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OTIMISMO
Para ex-diretor do BC, país pode crescer 5%
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia pode crescer em
vôo de cruzeiro a 3%, 4%, 5% ao
ano ou mais se o governo fizer as
reformas microeconômicas e melhorar a infra-estrutura. A opinião é de Luiz Fernando Figueiredo, diretor de Política Monetária
do BC no governo FHC. "O nome
do jogo é crescimento e, se ele
continuar, então podemos dizer
que os ativos brasileiros estão baratos hoje", diz. "Há oportunidade para investimento tanto financeiro como produtivo."
Figueiredo, com o ex-presidente do BC Armínio Fraga, é sócio-fundador da Gávea Investimentos, empresa de gestão de recursos que administra um "global
fund", destinado a investidores
internacionais, e um fundo local,
que aplica em papéis brasileiros
(ações e títulos de renda fixa). A
Gávea completará dois anos no
próximo mês e administra quase
US$ 1 bilhão em recursos de terceiros. Leia trechos da entrevista:
Folha - Cai o desemprego, a renda
do assalariado mostra recuperação
e aumenta a confiança dos empresários. Qual o fôlego da melhora?
Luiz Fernando Figueiredo - Estamos passando por um processo
de recuperação da economia, que
vinha andando muito pouco nos
últimos anos. Esse processo tem
se mostrado mais intenso do que
parecia no início do ano, e temos
várias razões para crer que se trata
de um processo mais duradouro.
Folha - Isso não pode ser mais
uma "bolha"?
Figueiredo - O Brasil está numa
situação muito melhor, no que diz
respeito aos fundamentos da economia, do que no passado recente. A nossa fragilidade externa diminuiu: as contas externas têm
mostrado uma robustez muito
grande, o que nos permite dizer
que esse crescimento é mais robusto. O segundo aspecto é que
vemos uma aumento do crédito
na economia. O volume de crédito no país corresponde a 25% do
PIB (Produto Interno Bruto), enquanto nos demais países emergentes é de 70% a 80% do PIB.
Folha - E do ponto de vista interno, a inflação voltou a preocupar?
Figueiredo - Com os choques
que tivemos em 2001, em 2002 e
em 2003, tínhamos de trazer a inflação para um nível mais adequado e sustentável no longo prazo.
Esse processo não se encerrou,
mas andamos muito nele. A tendência, daqui para a frente, é que a
política monetária não seja tão
dura como foi.
Folha - Os juros em 16% ao ano
não inibem os investimentos?
Figueiredo - Dizer que taxa de
juros é determinante para o investimento é superestimar o efeito
dos juros. Há uma série de coisas
a serem feitas para estimular investimentos, isso não depende só
do BC. Se o governo fizer uma reforma trabalhista razoável, por
exemplo, a importância do juro
cai. Hoje se dá uma importância
maior ao juro do que ele tem para
o investimento. Tanto que o investimento, que foi muito baixo
nos últimos anos, está crescendo.
Folha - Quanto aumentou a taxa
de investimento na economia?
Figueiredo - Os últimos dados
mostram que hoje a formação
bruta de capital [taxa de investimento] está rodando em 20% do
PIB. Entre 2000 e 2002, estava em
torno de 18%. O aumento do investimento é natural quando a
economia cresce. Também ajuda
o crescimento do Brasil o fato de o
mundo estar crescendo 4% neste
ano e dever crescer 3,5% em 2005.
Em poucos momentos da história
tivemos crescimento mundial tão
robusto. Temos várias indicações
de que o crescimento do país tende a ser de médio e longo prazo.
Folha - O que poderá atrapalhar o
crescimento?
Figueiredo - Para termos um risco baixo de que esse crescimento
diminua lá na frente, temos de
continuar as reformas microeconômicas, impulsionar o crédito,
melhorar a infra-estrutura para
superar gargalos na produção e
na distribuição.
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