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Mercado é para 17 milhões, mas atende a 207 mil
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O sistema de microcrédito atende no Brasil estimadas 77 mil pessoas via ONGs (organizações não-governamentais) e outras 130 mil
por meio de bancos e programas
oficiais. Contigente quase irrisório se considerado que há no país
um universo potencial de 13 milhões de clientes, apenas no mercado informal, e outra parcela de
4,4 milhões de micro e pequenas
empresas que, segundo o Sebrae,
não têm acesso a crédito.
Já diminuto, o microcrédito está
praticamente vetado a novos empreendedores. Grande parte das
linhas de crédito oferecidas por
órgãos oficiais ou via entidades
privadas exigem do candidato o
mínimo de seis meses de experiência no ramo de atividade.
As cerca de 110 ONGs, governos, mais os bancos oficiais, como
o BNB (Banco do Nordeste), oferecem empréstimos entre R$ 100
e R$ 10 mil -em sua esmagadora
maioria, as operações não ultrapassam a média de R$ 1.200.
Como as linhas de crédito são
estabelecidas a partir de financiamentos repassados por organismos como o BID e o BNDES, no
caso de algumas entidades, ou de
recursos dos cofres municipais e
estaduais, além de doações de
particulares, os juros representam
a metade dos cobrados pelos bancos - são juros médios de 3,9% a
4,6% ao mês, contra os 8% de empréstimos para pessoas físicas nos
bancos tradicionais.
Na cidade de São Paulo, a prefeitura estabeleceu um programa
de linhas de crédito com mínimo
de 0,48% de juros ao mês (este,
para participantes de projeto de
renda mínima e com financiamento limitado a R$ 1.500).
Por sua vez, o governo do Estado, instituiu o chamado ""Banco
do Povo", que empresta entre R$
200 e R$ 25 mil (o valor médio dos
contratos até julho fora de R$
1.250) com juros de 1% ao mês.
Nos dois casos, apenas agora
começam a ser testados programas para novos empreendedores.
O ""Banco do Povo" estadual decidiu submeter os candidatos novatos a um curso com normas de
gerenciamento de negócios, antes
de avaliar a concessão de eventual
crédito. De cada dez candidatos,
seis desistem de montar negócio
próprio, ao final do curso. ""Na
maioria das vezes, quem se propõe a abrir um empreendimento
não tem nenhuma noção sobre
cálculo de custos e administração.
Resultado: os novos negócios têm
uma mortandade muito grande",
diz José Roberto Generoso, presidente do banco. ""Depois de seis
meses atuando, o indivíduo alcançou alguma estabilidade, daí
ser um prazo mínimo para avaliação de empréstimo", completa.
Segundo o último levantamento
sobre empresas, realizado pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 1997 a taxa
de mortalidade de empreendimentos (novos ou estabelecidos)
fora de 24% em relação aos existentes no ano anterior. E a de natalidade -criação de novas empresas- foi de 30,7%. Assim, no
período houve aumento líquido
de 6,7 pontos percentuais no número de novas empresas. Mas esses dados se referem apenas ao
mercado formal. Não há estatísticas oficiais sobre o nível de ""mortalidade" em negócios informais
ou de trabalhadores que são obrigados a abandonar a atividade.
Maior operador oficial de microcrédito, o BNB iniciou seu programa em 1998. Até julho, sua carteira ativa somava 104 mil clientes, com contratos que totalizavam R$ 56,9 milhões. Os programas atendem somente pessoas
que tenham atividade anteriormente estabelecida -também
pelo prazo mínimo de seis meses.
Em quatro anos, foram fechadas 777 mil operações, no total R$
583,8 milhões. De acordo com
pesquisa do banco, em 1998, ano
em que o programa foi iniciado,
84% dos clientes eram pessoas
que não tinham acesso ao sistema
financeiro tradicional. E apenas
12% mantinham acesso a algum
tipo de crédito por meio de fornecedores ou agiotas.
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