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Teixeira visitou Lula após contestações sobre VarigLog
Visitas ocorreram no período em que as empresas aéreas questionavam venda
"Que o Roberto Teixeira atuou na venda da Varig, isso é público e notório. O que precisa ser investigado é o capital", diz Bernardo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Três das quatro visitas que o
advogado Roberto Teixeira
descreveu como "cordiais" ao
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, seu compadre, no Palácio
do Planalto, aconteceram no
período em que as empresas
aéreas questionavam a venda
da VarigLog para o fundo norte-americano Matlin Patterson
e três sócios brasileiros. Acusado de influir no negócio, Teixeira advogava para a companhia
de carga.
Essas quatro visitas, reveladas ontem pela Folha, não
constavam da agenda pública
do presidente e até então não
eram conhecidas. Teixeira esteve outras duas vezes com Lula, em encontros também não
divulgados pelo Palácio do Planalto, mas que se tornaram públicos em razão de flagrantes
fotográficos.
A venda da VarigLog, aprovada pela Anac (Agência Nacional
de Aviação Civil) em 22 de junho de 2006, foi posta sob suspeita pelo Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aéreas),
que recorreu à própria agência
e ao Ministério Público Federal. O sindicato alegou que o
fundo norte-americano possuía o real controle da companhia, o que fere as leis brasileiras. Naquela ocasião, a VarigLog já havia comprado a Varig
por US$ 24 milhões.
A primeira das visitas de cortesia de Teixeira a Lula aconteceu em 22 de agosto de 2006.
Nesse momento, além de rebater os questionamentos à lisura
do negócio, Teixeira tinha outra missão: conseguir da Anac o
certificado que daria à Varig
autorização para voar.
O certificado acabou saindo
em 14 de dezembro e foi comemorado no dia seguinte com
uma visita de Teixeira e dos sócios da VarigLog ao gabinete
presidencial. A divulgação de
uma foto do grupo com o presidente, com dedicatória de Lula
a Marco Antonio Audi (um dos
sócios brasileiros), deu publicidade ao encontro.
Visitas em 2007
A segunda e a terceira visitas
só agora conhecidas aconteceram em 2 de janeiro e 16 de fevereiro de 2007. Nesse período,
a Anac aguardava respostas do
Banco Central e da Receita Federal sobre a origem do capital
dos sócios da VarigLog. Os documentos foram pedidos pela
diretoria da agência, atendendo
ao recurso do Snea.
A papelada não chegou a ser
analisada. Segundo a atual diretoria da Anac, as respostas nem
sequer constam do processo
aberto na agência para analisar
a operação financeira.
Em 28 março deste ano, sem
obstáculos, a Varig foi vendida
para a Gol por US$ 320 milhões. Nesse dia, Teixeira esteve de novo com o presidente
Lula no Planalto. O encontro ficou conhecido porque, de novo,
o advogado foi fotografado,
dessa vez no elevador ao lado
de Nenê Constantino e de
Constantino Jr., donos da Gol.
Teixeira foi contratado, segundo Audi, "para resolver" os
problemas sobre a origem do
capital da empresa. Audi diz
que a influência do advogado
no governo foi decisiva para a
concretização do negócio.
Procurado pela Folha, Teixeira, por meio de sua assessoria de imprensa, reiterou as declarações de que nunca houve
nenhum tipo de ingerência
pessoal ou de seu escritório.
O ministro Paulo Bernardo
(Planejamento) minimizou ontem a revelação das visitas não
divulgadas de Teixeira a Lula.
"Que o Roberto Teixeira
atuou na venda da Varig, isso é
público e notório. O que precisa ser investigado é o capital,
que tem mais dinheiro estrangeiro do que brasileiro", disse
Paulo Bernardo.
(ALAN GRIPP e LETÍCIA SANDER)
Colaborou GABRIELA GUERREIRO ,
da Folha Online, em Brasília
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