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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Universidade organiza luta contra a globalização
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
Entre um Fórum Social
Mundial e outro, num momento em que não há conferências econômicas internacionais
decisivas, os militantes da luta
contra a globalização neoliberal
dedicam-se aos estudos. Começou na sexta-feira, Em Arles, na
França, a Universidade de Verão 2002, organizada pela Attac
(Associação pela Tributação de
Transações Financeiras Especulativas para Ajudar os Cidadãos). O programa de estudos
oferecido a 800 participantes está no website do movimento
(http://attac.org/france/).
A Attac, criada em 1998, não se
limita à defesa do imposto Tobin (tributo sobre operações financeiras de curtíssimo prazo
que inibiria a especulação e ao
mesmo tempo subsidiaria um
fundo de ajuda aos países mais
pobres). Os temas que aparecem
na jornada de cinco dias mostram que o encontro, realizado
pela terceira vez, tornou-se uma
espécie de roteiro para a construção de uma agenda completa
de denúncia ao neoliberalismo.
A criação de um imposto global ainda é crucial e passa pela
crítica ao FMI e ao Banco Mundial, que seriam apenas instrumentos a serviço dos interesses
do G-7. Somente instituições autenticamente globais poderiam
gerenciar um imposto como o
imaginado por Tobin e adotado
como bandeira pela Attac.
As outras bandeiras seguem o
mesmo tom: não chegam a ser
revolucionárias, apesar da retórica dura, mas terminam por sugerir adaptações práticas ao capitalismo realmente existente.
As multinacionais, por exemplo, podem e devem continuar
existindo. A novidade está nos
movimentos cada vez mais numerosos de "responsabilidade
social empresarial".
Para a Attac, a mobilização
dos cidadãos poderá levar ao
disciplinamento das grandes
corporações globais, que enfim
passariam para o lado do bem
(aliando-se aos críticos do neoliberalismo e contribuindo para o
desenvolvimento econômico
ambientalmente correto).
Outra frente de batalha é a reação à onda cada vez mais intensa
de defesa dos direitos de propriedade intelectual, movimento neoliberal que os professores
da universidade de verão definem como "protecionismo do
conhecimento" praticado pelos
países mais ricos e pelas empresas multinacionais.
O quadro da reação ao neoliberalismo amplia-se com a busca de estratégias de defesa dos
serviços públicos contra a privatização, a crítica à prostituição e
à pornografia, a valorização dos
territórios como pólos de resistência à globalização e, de modo
geral, com várias modalidades
de recusa à transformação de tudo em mercadoria.
Um destaque é dado ao papel
dos grandes grupos de mídia como "atores da ordem neoliberal", vistos como protagonistas
econômicos e também como
instrumentos a serviço da apologia do mercado e da invasão
publicitária. Um contraponto é
a criação de uma internet cidadã, tema de um dos grupos de
estudo deste final de semana.
As ameaças à natureza e ao
planeta completam o ideário antiglobal, principalmente a crítica
à expansão de cultivares geneticamente alterados e à mercantilização da água.
Segundo o jornal "Le Monde",
30 mil pessoas já aderiram à Attac, que prepara novas ofensivas
reformistas a partir de outubro.
Bate-papo
Prossegue amanhã, às 17h, o
ciclo de bate-papos no UOL sobre tendências da economia do
conhecimento, promovido pela
coluna "Inteligências" da Folha
Online. O convidado é Walter
Barelli, ex-secretário estadual de
Emprego e Relações do Trabalho de São Paulo.
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