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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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JANELA DA EXCLUSÃO

Mulheres realizam serviço doméstico sem vínculo formal com patrões

Três exemplos de falta de opção

Eduardo Knapp/ Folha Imagem
As domésticas Gomes, Honorato e Oliveira sonho de carteira assinada ainda é distante


MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Vera Lúcia Peres Gomes, 39, Creusa Cândido de Oliveira, 59, Eleni de Deus Honorato, 31. Três exemplos de mulheres que, sem opção de outro emprego, passaram a realizar serviço doméstico -em especial na última década- sem vínculo formal com seus empregadores.
A história de Gomes é emblemática. Em 92, foi demitida de seu emprego em uma cerâmica. A partir de então, trabalhou como empregada doméstica em diversas residências, muitas vezes sem carteira assinada.
Sua última colocação foi em uma casa em Osasco (Grande São Paulo), onde ficou de setembro de 2002 até dia 4 deste mês, quando sua empregadora teria alegado "falência" e dito que não poderia mais pagá-la. Sem salário, Gomes não foi mais trabalhar e está desempregada.
"Trabalhava sem registro neste último emprego. Agora estou tentando ir atrás dos meus direitos", declarou.
Oliveira, nascida no interior de São Paulo, demorou mais tempo para tomar essa decisão: segundo ela, ficou sete meses sem receber -seu salário era de R$ 350 por mês- antes de sair da casa onde trabalhava. Ela conta que, depois que o marido morreu, há 17 anos, começou a procurar emprego: "Consegui trabalhar como doméstica, já que quando eu morava no interior trabalhava nessa função. Mas nunca fui registrada".
Essa falta de uma formalização da relação de trabalho entre patrões e empregadas domésticas, em um contexto de desemprego crescente, favorece situações em que uma série de abusos são cometidos.
Um caso é o de Honorato, que trabalhou por oito anos em uma casa na região do bairro Ermelino Matarazzo (zona leste da capital). Ela alega que foi mandada embora há poucos dias, sem receber nada, após faltar no trabalho para levar o filho de dez anos ao médico. "Apesar de tanto tempo de trabalho, minha patroa me disse que eu não tinha direito a receber nada, já que eu não tinha carteira assinada."

Menor e doméstica
O emprego de menores em trabalho doméstico não acontece apenas em regiões longínquas do país. C.A.A., 22, trabalha desde os 14 anos de idade -quando parou de estudar para ajudar a mãe a pagar as contas e "poder comprar as minhas coisas"- como empregada doméstica.
Há um ano e nove meses, A., que pediu para não ser identificada temendo ser demitida pelos patrões- trabalha de segunda-feira a sábado em uma casa na zona sul da capital. Ganha R$ 360 mensais e não tem direitos trabalhistas.
Como a maioria das mulheres que realizam serviço doméstico no país, ela demonstra desilusão em relação ao tipo de trabalho que desenvolve.
"Comecei a trabalhar porque queria ter minhas coisas e também ajudar minha mãe. Mas se pudesse voltar atrás não escolheria ser doméstica, porque já percebi que não tem como sair dessa profissão depois. Quem é doméstica faz isso toda a vida", afirmou C.A.A.

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