São Paulo, domingo, 25 de julho de 2004

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ARTIGO

FMI, 60, deve se fixar na prevenção de crises

WILLIAM RHODES
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"

O 60º aniversário de fundação do Fundo Monetário Internacional, em Bretton Woods, na quinta passada, é uma boa ocasião para rever o papel da instituição até o momento e, à luz da mudança na liderança do Fundo, um mês atrás, fazer algumas recomendações quanto ao seu futuro.
Há cinco áreas em que o FMI deveria concentrar seus esforços. Primeiro, a prevenção de crises; segundo, trabalhar em contato mais estreito com o setor privado; terceiro, reforçar sua credibilidade, algo que exige cuidadoso balanceamento de seu papel como credor e como árbitro; quarto, aumentar a transparência; e, por fim, a sustentação dos princípios declarados da instituição.
Durante os últimos 60 anos, o papel do FMI evoluiu de maneira a refletir as alterações no ambiente mundial em que a instituição opera. Ao manter sua função fundamental como guardião do sistema financeiro internacional, o FMI deveria continuar a apoiar políticas de ajuste e reformas significativas que atendam aos elevados padrões desenvolvidos ao longo das décadas e conservar seu papel como agente de estímulo ao financiamento privado, para garantir que os países tenham acesso aos recursos de que precisam para crescer.
A experiência demonstrou que a combinação correta de políticas e financiamento é capaz de reduzir os riscos de crédito, restaurar a confiança dos investidores e agir como facilitadora para operações privadas de financiamento.
Um ingrediente essencial para restaurar o influxo de capitais privados em um país e colocá-lo de volta no rumo do acesso ao mercado é convencer os credores privados da viabilidade dos programas de ajuste e reforma. O FMI deveria reforçar seus esforços para garantir que seus programas sejam rigorosos o bastante e reflitam as perspectivas de mercado.
Continuam a existir aqueles que se preocupam quanto à questão do risco moral, mas, ao longo dos anos, o ponto perdeu a importância, à medida que o setor privado começou a aceitar perdas maiores -reduções no valor de seus ativos a receber em processos de reestruturação- para permitir o refinanciamento de dívidas.
No Brasil, em 2002, foi necessário mais que a aprovação de um programa do FMI para acalmar as incertezas dos investidores quanto ao futuro econômico e político do governo Lula. A consulta do governo Lula aos mercados, o acordo dos bancos quanto à manutenção das linhas de crédito comerciais e interbancárias e o compromisso do novo governo quanto a manter políticas macroeconômicas sensíveis é que ajudaram a restaurar os influxos privados. Esse caso pode ser contrastado com a situação do Brasil quatro anos antes, quando o programa de apoio do FMI não recebeu apoio inicial no mercado devido à sua adesão a um mecanismo insustentável de âncora cambial.
O FMI precisa enfatizar mais a prevenção de crises, por meio do reforço dos processos de consulta no artigo 4 (exames periódicos de saúde econômica), elevar a transparência e trabalhar em estreito contato com o setor privado.
Outra questão importante para o Fundo gira em torno de manter sua credibilidade como âncora do sistema financeiro mundial, subordinando seus interesses especiais como credor, especialmente em circunstâncias que envolvam grande exposição do FMI. No fim de 2003, a exposição aos seus três maiores devedores, Brasil, Turquia e Argentina, representava mais da metade da exposição das instituições financeiras internacionais a esses três países.
O setor privado recentemente expressou preocupação quanto à possibilidade de que os programas de reforma apoiados pelo Fundo não tenham sido fortes o bastante para que os países envolvidos atingissem seus objetivos em termos de balanço de pagamentos e sustentabilidade da dívida. Os credores privados também questionaram a credibilidade do FMI quanto à manutenção de suas próprias normas.


William Rhodes é presidente do conselho do Citicorp e do Citibank e vice-presidente sênior do conselho do Citigroup.

Tradução de Paulo Migliacci


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