conjunto para produzir
soja e exportá-la à China. Caso
não encontre o sócio, é bastante
provável que a empresa compre
terras sozinha no Brasil.
A China é o maior importador
de soja do mundo e adquiriu no
ano passado US$ 4,2 bilhões do
produto. O país asiático foi o terceiro maior destino das exportações brasileiras de agronegócios,
com US$ 2,26 bilhões, sendo a
maior parte soja e óleo de soja.
O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Amauri
Dimarzio, confirmou que os chineses têm interesse em realizar investimentos diretos no Brasil, associando-se, por exemplo, a empresários de agronegócios para a
produção de alimentos.
O investimento no Brasil seria
realizado por meio de uma das 18
subsidiárias da CGOG, a CGOG
International Economic & Trading Co. Luan Yingjian, gerente
da estatal responsável pela operação, diz que pretende estabelecer
negociações diretas com três
companhias brasileiras: Maggi,
Caramuru e Coamo, todas grandes processadoras e exportadoras
de soja. Outra possibilidade, segundo ele, é a associação com
cooperativas de produtores.
Preço menor
O objetivo chinês é ter a garantia
do fornecimento de soja a um
preço mais competitivo que o
atual. A exportação do produto
brasileiro é controlada por quatro
grandes tradings multinacionais
do setor agrícola. "Os produtores
brasileiros vendem a soja para
grandes empresas americanas e,
em muitos casos, elas revendem o
produto para a China. É do interesse dos brasileiros negociar diretamente com a China", diz.
Na avaliação da CGOG, a produção de soja no Brasil terá o efeito de reduzir o preço de importação do produto. "Quanto mais
envolvida a empresa estiver na cadeia produtiva, mais competitiva
ela será, porque cortará custos de
intermediação", diz Luan. Além
de satisfazer o apetite chinês por
soja, o investimento no Brasil ajudaria a CGOG a cumprir as diretrizes que o governo fixou para
suas estatais: tornarem-se empresas competitivas, com ações no
mercado e atuação internacional.
Por isso, o sócio que a empresa
procura no Brasil deve estar disposto a ser acionista minoritário
da estatal na China.
O governo chinês vê a abertura
de capital das empresas como caminho para forçá-las a adotar
práticas de mercado e a serem
transparentes, já que teoricamente terão de cumprir regras contábeis com padrão internacional.
Luan afirma que não há estimativa de quanto a empresa compraria de terras no Brasil nem do valor que investiria. "Começamos a
desenvolver esse projeto em fevereiro, e tudo vai depender do parceiro que pretendemos encontrar.
Mas posso dizer que a quantidade
de terra será razoável, para justificar o investimento", afirma. Em
junho, uma missão da estatal deverá visitar o país para conhecer
de perto a produção local.
A CGOG é uma das três grandes
estatais chinesas no setor agrícola
e atua no comércio de produtos e
na produção de óleo de soja, com
fábricas próprias. A empresa tem
capacidade para estocar 3 milhões
de toneladas de grãos e registrou
receita de vendas de US$ 1,3 bilhão no ano passado.
A garantia do suprimento de
alimentos é considerada uma
questão estratégica pela China,
que concentra um quinto da população mundial, mas tem só 7%
da terra agricultável do planeta.
Nesse sentido, o Brasil é visto
como um parceiro estratégico. "O
Brasil tem recursos naturais, muita terra não cultivada e clima favorável à soja", observa Luan.
Colaborou a Redação
Texto Anterior: Papéis expõem bastidores do negócio Próximo Texto: EUA e Rússia têm interesse Índice
|