|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PRESSÃO DE FORA
Choque de preços externos eleva IPCA no 1º trimestre e deve dificultar cumprimento do centro da meta de inflação
Alta das commodities ameaça tarefa do BC
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O choque dos aumentos de preços das commodities (produtos
cotados em dólar no mercado externo) causou estrago na inflação
ao consumidor no primeiro trimestre e tornará mais difícil a tarefa do Banco Central de cumprir
o centro da meta (5,5%) em 2004.
Segundo dados levantados pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a pedido da
Folha, as altas de preços de produtos diretamente influenciados
por commodities tiveram um impacto de 0,42 ponto percentual no
IPCA acumulado de 1,85% nos
três primeiros meses de 2004.
A variação desses itens -que
vão de óleo de soja a automóveis- foi maior do que a do IPCA: 4% no ano.
Para o economista do Grupo de
Conjuntura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Carlos Thadeu de Freitas Filho, "o
longo e extenso" choque das commodities, que se iniciou no começo do ano, impedirá o cumprimento do centro da meta -há
um intervalo de tolerância de 2,5
pontos para cima ou para baixo.
A inflação de 2004, prevê, deve ficar entre 6% e 6,5%.
"O BC pode começar a mirar
numa inflação maior, considerando que a alta das commodities
está durando mais do que se esperava, embora não seja um movimento que atinja de modo generalizado os preços ao consumidor", disse. Mas ele afirma que os
repasses do atacado para o varejo
"estão contidos", o que permite
ao BC manter a política, ainda que
gradual, de redução dos juros.
Neste mês, não fosse a pressão
dos preços internacionais, o BC
poderia ter cortado o juro em 0,5
ponto percentual -mais do que
o 0,25 ponto definido-, avalia o
economista Ricardo Denadai, da
consultoria LCA.
"Por causa das commodities, a
previsão de uma inflação de 1,5%
no primeiro trimestre não se confirmou", diz o economista Alexandre Sant'Anna, da administradora de recursos ARX Capital. Ele
prevê IPCA de 6,3% neste ano.
Apesar de esperarem uma inflação maior do que o centro da meta, os especialistas ouvidos concordam que os repasses para o varejo não são expressivos e que há
espaço para o corte de juros.
Sant'Anna ressalta que tal constatação foi feita pelo próprio BC
na ata da reunião deste mês. No
documento, a autoridade monetária afirma que "deve-se observar que a magnitude e o ritmo de
repasses das altas dos preços industriais no atacado para os preços ao consumidor têm se mostrado dentro do esperado".
De acordo com Denadai, a ata
revela que o BC irá reduzir mais
lentamente os juros do que se previa no final de 2003. Manterá o
corte de 0,25 ponto ao mês -hoje, a Selic está em 16% ao ano. Ele
afirma que um dos principais motivos para a queda suave é a pressão das commodities.
Repasse monitorado
Para Freitas Filho, a política monetária nada pode fazer para conter os aumentos das commodities, já que os repasses não estão
elevados. "O BC não tem culpa
dos preços lá fora estarem subindo. O que ele tem de fazer -e está
fazendo- é monitorar o nível de
repasses, que, por ora, está baixo", disse Freitas Filho.
Na avaliação de Salomão Quadros, coordenador de análises
econômicas da FGV (Fundação
Getúlio Vargas), que pesquisa a
variação dos preços no atacado,
os aumentos estão concentrados
em poucos produtos que têm um
peso grande na inflação.
Para Quadros, não há um quadro de elevação generalizada das
commodities a ponto de se espalhar pelos preços ao consumidor.
Muitas delas, diz, já até desaceleram -é o caso de celulose, trigo e
alguns tipos de metais.
"É um movimento que está ficando cada vez mais localizado,
mas, ao menos tempo, mais agudo, com altas maiores e persistentes." Na lista de produtos cujos
aumentos resistem em ceder estão a soja e aço.
Texto Anterior: Declaração: IR poderá congestionar internet na sexta Próximo Texto: Repasse ainda não chega ao varejo Índice
|