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ARTIGO
FMI, 60, deve se fixar na prevenção de crises
WILLIAM RHODES
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"
O 60º aniversário de fundação
do Fundo Monetário Internacional, em Bretton Woods, na
quinta passada, é uma boa ocasião para rever o papel da instituição até o momento e, à luz da mudança na liderança do Fundo, um
mês atrás, fazer algumas recomendações quanto ao seu futuro.
Há cinco áreas em que o FMI
deveria concentrar seus esforços.
Primeiro, a prevenção de crises;
segundo, trabalhar em contato
mais estreito com o setor privado;
terceiro, reforçar sua credibilidade, algo que exige cuidadoso balanceamento de seu papel como
credor e como árbitro; quarto, aumentar a transparência; e, por
fim, a sustentação dos princípios
declarados da instituição.
Durante os últimos 60 anos, o
papel do FMI evoluiu de maneira
a refletir as alterações no ambiente mundial em que a instituição
opera. Ao manter sua função fundamental como guardião do sistema financeiro internacional, o
FMI deveria continuar a apoiar
políticas de ajuste e reformas significativas que atendam aos elevados padrões desenvolvidos ao
longo das décadas e conservar seu
papel como agente de estímulo ao
financiamento privado, para garantir que os países tenham acesso aos recursos de que precisam
para crescer.
A experiência demonstrou que
a combinação correta de políticas
e financiamento é capaz de reduzir os riscos de crédito, restaurar a
confiança dos investidores e agir
como facilitadora para operações
privadas de financiamento.
Um ingrediente essencial para
restaurar o influxo de capitais privados em um país e colocá-lo de
volta no rumo do acesso ao mercado é convencer os credores privados da viabilidade dos programas de ajuste e reforma. O FMI
deveria reforçar seus esforços para garantir que seus programas
sejam rigorosos o bastante e reflitam as perspectivas de mercado.
Continuam a existir aqueles que
se preocupam quanto à questão
do risco moral, mas, ao longo dos
anos, o ponto perdeu a importância, à medida que o setor privado
começou a aceitar perdas maiores
-reduções no valor de seus ativos a receber em processos de
reestruturação- para permitir o
refinanciamento de dívidas.
No Brasil, em 2002, foi necessário mais que a aprovação de um
programa do FMI para acalmar as
incertezas dos investidores quanto ao futuro econômico e político
do governo Lula. A consulta do
governo Lula aos mercados, o
acordo dos bancos quanto à manutenção das linhas de crédito comerciais e interbancárias e o compromisso do novo governo quanto a manter políticas macroeconômicas sensíveis é que ajudaram
a restaurar os influxos privados.
Esse caso pode ser contrastado
com a situação do Brasil quatro
anos antes, quando o programa
de apoio do FMI não recebeu
apoio inicial no mercado devido à
sua adesão a um mecanismo insustentável de âncora cambial.
O FMI precisa enfatizar mais a
prevenção de crises, por meio do
reforço dos processos de consulta
no artigo 4 (exames periódicos de
saúde econômica), elevar a transparência e trabalhar em estreito
contato com o setor privado.
Outra questão importante para
o Fundo gira em torno de manter
sua credibilidade como âncora do
sistema financeiro mundial, subordinando seus interesses especiais como credor, especialmente
em circunstâncias que envolvam
grande exposição do FMI. No fim
de 2003, a exposição aos seus três
maiores devedores, Brasil, Turquia e Argentina, representava
mais da metade da exposição das
instituições financeiras internacionais a esses três países.
O setor privado recentemente
expressou preocupação quanto à
possibilidade de que os programas de reforma apoiados pelo
Fundo não tenham sido fortes o
bastante para que os países envolvidos atingissem seus objetivos
em termos de balanço de pagamentos e sustentabilidade da dívida. Os credores privados também questionaram a credibilidade do FMI quanto à manutenção
de suas próprias normas.
William Rhodes é presidente
do conselho do Citicorp e do Citibank
e vice-presidente sênior do conselho
do Citigroup.
Tradução de Paulo Migliacci
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